27.12.07
Falou outra vez comigo.
Falou no sofrimento das classes que trabalham
(Não do das pessoas que sofrem, que é afinal quem sofre).
Falou da injustiça de uns terem dinheiro,
E de outros terem fome, que não sei se é fome de comer
Ou se é fome da sobremesa alheia.
Falou de tudo quanto pudesse fazê-lo zangar-se.
Que feliz deve ser quem pode pensar na infelicidade dos outros!
Que estúpido se não sabe que a infelicidade dos outros é deles,
E não se cura de fora,
Porque sofrer não é ter falta de tinta
Ou o caixote não ter aros de ferro!
Haver injustiça é como haver morte.
Eu nunca daria um passo para alterar
Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.
Mil passos que desse para isso
Eram só mil passos.
Aceito a injustiça como aceito uma pedra não ser redonda,
E um sobreiro não ter nascido pinheiro ou carvalho.
Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais.
Para qual fui injusto - eu, que as vou comer a ambas?
(Fernando Pessoa. Poesia completa de Alberto Caeiro. Companhia do Bolso, 2006, p. 129)
20.12.07
Eu X Eu X Eu
E apenas uma deve ser dominante, restando às outras o esgueirar-se pelas ruelas mal iluminadas da psiquê, esperando o momento oportuno para pôr em xeque a "proposta" dominante. A personalidade é uma guerra. Uma guerra de posições diferenciadas, emergidas numa dada situação e em formação constante, com momentos de trégua, situações de aliança, as quais nada podem fazer contra a lógica do "sistema": apenas um pode dominar a superfície. Os indivíduos mais inconstantes, mais vacilantes, mais claudicantes - mais "fraquinhos" -, são os viventes de crises de "personalidade": não tem certeza das próprias sensações, das próprias morais, das próprias vontades, no fim das contas, das próprias decisões.
Há momentos da vida nos quais não se pode pensar muito, a resposta deve ser rápida e a decisão, mantida até segunda ordem. Senão, as conseqüências geradas pela inconsistência e pela indecisão são as mais danosas, as mais insuportáveis. Uma decisão, quando anconrada numa decisão firme, numa moral específica, deve ser mantida até segunda ordem, carregando todos os possíveis empecilhos como adereços da fantasia. Os adereços pesam, podem machucar, mas sem eles a fantasia não é tão bela. A escolha pela beleza pode chegar a ser, mesmo, uma escolha pela "insanidade". Mas a "insanidade" pode ser a racionalidade de quem vê a mesma coisa por outro ângulo ou, até, de quem descobre alguma coisa... nova.
17.12.07
Um dia a mais ou um dia a menos?
Terminadas as atividades, riu um pouco com os colegas e dirigiu-se, junto aos mesmos, para um bar próximo. Já um pouco bêbado, voltou para casa, onde encontrou mulher, filha e mesa posta. Comeu, discutiu mais um pouco com a mulher pelos gastos no bar, se re-entendeu com ela na cama e, depois de um leve sorriso no escuro, sentiu como a vida é boa. Nem mais se lembrava do amanhã, que seria o mesmo dia de ontem.
14.12.07
O que a globo não fala sobre a reforma constitucional venezuelana
3.12.07
29.11.07
Duvido mesmo?
Arrogante arrogante arrogante
Nos achamos como Jesus na cruz: "Eles não sabem o que fazem!".E eu, será que sei? Será que sei de mim, para depois falar do outro?
Mas uma certeza percorre toda essa inquietação: toda falta de dúvida sobre si mesmo indica uma conivência com o engano - auto-engano.
26.11.07
19.11.07
Estrelinha estrelinha
Sentado na grama, contemplando o céu, o rapaz concentrava sua atenção numa estrela fulgurante. Brilhava esta multi-colorida, diferente das outras: ora era vermelha, ora esverdeada, ora amarela, ora todas as cores juntas.
"É um espetáculo lindo de se ver essa estrela", pensou consigo. "Estrela amiga, a beleza de tua luz renova minh'alma! Eu, até agora fraco, sinto-me revigorado pela pureza de tua chama... obrigado, estrela irmã!
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Há dois bilhões de anos, uma guerra fatricida no planeta dos macacos ocasionou uma crise no sistema solar. A típica mistura de sede de sangue, medo, tecnologia ultra-avançada e palavras de baixo calão provocou a destruição do sol, centro deste sistema. Foram necessários dois bilhões de anos-luz para a luz dessa explosão chegar à Terra.
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Nota astronômica: quando estrelas brilham com diversas cores significa que já explodiram.
...
12.11.07
Uma palinha da entrevista de Noam Chomsky à revista Cult
Noam Chomsky - Não apenas acho que é possível, sei que é possível, por experiência e pela história. Todos nós sabemos. Confrontar o poder, a repressão e a injustiça nunca foi fácil, mas muitas tarefas foram realizadas e o sucesso não foi pequeno. As lutas de muitos anos nos deixaram um legado de liberdade que é raro em padrões históricos comparativos. Podemos optar por usar esse legado para carregar a luta para a frente ou podemos decidir abandonar a esperança, acreditando que o pior vai acontecer. Essa escolha é comum no decorrer da história. Felizmente, muitas pessoas não abandonaram a esperança, e não há razão para fazê-lo hoje.
(Revista Cult, ano 10, número 16, p. 10)
1.11.07
Brasil 2014 e saúde pública
Eu defendo instintivamente: é melhor saber que não saber, pois assim temos maior quantidade de informações para pautar nossas escolhas. Talvez isso não garanta sucesso nem felicidade, mas garante, quem sabe, um aumento no horizonte.
Disse toda essa bobajada só para divulgar os seguintes textos: o primeiro é sobre a copa de 2014, do blog Cataclisma 14; o segundo é sobre a Emenda 29 sobre saúde pública, encontrada no CMI.
29.10.07
Sobre as eleições para o Diretório Acadêmico da História da UFRGS
Eu não entendo. Se todos os lados querem tomar parte, numa relação horizontal entre os que estão juntos, defender uma forma democrática, então, para que fazer chapas e disputar eleições? Não é mais fácil todo mundo se juntar em cículo e decidir o que fazer?
As únicas coisas que me vêm em mente são: 1 - defende-se eleições e chapas porque elas garantem ao vencedor a centralidade da organização; 2 - com os votos, os quais garantem a legitimidade do sistema, o partido vencedor pode se dizer representante legítimo do curso e, assim, levantar as bandeiras que quiser "em nome dos/ representando os estudantes todos".
Essas eleições, para mim, são antidemocráticas e não favoressem a formação da autonomia dos participantes.
26.10.07
Aberta a temporada de leilões de cérebros e consciências
Professor de História
Diretor da E.E.E.M. Padre Reus
No segundo semestre, fomos “brindados” com as tais enturmações, processo pelo qual, com vistas ainda a economizar com recursos humanos, turmas de alunos foram unificadas e lotadas com até cinqüenta estudantes. Algo deplorável do ponto de vista pedagógico, principalmente se conhecendo a realidade estrutural da imensa maioria das escolas públicas. Deplorável do ponto de vista social, levando-se em conta a declaração da penúltima coordenadora da 1.ª Coordenadoria de Educação de Porto Alegre ao afirmar que “educação de jovens e adultos não é prioridade do governo, afinal os adultos já tiveram sua chance e não souberam aproveitar”, para justificar o fechamento das turmas de EJAs. Deplorável do ponto de vista sociológico ao enturmar, principalmente nas periferias, membros de gangues e “bondes” rivais. E os educadores e direções que se virassem com os conflitos. Contra tais medidas, mobilizaram-se as comunidades escolares de todo o Rio Grande do Sul. Mas, mesmo assim, muitas direções de escolas cederam, por medo ou interesses administrativos com aparente preocupação em melhorar as condições materiais e pedagógicas das suas escolas e nenhuma visão estratégica (médio e longo prazo) da forte investida privatista sobre os serviços públicos do Rio Grande do Sul, inclusive a educação.
