31.8.07

Descobri dois blogs com relação de blogs de música. Vale a pena conferir:

Feijão Tropeiro

Nau Pirata

30.8.07

"Nota sobre educação" ou, "o ser humano é, necessariamente, um animal"

A função da escola e da educação não é transformar um animalzinho em gente civilizada. Isso é mito, e o que se consegue por meio disso são amputações. O desafio da educação é fazer do animalzinho do educando um animalzinho ruminante, quer dizer, um pensador, quer dizer, alguém que pare para pensar. Parar para ruminar: isso sim, uma educação a base de regorgito e (re)mastigação.

23.8.07

Blog sobre economia

Opa!
Descobri mais um blog português, agora sobre economia. Não sei qual a inclinação do cara. Mas mesmo sendo neo-liberal, vale a pena conferir:

Pura economia

Vale conferir este texto sobre crescimento e entropia, principalmente pra quem está agora estudando a revolução industrial.

21.8.07

E vamos fazer a revolução!

“Vamos fazer a revolução! Que as massas proletárias urbanas e rurais tomem consciência de sua situação de explorados e, juntos, lutem pela igualdade entre os homens e os povos!”

Só resta uma pergunta: qual é o caráter revolucionário dessa proposição? Getúlio Vargas discursava com os mesmos pontos.

Para início de conversa, massa é coisa de padeiro. E enquanto esquerdistas, pró-esquerdistas e grupos de esquerda não desistirem dessa pretensão de serem padeiros, de quererem moldar a massa, a lógica dominante vai permanecer: a vontade de usar da maioria "amorfa" e reificada para cumprir a vontade de poucos. Vargas queria conduzir a povo para uma sociedade melhor – e tivemos um governo autoritário pacas. Os comunistas de 1917 queriam conduzir as massas pruma sociedade melhor, socialista – e tivemos, por fim, a ditadura do partido que oprimiu o proletariado soviético.


Enquanto as pessoas não tiverem condições e relativa liberdade pra decidirem o que realmente querem, não haverá sociedade melhor. Quando falo de condições, falo de oportunidades que estimulem o processo de autonomia, como, por exemplo, uma escola de qualidade preocupada com a formação do raciocínio crítico d seus educandos. Quando falo em relativa liberdade, me refiro a que as pessoas possam escolher o que elas acham melhor - mesmo, sei lá, que seja se decidir por aquele liberalismo tosco de neo-liberal - sem ter um intelectual de merda do lado delas pra dizer: “Ah, mas tu é um alienado, hein?!”.

E isso cabe muito bem para os (futuros) professores, que não sejam arrogantes de se decepcionarem pelo fato de que os educandos não prestem atenção em aulas pouco interessantes e pouco significativas. Quem disse que o saber acadêmico e super refinado de vocês têm doçura (ou mesmo acidez) a ponto de provocar a atenção dos educandos? (sim, isso estou dizendo pra mim mesmo).

E, pra fechar, citando o Raul Seixas: “A lei do forte, essa é a nossa lei e a alegria do mundo!”

20.8.07

Problemas epistemológicos

Uma das maiores dificuldades que tenho - ou melhor, temos - para analisar a sociedade e o mundo é o nosso eurocentrismo arraigado ou outras formas de centrismos em que há um centro poderoso rodeado de coadjuvantes, nos qual nós somos os coadjuvantes. Vide termos como "subdesenvolvido", "terceiro mundo", "pré-colonial", "antes de Colombo", "pré-história" (que significa "pré-escrita"), "pré-revolução industrial", entre outros. Não digo que esses processos, fenômenos, não são importantes. Claro que são. Mas toda análise se pauta a partir desse Outro situado do outro lado do oceano ou do sistema produtivo.
É necessário partir não desse Outro, mas do nosso próprio umbigo. Sem essa transformação epistemológica de mudança de ponto de partida, vamos continuar tão míopes como se não estudassemos/pensassemos nada. Só esse pluralismo racial, étnico, geográfico, econômico, etc., que poderá tornar nosso sistema ocular mais complexo e menos cego.
Como bem lembram muitos intelectuais, como José Augusto dos Anjos e outro, que não me recordo o nome, precisamos cortar o cordão umbilical com a Europa, com seus intelectuais que refletem sua própria realidade, e fazermos o esforço político de encontrar outras fontes no globo, entre pensadores pouco ou não conhecidos, que discutam assuntos parecidos, mas com o enfoque não-hegemônico, distinto da situação européia.

