A academia é um campo social como qualquer outro. Disputas, intrigas, hierarquias; mas também solidariedades, amizades e camaradagem. E me parece que as cenas mais engraçadas ficam no campo das ciências humanas . Mesmo estudando as relações sociais de outros povos e outros tempos com muita acuidade (ou pretensa acuidade), seus membros (dentre os quais me incluo) não conseguem perceber as relações de poder, as imposições de gosto e opinião, o lustrar constante da estrutura hierárquica. Exatamente aquilo que encontram em sua pesquisa. E eu posso tomar uma postura menos inocente: talvez os jogadores do campo da academia percebam muito bem as relações de poder, a tal ponto que as utilizam a seu favor.
Posso talvez resumir assim a estrutura do jogo:
{professor doutor > doutor > mestre > graduando veterano > graduando novato (o "bixo", que lembra algo de "o selvagem", o "sem-cultura")} > o resto do mundo;
assim como:
gestos, opiniões, gostos do superior > meus gestos, opiniões, gostos > gestos, opiniões, gostos dos inferiores.
É um esquema bem grosseiro, claro. Mas, em linhas gerais, não me parece equivocado.
Evidentemente, não são todos os membros que se enquadram no esquema. Mas ele, o esquema, é generalizado; é empregado e reiterado pela maioria daqueles que ocupam as posições superiores; é aceito e legitimado por aqueles que estão fora do campo e, principalmente, por aqueles que recém entraram. Em suma, os "bixos" são a carne fresca dos doutores, mestres e veteranos.
22.10.09
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