É o caso das escolas que aderiram ao projeto “Jovem de Futuro – Qualidade Total no Ensino Médio”, parceria firmada entre o Instituto Unibanco, a Secretaria de Estado da Educação e as escolas públicas de ensino médio, “com o objetivo de contribuir para a melhoria do atendimento educacional oferecido por estas escolas” [1].
Em primeiro lugar, não é demais lembrar que “Qualidade Total” é uma das diversas teorias, técnicas e métodos de gerenciamento da produção implantado nos inícios dos anos 90 pelas empresas capitalistas deslumbradas com o neoliberalismo entrante no Brasil. Just in time, Kan ban, Reengenharia e Qualidade Total, são algumas dessas teorias e métodos “modernos” de gerenciamento da produção, algumas delas complementares entre si, que objetivam otimizar os lucros das empresas através, dentre outras coisas, enxugando folhas de pagamento através da terceirização de certos serviços. Em certos casos esses métodos se assemelham ao que Lênin chamou de puting out system em sua obra O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, onde analisa o desenvolvimento econômico daquele país no século XIX.
O tal projeto embora declare que “... a melhoria da qualidade da escola depende de um processo que garanta a autonomia da comunidade escolar (...) na identificação dos fatores que interferem no resultado de sua ação educativa e na definição de estratégias que possam garantir um melhor desempenho de seus alunos”[2], algema essa “autonomia” à obrigatoriedade de participação da equipe escolar “em todas as etapas do processo de três anos (prazo de execução do projeto): planejamento, execução, monitoramento e avaliação”[3]. Dentre as obrigações das escolas participantes estão: * criação de um conselho gestor do projeto; * aplicação dos testes padronizados (SAEB, ENEM, ou outro a ser criado, grifo meu); * Fornecer, quando solicitado, notas bimestrais e freqüência dos alunos; * providenciar o preenchimento do cadastro dos alunos (grifo meu); * mobilização da comunidade do entorno para se integrarem ao processo[4]. Dentre os diversos compromissos da Secretaria de Educação, dois, a meu ver, são dignos de nota, quais sejam: * disponibilizar dados sobre a Rede de Ensino Médio e * utilizar os resultados da experiência como insumo na definição de políticas públicas para o ensino médio.
Os recursos financeiros oriundos desse projeto – entre R$ 75,00 e R$ 100,00 por aluno matriculado/ano – poderão ser utilizados dentre outras coisas para: * premiações de professores: assiduidade, pontualidade, desempenho escolar dos alunos, desenvolvimento de projetos inovadores, etc.
O estado de penúria que vive a educação pública brasileira e que no caso gaúcho significa professores mal-pagos, salários parcelados e atrasados, empréstimos bancários sem nenhuma garantia do Estado para receber o 13.° salário, escolas demolidas e desestruturadas material e profissionalmente, repasses da autonomia financeira das escolas atrasados e com pernas de anão, obviamente faz muitos gestores balançarem. Estes preocupados em dar uma solução para os dramas particulares das escolas que administram, não se deram conta ou fizeram ouvidos de mercador para o projeto estratégico do governo Yeda que é a privatização dos serviços públicos como já é uma realidade em discussão nos casos do Daer, Corsan, Corag, Cultura, através da transferência desses setores para o controle de OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. E isto começa a acontecer na Educação. Ou o Instituto Unibanco não é uma OSCIP?! Não seriam as escolas aderentes ao projeto, laboratórios desse “novo jeito de governar” em educação?!
As conseqüências da adesão de certas escolas, algumas delas referências em Porto Alegre, já são notadas. Enturmações em escolas que vinham resistindo, afrontando deliberações das comunidades escolares, por exemplo, determinadas certamente pela exigência de “preenchimento do cadastro dos alunos”.
Mas, a conseqüência mais nefasta, talvez, está expressa em matéria do jornal Correio do Povo do dia 17 de outubro, à página 6, aonde o diretor de uma dessas grandes escolas que aderiram ao projeto exorta professoras e professores que tiverem “vontade de fazer um trabalho pedagógico diferente com o aluno” a enviar o currículo para análise[5]. O diretor “acrescenta que serão oferecidas creche e matrícula aos filhos dos docentes e apoio financeiro para projetos pedagógicos” [6]. A matéria encerra informando que “a instituição foi selecionada para participar de projeto no qual receberá mais de R$ 700 mil em três anos”[7].
Ora, aquilo que, por lei, é atribuição e obrigação da mantenedora, a seleção, recrutamento e provimento de recursos humanos, passa a ser exercido pelos diretores das escolas que se renderem à lógica do capital privado. Abre-se, assim, um perigoso precedente para uma guerra entre escolas pelos profissionais mais competentes. Leva quem premiar melhor aquilo que é obrigação de qualquer profissional sério nomeado ou contratado pelo Estado.
Da mesma forma, ao arrepio da própria Constituição, o direito do filho do operário, da empregada doméstica ou mesmo de professoras que não trabalharem na referida instituição, em ter acesso à creche (a referida instituição, hoje, oferece educação infantil, desde o maternal para a comunidade através de sorteio) é retirado à socapa, afinal, a menos que sejam criadas novas vagas para a comunidade, boa parte das existentes seria ocupada pelos filhos das professoras da instituição que passariam, assim, a constituir uma (ou mais uma) casta privilegiada dentre as tantas já existentes país afora.
Obviamente, devem existir professores e diretores favoráveis à privatização da educação. Pois então, que sejam francos e claros e digam isto com todas as letras para as comunidades que os elegeram.
Do contrário, que lutem junto com aqueles que defendem a educação púbica de boa qualidade como direito inalienável do povo brasileiro! Lutem com aqueles que entendem que educação não é mais uma mercadoria lucrativa nas prateleiras dos mercados capitalistas!
Os colegas e as colegas professores que lutam com todas as dificuldades para sobreviverem, mas não colocam a sua dignidade e competência profissional à venda certamente continuarão seguindo o caminho trilhado até aqui.
Por fim, resta claro a “urgência” da realização do Saers. Além de prestar contas às agências financiadoras internacionais, é preciso criar as condições favoráveis à privatização da educação gaúcha. E o governo Yeda só tem mais três anos para executar o serviço. Cabe questionar: por que a Universidade Federal de Juiz de Fora foi a vencedora do processo de licitação para elaboração das provas do Saers? Seria porque foi a mesma instituição que desenvolveu esse processo no estado de Minas Gerais, governado por Aécio Neves, do mesmo PSDB de Yeda? A UFRGS ou a própria UERGS não teriam as mesmas condições técnicas de atender essa demanda? Por quê? Por que a única entidade ligada à educação convidada a participar do Saers foi o Sinep, o sindicato das escolas particulares? Por que o CPERS, as entidades de professores dos municípios e o próprio Sinpro não foram convidados?
Saers e Projeto Jovem de Futuro – Qualidade Total no Ensino Médio/Instituto Unibanco, duas faces de uma mesma moeda! A moeda podre da privatização!
[1] Manual do Projeto, página 3.
[2] Idem, p. 4
[3] Idem, p. 9 – Compromissos da Equipe Escolar
[4] Idem, ibidem.
[5] Correio do Povo, 17/10/2007.
[6] Idem, ibidem.
[7] Idem, ibidem.
18.10.07
Um dos sentidos de liberdade no anarquismo
(BAKOUNINE, Michel. Dieu e l'État. In: OEuvres. Paris: Stock, 1980, p. 312s.)
Nota: (péssima) tradução minha.
10.10.07
Verdades divergentes que não se excluem
Para mim, NÃO! Se alguém, para se dar bem, precisa passar por cima do outro, o mínimo que se espera dele é que queira ter liberdade para fazer isso. Quando defende seus pontos de vista, ele pode usar argumentos muito coerentes e corretos.
Então, por qual razão muitas pessoas sentem certo asco, repugnância ou raiva quando lêem esses caras?
Fato simples: o pano de fundo.
Qual o meu pano de fundo, em termos de sentido de vida e sentido de manutenção da vida - duas coisa que são praticamente a mesma coisa? E qual é o pano de fundo desses liberais, em geral? É aqui, pois, que se encontra a chave da resolução do problema: mesmo excluindo questões de qualidade de argumentação, a grande divergência se encontra na diferença abismal de sentido da vida, no sentido de formas de relação entre os homens e de formas possíveis de se manter o mundo material (este, intimamente relacionado ao mundo "espiritual").
Qual o sentido da minha vida? De uma forma tosca e rápida, poderia dizer que é viver em paz comigo, com meus amigos e meus amores, e conseguir me manter numa forma de trabalho que dê mais sentido pra minha vida, me fazendo viver melhor o mundo, não só pelo dinheiro, mas pelos amigos do serviço, por certos conhecimentos aprendidos, por certas sensibilidades desenvolvidas. Tem muito mais, é claro, mas isso já serve como resposta rápida. Agora, quais os nortes de um defensor do capialismo? Basta ler a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, do Max Weber, para se ter uma noção.
Defesa do sistema de relações não é tanto uma questão de argumentação, mas principalmente de fé. Um anarquista e um liberal podem ter posições completamente diferentes e, ainda assim, os argumentos de ambos serem completamente coerentes, quando estes argumentos estão relacionados a própria fé, ao próprio pano de fundo. Agora, como vão se resolver essas diferenças de verdades contraditórias e não excludentes? Essa é que é a grande questão.
9.10.07
Das pequenas coisas
18.9.07
Notas autobiográficas de alguém que não existe
Optou esta noite por mais uma volta nas ruas escuras de sua cidade. Bares repletos de homens vazios, já dizia o poeta. Sentou-se para uma cerveja, num desses butecos típicos, longe dos bares mais badalados. Sentia-se tremendamente só. Sim, vivia um memento tenso. Tão tenso que usava freqüentemente advérbios: toda frase, inequivocamente, levaria um.
Fora deixado por todos os que mais considerava seus amigos. Os amigos se foram, as mulheres se foram, a família tão distante, o copo vazio. “Garçon, mais uma!”: essas foram as primeiras palavras ditas nas últimas oito horas. É possível ficar tanto tempo calado, principalmente depois que se aprende a responder – ou se contenta em responder – aos outros com simples gestos de cabeça. Desiludido! Os amigos criam uma ilusão fácil de perenidade. Toda moça linda cria uma sensação de eterno. Por isso tudo é tão belo! Não estava mais pronto para falar, ter intimidade, com alguém. Não queria. A solidão já era para ele uma escolha. Não se sentia bem para querer beber, mas bebia para relativizar o amargor.
Mas não sabia mais o que era sofrer. Aprendeu a observar as coisas em sua naturalidade. Sentia certo amargor, mas não dor nem desespero. Aprendeu a viver. O dinheiro era pouco, e tão óbvio quanto isso era a vontade (e a necessidade) de usá-lo para beber. Só, meio amargo, mas nunca vazio. Enquanto não fala, sua voz interior da voltas tremendas, cruzando do céu ao inferno, com paradas em lugares só aparentemente impossíveis de se chegar. É um ermitão e um andarilho, e isso também em sua cabeça. O movimento é a marca desse sujeito. Sim, é um sujeitado pela vida. Mas alguém que procura brechas para virar agente. Vê tudo isso como belo. Esse amargor, que não é dor, recobre tudo como a geada na grama, como neblina numa manhã fria: nada se vê, mas se sabe que está lá. O que está lá, como, com qual forma? É o Mistério. Talvez o Mistério da vida mesmo... riu-se de si mesmo. Que bonito é isso de rir de si mesmo, de não se levar a sério, ver as coisas com olhos leves, espírito quase sapeca, meio contemplativo, meio criança... sua família se foi, seu emprego se foi, tudo se foi. Hoje tem mais de oito horas do seu dia roubados em troca de um pouco de pão e cerveja. Mas isso não o incomoda tanto. Ama muito a si, mas esses longos tempos de solidão são duros. Mas sabe que foi nesses longos, e não poucos, tempos de solidão que descobriu grandes coisas de sua pequena vida, vivenciando neles, de vez em quando, talvez o próprio Mistério. Qual o sentido de tudo? Ele não sabia responder, mas tocou o telefone. Ele já sabia: era ela! Tantas vezes sumida, tantas vezes ressurgida. Essas fugidias moças, que nos amargam na fuga, nos embriagam na volta. Tentar reproduzir, em palavras, o que sentiu nos momentos seguintes é o mesmo que tentar guardar, na eternidade, uma flor de primavera entre as páginas de um livro. Há coisas que só são belas por sua efemeridade. A textura e o espinho não se conservam no tempo. Sabia que estando com ela não deixaria de estar só, mas o perfume da rosa ia embaralhar sua percepção por um instante.
Na janela do apartamento dela havia aquela luz habitual. Seria uma noite bonita, acontecesse o que acontecesse.
4.9.07
Liberdade, desejo típico de escravo
Essa é uma sensação que me vem com certa freqüência... e é quando tudo faz sentido! Se se pensar os mil condicionantes e determinantes que na história possibilitaram o mundo atual e o meu nascimento, se se pensar tudo que vivi, de bom, de “hostil” e de mal – que, no final, é quase tudo bom –, então se chega à conclusão: é tudo um grande dom do acaso e da história! E assim como o recebemos, assim nos será retirado, o que nos exige aproveitar seus pequenos sabores – e disabores!
A sensação de morte traz sentido à vida: toda obrigação, tristeza e peso de viver parecem quase evanescer diante do nada da morte... e só então um raro – e indiscreto – gostinho de liberdade nos vem à língua.
Qual seriam as últimas coisas que você faria se soubesse que está para morrer logo? (pergunta clichê, eu sei, mas necessária). Normalmente, a resposta dada se resume a uma boa orgia, ou pelo menos uma sacanagem com aquela menina específica (e quem sabe até especial!).
Pois bem, e no caso de se receber a notícia do fim bem no meio da rua, sozinho, sem um puto pila no bolso, celular sem crédito, etc.? Nada de orgia! Quem sabe o desconforto, quase desespero, de perder tudo que tem na vida! O perigo de encontrar o diabo – e pior ainda. Deus! –, lá do outro lado, depois de uma vida inconforme!
MAS de que adianta esse medo diante do que não se conhece? Sócrates, em sua apologia escrita por Platão, diria que ter medo do desconhecido (no caso, o que vem depois de morrer) não passa de pura arrogância.
Basta parar para sentir o corpo relativamente saudável, lembrar os bons amigos que se fizeram no dia-a-dia, a família, os amores... o sol quente... e mesmo o ar poluído da avenida Ipiranga. Nesse momento incompreensível, em que tudo na vida corre o risco de ser perdido (como se nós tivéssemos, de fato, alguma coisa), é que podemos separar o joio do trigo, separar aquilo que dá algum sentido à vida daquilo que fazemos por força de obrigações... aí então, como que sem o peso da muita tralha que carregamos todo dia conosco (trabalho, desentendimentos familiares, bestas obrigações ditas morais, etc.), vem aquela sensaçãozinha de “livre” – “que diferença faz tudo isso pra mim”, seguido de um sorriso muito arejado.
A sensação de morte liberta, nem que seja por um curto tempo, mas liberta.
30.8.07
"Nota sobre educação" ou, "o ser humano é, necessariamente, um animal"
23.8.07
Blog sobre economia
Descobri mais um blog português, agora sobre economia. Não sei qual a inclinação do cara. Mas mesmo sendo neo-liberal, vale a pena conferir:
Pura economia
Vale conferir este texto sobre crescimento e entropia, principalmente pra quem está agora estudando a revolução industrial.
21.8.07
E vamos fazer a revolução!
Só resta uma pergunta: qual é o caráter revolucionário dessa proposição? Getúlio Vargas discursava com os mesmos pontos.
Para início de conversa, massa é coisa de padeiro. E enquanto esquerdistas, pró-esquerdistas e grupos de esquerda não desistirem dessa pretensão de serem padeiros, de quererem moldar a massa, a lógica dominante vai permanecer: a vontade de usar da maioria "amorfa" e reificada para cumprir a vontade de poucos. Vargas queria conduzir a povo para uma sociedade melhor – e tivemos um governo autoritário pacas. Os comunistas de 1917 queriam conduzir as massas pruma sociedade melhor, socialista – e tivemos, por fim, a ditadura do partido que oprimiu o proletariado soviético.
Enquanto as pessoas não tiverem condições e relativa liberdade pra decidirem o que realmente querem, não haverá sociedade melhor. Quando falo de condições, falo de oportunidades que estimulem o processo de autonomia, como, por exemplo, uma escola de qualidade preocupada com a formação do raciocínio crítico d seus educandos. Quando falo em relativa liberdade, me refiro a que as pessoas possam escolher o que elas acham melhor - mesmo, sei lá, que seja se decidir por aquele liberalismo tosco de neo-liberal - sem ter um intelectual de merda do lado delas pra dizer: “Ah, mas tu é um alienado, hein?!”.
E isso cabe muito bem para os (futuros) professores, que não sejam arrogantes de se decepcionarem pelo fato de que os educandos não prestem atenção em aulas pouco interessantes e pouco significativas. Quem disse que o saber acadêmico e super refinado de vocês têm doçura (ou mesmo acidez) a ponto de provocar a atenção dos educandos? (sim, isso estou dizendo pra mim mesmo).
E, pra fechar, citando o Raul Seixas: “A lei do forte, essa é a nossa lei e a alegria do mundo!”20.8.07
Problemas epistemológicos
É necessário partir não desse Outro, mas do nosso próprio umbigo. Sem essa transformação epistemológica de mudança de ponto de partida, vamos continuar tão míopes como se não estudassemos/pensassemos nada. Só esse pluralismo racial, étnico, geográfico, econômico, etc., que poderá tornar nosso sistema ocular mais complexo e menos cego.
Como bem lembram muitos intelectuais, como José Augusto dos Anjos e outro, que não me recordo o nome, precisamos cortar o cordão umbilical com a Europa, com seus intelectuais que refletem sua própria realidade, e fazermos o esforço político de encontrar outras fontes no globo, entre pensadores pouco ou não conhecidos, que discutam assuntos parecidos, mas com o enfoque não-hegemônico, distinto da situação européia.
Vai chover? E daí?
Inclusive, tenho a impressão que o Gilliat é quase uma aproximação do para-além-do-homem (ou super-homem) pretendido pelo Niet.
17.8.07
'Fiz o que achava que era certo', disse aos seus amigos
9.8.07
8.8.07
"E essa 'mina' que não me esquece..."
- Alô? Oi Paulinha!, é a Josi, a ex-namorada do Renato. Te lembra de mim? Tudo bem? Sim, comigo tudo tri. Pois é, tens alguma coisa marcada pra esse fim de semana? É que consegui dois ingressos prum cinema. 'Tás afim?
3.8.07
Conhecimento da miséria
Quanto à miséria da alma, continuo a examinar agora se aquele que dela fala a conhece por experiência ou por leitura; se julga ser necessário, por exemplo, simular o conhecimento desta miséria, para testemunhar uma certa cultura, ou se o imo da sua alma se recusa a acreditar em bloco em todo e qualquer sofrimento moral; se, quando se designam esses sofrimentos, não se passa nele qualquer coisa de análogo ao que acontece quando lhe falam de grandes sofrimentos físicos – recordam-lhe as suas dores de dentes ou de estômago. Parece-me que a maior parte das pessoas é assim que sente. Já ninguém é treinado no sofrimento, nem físico nem moral, ninguém vê uma pessoa sofrer a não ser muito raramente; do que resulta uma consequência muito importante: é a de que se odeia agora o sofrimento mais do que antigamente, que dele se diz mais mal do que nunca, e que se vai mesmo ao ponto de já nem sequer se lhe poder suportar a idéia: disso se faz uma questão de consciência e uma censura à existência, na sua totalidade. A floração de filosofias pessimistas não é de forma alguma indício de terríveis sofrimentos; muito pelo contrário, fazem-se estas interrogações sobre o valor geral da vida em épocas em que o conforto e a facilidade acham já cruéis, demasiado sangrentas, as pequenas picadelas de mosquitos que não se podem evitar nem ao corpo nem à alma e quereriam, na penúria de autênticas experiências dolorosas, fazer aparecer a imaginação do suplício como um sofrimento de espécie superior.
Haveria realmente um remédio a indicar contra as filosofias pessimistas e o excesso de sensibilidade que me parece ser a verdadeira 'miséria dos tempos presentes',... mas talvez esta receita parecesse demasiado cruel; haviam de a classificar sem dúvida nenhuma no número dos sintomas em que se baseiam agora pra considerar que 'a vida é um mal'. Seja! O remédio contra a 'miséria' chama-se – miséria."
(NIETZSCHE. A Gaia Ciência. Aforismo 48. Lisboa: Guimarães Editores, 1984. p. 78-80)
1.8.07
Hábitos de alienados ou de quem não vê horizontes?
"As pessoas não acreditam que alguma coisa possa mudar. Então as pessoas acabam se acostumando. A grande maioria fica habituada, se preparando para toda semana saber que alguém morreu. Quando a gente chama para participar de reunião da campanha contra o Caveirão, as pessoas não vão, têm medo de sofrer represália da polícia. As pessoas nem acreditam mais em eleição, em política. As pessoas não acreditam. Agora, você vê nos olhos das pessoas, no humor delas, achando que elas estão acostumadas, mas não estão. As pessoas cada vez mais sofrem. E aí, as pessoas cada vez mais bebem, e quanto mais sofrem, mais procuram baile funk, pagode, consomem drogas, que é uma maneira de segurar a onda um pouco. As pessoas estão cada vez mais desesperadas, desesperançadas. É uma desesperança contida, que fica dentro das pessoas e acaba explodindo muitas vezes na violência, mas nunca dirigida contra quem está causando o verdadeiro sofrimento para a gente". (fonte: http://www.anovademocracia.com.br/35/10.htm)
27.7.07
Como assim? Beleza, quero dizer, quer dizer, prazer, embevecimento, devotamento, volúpia, essa sensação inexplicável, balançante, desestruturante e, não paradoxalmente, extruturante.
Há imagens sempre e sempre tão belas, aprazíveis. Viva o que se viver, faça o que se fizer, ela ainda vai estar lá, parada em sua mente, linda, sorridente, mesmo que os anos tenham se passado e essa imagem já há muito não correspondam ao objeto que provocou a imagem na nossa cabeça. Isso é Beleza?!
Ah, dos momentos tristes, em que me vi meio aflito, só de ti ver em mim, ver o que tu é pra mim, apesar do tempo, apesar dos rumos da vida, apesar dos rumos de um dos meus eus, apesar dos rumos de outro dos meus eus. Apesar do rumo difuso e confuso dos teus eus, que eu sei não são mais confusos que os meus.
Acho que em tudo na vida se ve a vontade incomoda de querer ser perturbadi, abalado, sacudido, derretido por esse belo-quente que não é passado, mas presente, e muito presente, na minha mente, na minha vida, no mais íntimo de mim
Moça, eu não te amo... tu não merece nem um pouco de amor de alguém,
é a que mais mereceria teu próprio amor. Enquanto não te amares, vais viver de sombras e sentimentos venenozos.
Tens prazeres neles? Vive, mas vais viver embriagada nos teus sonhos, morrendo nos teus venenos, sua intoxicada!
Mas tu, em mim, não é sonho, é a presença constante real dura de ti em mim
Essa minha risada insentida, essa pequena dureza de coração, com a qual resisto pequenas hostilidade do dia a dia, me fazem feliz. Se hoje me sinto um cara feliz, bom e um pouquinho forte.
Isso é pq tu me fez um pouco triste. Pq me fizeste chorar.
eu te amo
nada nada vai fazer mudar essa presença incômoda de ti em mim... essa tua presença real e incômoda. Tu não é nada além do que te conheço
sim
eu, por não te conhecer, te conheço tão bem como tu não te conhece
sim, sei que sou arrogante e possivelmente equivocado
mas tu nunca passas despercebida
24.7.07
O refinamento do amor
20.7.07
Um dia de alegria!
:)
Nessas horas gostaria que, de fato, existisse o deus cristão para fuder com esse filho duma puta. Quem me dera (quando eu fosse pro inferno) ver esse merda pagando os pecados. Imagino as penas que o diabo lhe infligiria... sei lá, tipo, enchendo o bolso dele de notas de 1 real, fazendo ele comer nos bandejões do inferno hahahahahahaha...
tem um texto bacana no cmi: ACM - Uma Trajetória da Ânsia Humana pelo Poder, e na Carta Maior: Com ACM, morre o coronelismo?
bom, chega de divagação, o importante é que já foi tarde!
Blog descoberto por acaso
13.7.07
Texto sem sentido (definido)
Nem sei o porquê de escrever isso. Sei lá, por que querer vidinha de professor de colégio público, ganhando pouco, vivendo cheio de bombas, com riscos sérios de agressões físicas? Por que não tentar me engajar no sistema, querer ganhar grana afú para levar uma vida in? Às vezes tenho quase uma certeza que vou me vender quando ficar mais velho. Isso que escrevo deve ser quase uma profecia. Mas muito bem baseada: quase todos se vendem ou acabam por se desiludir com algo - muitos mesmo caindo no niilismo.
E o que resta? Acho que só se agarrar aos princípios e viver uma vida em paz consigo. Viver uma vida em paz consigo por se agarrar aos princípios. Ética é uma palavra complicada. Normalmente está associada a algum imperativo, seja religioso ou filosófico. Deus manda ser bom... a Razão manda ser bom. Pro inferno com isso! E quem não acredita nem em deus e nem na razão? Por quê ser bom e reto? Por quê não ser egocêntrico, mesquinho e bem malvado - não é divertido estar por cima e pisar nos fracos?
Eís o grande risco de se tentar demolir com Deus ou com a Razão assim, à porra loca. Joga-se o bebê junto com a água do banho. Toda uma série de valores e práticas muito boas são colocadas como ruins porque associadas ao que se quer destruir, no caso, Deus ou a Razão. Não esqueçamos: quem jogou a ética e o bom de lado (sem necessariamente se desfazer de deus ou da razão) hoje não joga bomba em sociedades do Oriente Médio, não submete crianças à trabalho mega-explorador na China, não espanca trabalhadora pobre e negra em parada de ônibus? E mais ainda, quem não gostaria de, por exemplo, ao deixar cair o celular sem notar, ter alguém que pegue o objeto caído e o devolva com toda a gentileza, sem querer retribuição devolta?
Niet já deu uma boa orientação. A moral nobre não valoriza o útil, o benéfico, mas voloriza o que lhe é bom, o que acha belo, o que lhe faz sentir em paz e em regozijo consigo. Inclusive, o que é bom não é necessariamente associado com o útil. Devolver o celular de alguém sem pedir nada em troca não tem utilidade alguma, mas a sensação de ter feito a alguém o que gostaria que lhe fizessem é muito boa. E isso é o bom: tudo que acho bom para mim é o bom e é o que deve ser feito. Talvez quase por uma questão puramente estética, algo de curtir a ação. E não cometamos o erro de separar o sujeito da ação. Sujeito e ação são a mesma coisa.
Pois bem, posso não querer a crença de Jesus, mas nos evangelhos certamente existem ótimos indicativos de coisas nobres, assim como o há em Marx e Niet, por exemplo. A destruição porra-loca pode não passar de pura destruição. É só ação em negativo: coisa plebéia por excelência! A destruição positiva é não a destruição, mas construção: é uma construção que exige a destruição de algo. Isso é ação positiva.
O mundo hoje pode parecer não ter sentido, mas a preservação da vida é necessária para que a construção de sentido possa, quem sabe, ocorrer. Tudo pode parecer ruim, mal, hostil... mas quem garante o amanhã? Lembremos do que disse são Paulo: "Depois da tempestade vem a bonanza." Isso é o que chamo de imperativo de vida. A vida tem de ser mantida sem necessidade de explicações, quase como uma ordem. Deprimidos, angustiados, niilistas, desenganados do mundo: aguentem!, não joguem suas vidas fora por viver num mal momento. (sim eu sei, escrevo isso para mim mesmo para quando eu estiver mal).
Quando disse texto sem sentido, usei sentido no duplo sentido, de direção e de significado. Mas não que não tenha sentido, mas que não tem sentido (direção e significado) definido agora. É algo em curso ainda, meio sem saber por onde nem para qual lugar. É algo que vai. Quem sabe amanhã não terá algo mais definido?
6.7.07
Dilema: votar ou não votar?
Comecemos pelo começo. Detesto cada vez mais a forma boçal de boa parte dos comunistas que conheço. Evidentemente, alguns desses comunistas são pessoas por quem tenho bastante apreço, além de respeito pelas (boas) idéias. No entanto, a grande maioria é tomada pela arrogância insuportável do "visionário" que se acha no "dever" de conduzir os outros no bom caminho, revelando-lhes as verdades acessíveis somente por meio da cartilha do Partido. Quem nunca ouviu: "vamos juntar o proletariado e a pequena burguesia urbana no combate à burguesia para, assim, construir um mundo mais feliz", ou coisas do tipo?
Sua lógica política, inclusive, é mais insuportável ainda. Baseados num centralismo ferrenho, acreditam que a única forma racional de conduzir um movimento é a organização de uma cúpula dirigente que oriente as bases, as quais levantam a mão na hora da assembléia – o momento “democrático” por excelência – de forma a aprovar ou não o que foi definido de cima. E coitado de quem ouse duvidar dessa democracia! Se você não agüentar só levantar o braço para concordar/ discordar e se levantar para questionar a forma como as coisas estão sendo gestionadas, pronto!, você acaba de virar o mais novo fascista que deseja dividir a assembléia, um anti-democrata escancarado! O que eles desejam é mais ou menos o que Jesus deseja: que as ovelhas somente sigam o pastor. Nietzsche já havia alertado: entramos na época dos rebanhos!
Pois bem, apesar de tudo isso, o papel desses partidos socialistas/comunistas é fundamental. Já que o Estado é um espaço de confronto (e não um simples mecanismo monstruoso que cegamente serve à burguesia), a importância desses partidos é que são as únicas agremiações questionadoras do sistema que se dedicam a entrar nesse espaço, o que, por vezes, conseguem. São, talvez, umas das poucas vozes que contestam a voz da grande maioria da politicalha nas câmaras de vereadores e no Senado. Quantas conquistas na política não se devem ao Partido Comunista Brasileiro, ao Partido Comunista do Brasil e a outros mais?
Mas para entrar no Estado encontraram na lógica pastor-rebanho (lideranças-base) a melhor forma de angariar votos e adeptos... em política, em geral, é mais fácil arrebanhar pelo sentimento do que pela razão. Pois bem, justamente pela sua lógica sentimentalóide pastor-ovelhas é que acabam contribuindo muito para o não processo de formação da autonomia de diferentes indivíduos. Como alguém vai ter um pensamento mais independente se não somente só lê os marxistas, como acredita que qualquer coisa para além dos marxismos é cultura burguesa?
A questão é a seguinte: se voto nos socialistas, contribuo pra que grupos contestadores tomem os espaços institucionais próprios para constituição do País. No entanto, se votar neles, acabo contribuindo para uma lógica que não privilegia o ideal iluminista de esclarecimento individual, ao dedicarem-se esses partidos em conquistar corações por frases feitas e reivindicações clichês – necessidade própria da publicidade.
Pois é, e aí?
28.6.07
Da reforma agrária
27.6.07
A recolonização programada da África
Falar em “continente esquecido” é voltar a falar no “fardo do homem branco”. Discurso sobre a artificialidade dos Estados africanos é desculpa para justificar sua destruição. Imperialismo jamais esqueceu um continente riquíssimo em recursos naturais — principalmente petróleo, minérios e diamantes. Potências intensificam o saque e promovem nova partilha (Artigo de Henrique Júdice Magalhães)
22.6.07
Tradição x Capital
A grande questão presente é se a cidadania e os direitos de comunidades tradicionais da nação (quero dizer, reconhecidos enquanto "brasileiros") é mais ou menos importante que a produção de capital de uma corporação que devasta o meio ambiente de onde quer que esteja.
19.6.07
O que não sou
18.6.07
Remédio para o capital e não para doenças
Testes de novos remédios em países sub-desenevolvidos.
Não adianta! Por trás de qualquer marca bonita de publicidade sempre tem uma podrera para ser escondida!
12.6.07
11.6.07
6.6.07
Ocupação da Reitoria da UFRGS - Repúdio à política do DCE
Grande piada!
Há dias vêm aparecendo notícias de tomada de reitorias pelo Brasil, desde a iniciativa dos alunos da USP.
"E agora chegou a nossa vez!"
Chegou a nossa vez de receber a cartilha do DCE (Diretório Central dos Estudantes), soltar gritos de ordem contra a reitoria e a política do governo Lula e, por fim, arrancar os cartazes e ir pra casa!
VÃO SE FUDÊ!
Pra mim esse é um momento único para juntar os estudantes e conversar sobre a vida da universidade, conversar sobre a política educacional do governo, sobre a posição do movimento estudantil... enfim, um momento especial pra conversar sobre a reforma universitária (que porra é essa?), sobre as cotas para negros, sobre o fechamento do arquivo contra a ditadura pela vaca da Yedda.
Momento único pq há ali a sensação de que nós, não só como estudantes mas como cidadãos, somos capazes de nos mobilizar, de debater, de reivindicar e, tão importante quanto os outros, de bater pé!
Momento único para conhecer outros incomodados, que querem pensar a situação, descobrir - e inventar - formas de intervenção social SEM A NECESSIDADE DE REPRESENTAÇÃO, sem se atrelar a porra nenhuma de partido que quer enfiar uma cartilha na tua cabeça, evitar que tu te canse pensando e, principalmente, para tu servir como bucha de canhão, que nem orc em campanhas de RPG.
É uma pena que essa ocupação acabe só como teatrinho de futuros políticos para aparecer na TV, fazendo grau entre os do partido e angariando voto no futuro!
Mas não há dúvida: só por ter conhecido esse pessoal q não quer representação, ter conhecido a lógica de alguns grupos políticos (em especial pela dos filhos da puta do Movimento Estudantil Liberdade, a escória da extrema direita que entende que política se resume a porrada e aumentar para R$ 4,50 o valor do Restaurante Universitário), por toda essa pequena experiência, não há dúvidas que já foi um pouco bom!
1.6.07
Ocupação da USP, fascista?
A notícia tem, sem dúvida, a função intrínseca de desestabilização paralela à função de informar. Para tanto, não basta unicamente a descrição pura e simples do fato: é o arcabouço teórico do informante que vai classificar e significar o fato, relacionando este ao próprio entendimento do mundo.
O caso da ocupação da reitoria da USP, por exemplo. Pra mim é uma mobilização de extratos médios da sociedade na luta por uma instituição de ensino mais pública e útil à sociedade. Mas há posicionamentos bem... diferentes...
Veja o exemplo veiculado no Mídia sem Máscara:
Mais um exemplo do comportamento da gang comuno-fascista que seqüestrou a USP e é acobertada por parte da grande mídia
Gente burra precisa usar esses termos mega explicativos que não explicam nada, pra defender o que mal entendem mas crêem (como o religioso) definitivamente que entendem.
31.5.07
Padrão de ocultação
30.5.07
Notícia
Mesmo que a notícia não seja verdade, tenho certaza que não saímos dos primórdios da revolução industrial. Basta pensar nas multinacionais na Ásia.
Britânia usa força policial contra mulheres metalúrgicas na Bahia
25.5.07
O que os olhos não vêem, o coração não sente
Nossa postura mais comum é aquela "o que os olhos não vêem, o coração não sente"!
Não sei se fechar os olhos é o mais maduro a se fazer. Existem grupos (que não sabemos quem) estão tomando decisões que darão outro rumo a nossa vida, sem ao menos se preocupar com os riscos ou benefícios que nos trarão.
Veja o caso da denúncia da Profa. Dra. Lia Giraldo da Silva Augusto em relação ao CTNBio, a comissão que trata da liberação o milho da Bayer aqui.
22.5.07
Mais do mesmo
"Pô, sempre mais do mesmo, não era isso que vc queria ouvir":
Polícia Militar de Minas Gerais age mais uma vez como capitão do mato
A sensação constante de que nada acontece pq não passa na Globo. Vinte anos assistindo tv dão a impressão q o mundo é o que passa no 12... e
18.5.07
A Globo e a defesa das minorias étnicas
Mas a moralíssima Rede Globo, sempre do lado da justiça e igualdade social, esteve lá para denunciar ao Brasil as atrocidades cometidas pelos quilombolas...
Aqui, a defesa dos "réus": Nota pública da Comunidade Remanescente de Quilombo São Francisco do Paraguassu, Cachoreira, Bahia
17.5.07
Povos indigenas colombianos
Notícias da Colômbia:
http://www.dhcolombia.info/spip.php?article364
Nem precisa ler o que se encontra no endereço acima. Basta da uma banda na Rua da Praia ou ver instaladas nas margens das rodovías os grupos kaiganges e guaranis.
Transgênicos
O que se sabe é que essas grandes corporações decidem o que vai ser a nossa refeição - e conseqüentemente o nosso organismo - sem ao menos apresentar o menu! A bolachinha de hoje, o câncer de amanhã!
Mas não para por aí:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/382133.shtml
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/382147.shtmlAlém da soja transgênica, tem agora o milho transgênico da Bayer.
Bom apetite!
16.5.07
ESPORTE & MAGIA
Durante vôo para o Brasil, na última quarta-feira, o Papa Bento XVI (“xis”, “vê” “iii”) afirmou a nossa reportagem sua admiração pelo tricolor gaúcho (ucho, ucho). Quando perguntado se torceria por São Paulo contra o Grêmio Foot-ball Porto Alegrente foi categórico: __ “Respeito muito [pausa para respiração] o São Paulo, [pausa para vírgula e respiração] mas na teologia da libertadores rezarei pelo Grêmio”. O Pontífice, universitário e católico reafirmou ainda seu apoio ao tricolor gaúchouchoucho em encontro com o Presidente Lula, ao negar interceder ao São Jorge em favor do Corinthians. Mesmo sendo informado que a Gaviões (que é Fiel) lotará o estádio Pacaembu (que tem nome Tupi Guarani e, portanto não possui alma) para recepcioná-lo, nesta quinta-feira.
Dando prosseguimento a sua agenda, Sua Santidade pretende assistir hoje na Baixada Santista ao espetáculo entre Santos e Caracas. Na ocasião, Bento XVI (“xis”, “vê” “iii”) irá estar ao lado de todos os Santos, apesar da herética postura de Vanderlei Luxemburgo – freqüentador de manicures e divorciado. Mesmo com todas essas contradições o Papa entende que não pode jamais estar ao lado do Caracas, pois a equipe venezuelana joga no esquema conhecido como chavismo, onde todos atacam ao mesmo tempo com ou sem a posse de bola. O que é típico de equipes que possuem em seu plantel (também) atletas da escola boliviana de Morales.
Finalmente, ainda merece destaque a vinda do Pontífice, universitário e católico ao Rio Grande do Sul. Com passagem rápida em solo gaúchouchoucho, apenas uma atividade está programada: a presença do Papa no show de retorno aos palcos da Camisa de Vênus. Atividade programada para maio e que marca o retorno da banda ao cenário do show business e as discussões sobre a sexualidade do brasileiro. Os roqueiros baianos prometem executar seus maiores clássicos, entre os quais merecem destaque: Silvia (mais conhecida como “Silvia Piranha”), Bota Pra Fuder e Punheta. Ao saber da inclusão destas canções no repertório Sua Santidade vibrou!
Por Leandro Balejos Pereira
Da Redenção
Porto Alegre, um dia após o Grêmio ter eliminado o São Paulo da Libertadores 2007.
15.5.07
Ocupação da USP
(Sei que sou um cara atrasado quanto a notícias, mas antes tarde do que nunca)
http://www3.atarde.com.br/brasil/interna.jsp?xsl=noticia.xsl&xml=NOTICIA/2007/05/15/1076372.xml
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/381924.shtml
Jaulas?
"I'm gonna break
I'm gonna break my
I'm gonna break my rusty cage
and run"
(Soundgarden, Rusty Cage)
10.5.07
De boca cheia
"Princesa fada furacão. Régia leve devastadora – parece estar além da ‘possibilidade de qualquer mortal tocá-la.
‘Filósofa, só podia ser filósofa. Traços leves arianos determinados de alguém que ‘vê sente expressa tudo com a sensibilidade da alma.
‘Loira de uns olhos roubados do céu
‘Alva, hálito fresco – o senti uma vez quando passou perto de mim
‘Pura, virginal... de um sexo explosivo, depois de se quebrar a castidade
‘Casta... dedicada ao grande amor – fiél"
Embalos de sexta-funk à noite:
Depois de dançar alucinadamente, a loira, num canto escuro, enche sua boca com o esperma de um desconhecido qualquer, muito mais interessante que Kant ou Sartre.
4.5.07
Bob Esponja e o Dia do Trabalhador
A Rede Globo, como todos sabemos, adota uma postura bastante diferente, mostrando que, ao contrário de outros – conturbados – lugares do mundo, aqui no Brasil só tem show e festa no primeiro de maio. No entanto, mesmo precavido, não esperava que pegassem tão baixo, literalmente, na sua programação, como a seguir me explicarei.
No programa da Puta Menegel, digo, da Xuxa, a Putinha dos Baixinhos, passou um episódio para mim inédito do Bob Esponja Calça Quadrada. “Legal!”, pensei comigo.
Era um episódio em que o protagonista devia tirar férias de seu emprego, se não acarretaria multa ao Siri Cascudo, dono do estabelecimento de fast food onde o Esponja trabalha. Para quem não sabe, esse bicho amarelo é um alucinado por trabalho, dedicando-se habil e apaixonadamente à tarefa de preparar hambúrgueres. Seu prazer é a chapa e a gordura saturada, como ele mesmo diz, com um salário pior que o meu (sim, isso é possível e bastante comum), sem tirar descanso algum. Com o acúmulo das férias, o Esponja teve que tirar férias forçadas (!?), o que o levou a inventar mil artifícios para voltar à chapa (!?!?!).
Não sei quais serão as possíveis leituras dos muitos e pequenos telespectadores, mas me impressiona a sagacidade da companhia Roberto Marinho em tentar manipular os imaginários sociais – desde a infância!
Quando disseram que o Calça Quadrada era gay, nem dei bola, já que é questão de decisão puramente individual, em que ninguém tem nada a ver. Mas depois desse primeiro de maio, esse bicho entrou na minha lista negra. Isso não cheira a uma intenção de agenciar desde os primeiros anos os valores capitalistas de trabalho super-produtivo, de submissão decidida (quero dizer, feliz submissão), de ordem não-caótica (quero dizer, não-criativa)?
Alguém pode dizer: “Lu, isso é coisa da tua cabeça! É mania de perseguição!”. Sim, sei que sou meio paranóico, mas acho pior (ou pelo menos tão ruim quanto) tomar uma postura ingênua e acreditar que tudo é inocente ou sem intenção. Desconfiança, antes de tudo! Até pode ser que os autores do desenho não tivessem intenção alguma, mas o que sei é que aquele capítulo defende explicitamente o comportamento ideal esperado de um operário qualquer!
Os criadores até podem ser bem intencionados, ou nem mesmo ter pensado nisso, só que não dá para esquecer que eles têm contratos multi-milionários com as grandes emissoras de tv, estas com audiência mundial. Não da pra esquecer também que essas mesmas emissoras servem a que tem Dinheiro. E quem tem Dinheiro? (quando digo Dinheiro, com maiúscula, me refiro àquela quantia que só meia dúzia de privilegiados consegue imaginar – ou ter).
Posso até imaginar os cursos internos de aperfeiçoamento do Zaffari passando os desenhos do Bob Esponja Calça Quadrada...
24.4.07
Conclusão depois de um longo processo
Ironias
17.4.07
10.4.07
4.4.07
Um conto azedo
Ele é um rapaz amável, sempre bem disposto e bem humorado. Todo seu jeito tem um quê de simples e, ao mesmo tempo, muito consistente. Seu espírito crítico não torna sua voz pretensiosa quando emite julgamentos. Além de tudo, um belo rosto num belo corpo. Inteligente, gracioso e um rosto angelical.
Ela já estava apaixonada pela cativante figura do rapaz. Nunca se deu a grandes amores na vida, mas havia nela uma tendência enorme a se entregar amorosamente a algumas pessoas no plano das idéias. Sim, era uma platônica. Uma platônica de seus trinta e três anos e um corpinho bem conservado.
Decidiu que tomaria uma resolução o quanto antes. Decidiu também esperar o melhor momento. Mas já era a enésima vez a tomar a mesma decisão a respeito de seu assistente. Não passava além do ponto das deliciosas conversa que tivera com o rapaz. Nada além disso.
Apreciava seu rosto como quem contempla um quadro. Não sabia explicar - muito menos entender - a singularidade dessa obra artística. Olhos grandes, de uma cor indefinível, num rosto largo, bem medido, com uma boca ligeiramente larga e carnuda. Estática, contemplava, sem entender, como podiam as imperfeições deixar o todo mais irresistível ainda. A pequena cicatriz no canto esquerdo da boca - decorrente de uma briga -, os lados do nariz levemente disformes e mesmo a pequena verruga na maçã esquerda do rosto, a direita do olho esquerdo... não sabia como, mas o rosto que há quatro meses achará tão estranho, hoje possui um caráter único. É, para ela, a beleza em si.
Às vezes se condenava pelo prazer sentido pela beleza. Não seria sua paixão mais atração física do que amor propriamente dito?, pensava consigo. Bem, todo amor também é atração física. Talvez não haja como - e porquê - separar. Mas, e se por acaso - Deus o livre - acontecer de o pobre rapaz ser desfigurado por uma infelicidade do destino? Que viria a sentir se aquela bela tela tomasse um banho de tinta nanquim? Sabia, sentia consigo, que permaneceria completamente devota... sentia, lá no fundinho de sua (in)consciência, uma vontade - Deus o livre - de que isso acontecesse ao rapaz, para assim poder provar seu devotamento: "Não pensa besteira, sua egoísta!", repreendia-se.
A angústia e a felicidade, para ela, provêm do mesmo objeto. A perspectiva de felicidade é, ao mesmo tempo, o vazio do que não está junto. Pode haver felicidade em amar alguém?, perguntava para si mesma. E tudo permanecia sempre o mesmo... aparentemente.
Num belo dia de descuido, um frasco de ácido nítrico indevidamente colocado no alto de uma estante, resvala, cai e se espatifa na quina da estante vizinha, bem no nível da cabeça da pesquisadora. Infelicidade do destino! Tomou um banho ácido, principalmente na face, sendo prontamente atendida.
No hospital, com o rosto coberto por bandanas, recebeu a visita de muitos amigos, inclusive de seu caro amado. Conversa vai, conversa vem, o assistente é interrompido pelo seu celular. Apesar de ter tomado alguma distância, foi audível para a pesquisadora a seguinte resposta: "Certo Ritinha, tô indo pra'í, já. Tchau amorê!". Conversaram os dois biólogos mais um pouco. A ternura e o espírito de pena do assistente não disfarçavam sua própria felicidade, diferente dela, a qual com seu ar tranqüilo conseguia mascarar a ácidez que tomava conta de sua alma.
Essa foi a primeira das três visitas do assistente, no período de um mês e meio, tempo em que a pesquisadora passou internada no hospital.
23.3.07
Força
A primeira qualidade de um homem forte não é a capacidade de causar grandes impactos, mas a de saber resistí-los.
A sorte do homem
9.3.07
Idealismo
Há difundido um certo modelo de mulher na nossa sociedade, um modelo de certa forma imperativo. Se não se enquadrar nele, corre-se o perigo de cair fora do jogo.
A sorte é que empresas de diferentes ramos estão sempre prontas a oferecer a suas clientes os meios para se preencher os requisitos dos modelos: é a indústria de máscaras.
A mulher de verdade fica escondida, em algum canto, oferecendo pano aos olhos do sexo masculino... ou do feminino?
Vamos quase todos atras de imagens, nem imaginando o que são as relações mais "reais"... pode-se levar vinte gurias pra cama, mas quantas se conheceu a pessoa atras da máscara? (bom, isso é indiferente prum hard que se preze...)
Dois mundos a sete metros de distância
Cena 2: Estava cansado. Dia complicado na oficina. Já sentia o calor da casa aí onde se encontrava, numa rua escura, com um maluco de passo acelerado na sua frente. Poderia ficar acordado até mais tarde com sua nega, pois no dia seguinte deveria chegar duas horas mais tarde no serviço que o normal. Gostava de onde morava, nada de muito movimento, bom para descansar.
2.3.07
interesses
Há algum mal nisso?
23.2.07
Auto-ajuda
Não foi também um texto escrito por um aristocrata, que tem prazer em mostrar força desmedida, pisar no fraco, dar mostras excessivas de poder e cobrar as taxas de ban.
É só ler os últimos textos e vai se ver que, pelo contrário, é o texto de um fudido na vida... um alguém que ouve looser manos, digo, Los Hermanos, e passa por cada história que são duas...
Não e não! Não vejo nessas odisséias, esses momentos difíceis, prazer algum. O único prazer que pode haver é o prazer em sofrer - o que é coisa lamentável, diga-se de passagem. O que dá prazer são, na real, as pequenas coisas do dia-a-dia: ir trabalhar, facu, ler, correr, beijo, escrever, sessão da tarde: coisas de um nerd qualquer. O único prazer que os momentos difíceis podem proporcionar são as pequenas conquistas interiores, as pequenas conclusões, as pequenas descobertas, decorrentes de se ter superado tal momento (aparentemente) hostil.
Falo - e vivo falando - dessas coisas difíceis, um tanto duras, não por prazer, mas por necessidade. Pensar o que se passa, ver onde tudo começa, ter um pouco de sinceridade, visualizar de pouco em pouco uma certa auto-superação... uma luz em meio as brumas das 6 horas da manhã de um dia de inverno - nem que seja farol de carro!
Se chamei de Conquista aquele texto, não é pq a finalidade da vida seja vencer, subjugar, ser glorioso. Muito menos quis dizer o que a vida é. Escrevi o texto por pensar ser imperativo enfrentar a nós mesmos nos nossos pequenos e grandes tormentos. É uma batalha que se direciona não para fora, mas para dentro.
Escrevi aquele texto não para "abrir a mente" das pessoas, mas para convencer o meu eu de 14/15 anos, aquele menino sem noção, sem medida, muito religioso e muito apaixonado - um idealista, acima de tudo. Não quero convencer ninguém que deus não existe, que não há bondade nos corações humanos. Meu objetivo único era (me) avisar que tudo tem muita chance a dar errado; nada é certo; uma coisa muito firme, estável, pode evaporar sem se perceber. Nada começa absolutamente bom e perfeito. Tudo que se considera concluído, bom, perfeito, é fruto de trabalho, estudo, suor, erro, cagada, fracasso e muita persistência (e até, às vezes um pouquino de esperança, uma certa convicção interna, tipo sexto sentido). As coisas não são naturalmente ordenados, mas caóticas; de pouco em pouco, com aquelas hostilidades reais ou imaginárias, do dia-a-dia, aprendendo com a tradição, com os outros e com os próprios erros, aprendemos a ordenar as coisas um pouco melhor. A ordem é uma construção. Tudo se conquista de pouco em pouco. Inclusive pode mesmo ocorrer que quando menos se percebe, podemos perder até aquilo que julgavamos ter, como já bem disse o cabeludo dos evangelhos.
Se fosse catalogar aquele texto, não o colocaria como
Filosofia: Metafísica. Ética.
Mas como:
Psicologia aplicada: Auto-ajuda.
21.2.07
A lenta flecha da beleza
7.2.07
Conquista
O que sei é que nosso planetinha saiu de um monte de "revoluções". Aquele tal de big-ban; aquelas locuras de junção de lixo espacial que girando geraram o sol; certas explosões no sol que "o levaram" a cuspir os planetas hoje existentes, a passagem bilhões de anos até haver o resfriamento da terra e poder surgir a vida; a sobrevivência de algumas espécies, que depois de muito tempo permitiu o surgimento dos primeiros homos; o desenvolvimento do homo sapiens e sua supremacia sobre a natureza depois de cem mil anos; nas comunidades humanas a sobrevivência se dá pela superação de outras comunidades que visam os mesmos recursos primários; a luta contra seis milhões de espermatozóides pra chegar até o ovário.
Nisso acabo vendo a (minha) verdade sobre a vida: "a vida não é de brincadeira, amigo", como já diria o poeta e eu repito pela enésima vez. Luta, conflito, instinto de sobrevivência, vontade de poder: "crueldade!" na nossa concepção burguesa e cristã de pensar...
Mas sou sincero, fiquei chocado com as cenas verdadeiramente humanas de caça e subjugamento do filme do Gibson, Apocalipto. Só o mais infantil não pode reconhecer que a crueldade é humana, demasiadamente humana.
E se o mundo não seguisse sua linha caótica, hoje não estariamos aqui. Somos todos nós filhos do caos que permitiu nosso nascimento, e é a partir desse caos que devemos organizar nossa vida. Achar "se não estiver feliz, não quero viver" é coisa bem de quem não tem um mínimo de noção histórica. Agora, dizer "eu quero ser feliz e vou fazer todo possível para isso, apesar dos pesares", já é coisa bem distinta, bastante nobre - e por isso mesmo bastante imoral.
Arrisco o sentido da vida: conquistar o que se tem vontade! uso conquistar, e não conseguir, justamente para expressar que o meio para se conseguir o que se quer passa pela guerra contra algo ou alguém, logo, Conquista!
(Inclusive, esse alguém contra quem se vai lutar somos nós mesmo. Nós, os medrosos, que o digamos!)
Percepção
Talvez por essa potencialidade de cada ser de virar a mesa do nada, cada forma de vida merece certo respeito, ao menos por precaução.