Vai chover? E daí?

Há um oceano de prata nas nossas cabeças hoje, dia nublado. Pra quem está a vagar no mar, há um mar azul ao chão e um outro, cinza, no céu. Isso me lembra o livro mais soberbo (soberbo me parece um nome bem apropriado) que já li: Os Trabalhadores do Mar, do Vitor Hugo. Os aforismos nessa obra são muitos e muito bons. Por exemplo, este aqui.
Inclusive, tenho a impressão que o Gilliat é quase uma aproximação do para-além-do-homem (ou super-homem) pretendido pelo Niet.

17.8.07

'Fiz o que achava que era certo', disse aos seus amigos

Simples triste calado na parada olhava tranqüilo a moça bonita de verde que passava. Caiu das mãos da dama algo que não pôde definir devido às poucas luzes da noite. Apressado e gentil, correu para catar o objeto e devolvê-lo a sua desatenta dona. Não atentou, entretanto, a pedra no meio do caminho - havia uma pedra no meio do caminho! Mais exatamente, um lage da passarela deslocada. Sua boca conheceu o gosto da lage com a mesma intensidade - e dor - que o dedo do pé que chocou contra a pedra, ambos vertendo lágrimas de sangue. Mas destino pior teve seu caro óculos, que não foi barato na ótica. Mesmo miope, olhando adiante, pode ver as lentes quebradas, com a armação próxima ao seu objetivo: uma embalagem vazia de cigarros que a porca da sua dona havia jogado no chão.

9.8.07

Os perdidos se encontram!

8.8.07

"E essa 'mina' que não me esquece..."

- Sabe a Josi? Bah velho, que 'mina' imbecil! Não dá pra entender? Encontrei com ela 'ontiontem' e fomos tomar um café. 'Tava meio quase um climinha no ar. Daí ela me perguntou da Paula, curiosa. Como e onde a gente se conheceu, se eu curtia ela e tudo mais. Eu só disse que eramos colegas do curso, que achava a guria tri e era só. Só amigos. Ah, meu, que mina palha! Como é que eu curti essa traste? Me some por dois dias, me dá um fora fudido, devolve os presentes que eu dei pra ela - inclusive o de quatro meses de namoro - e depois vem bancar a de ciumenta. Vá se fudê! Mas tenho a leve impressão que ela ainda é afim de mim... (solta um leve suspiro de esperança, seguido de um sorrisinho maroto).

- Alô? Oi Paulinha!, é a Josi, a ex-namorada do Renato. Te lembra de mim? Tudo bem? Sim, comigo tudo tri. Pois é, tens alguma coisa marcada pra esse fim de semana? É que consegui dois ingressos prum cinema. 'Tás afim?

3.8.07

Conhecimento da miséria

"Talvez nada separe já as pessoas e as épocas a não ser o seu grau de conhecimento da miséria: tanto a da alma como a do corpo. No que se refere a esta última, talvez nós, homens de hoje, apesar de todas as nossas fraquezas e de nossas enfermidades, sejamos ignorantes e fantasistas, por falta de experiência pessoal, a experiência que teve a idade do medo - o mais demorado período da história - quando o indivíduo devia proteger-se por si próprio contra a violência e tornar-se a si próprio, para esse fim, um violento. Nessa época o homem fazia uma copiosa aprendizagem do sofrimento físico e da privação; via até no exercício de uma certa crueldade para consigo mesmo e no sofrimento voluntário, um meio necessário à sua conservação; treinava-se então o seu meio a saber suportar o mal, acrescentando-o até de bom grado, e viam-se os piores suplícios dos outros sem experimentar outro sentimento que não fosse o da própria segurança.
Quanto à miséria da alma, continuo a examinar agora se aquele que dela fala a conhece por experiência ou por leitura; se julga ser necessário, por exemplo, simular o conhecimento desta miséria, para testemunhar uma certa cultura, ou se o imo da sua alma se recusa a acreditar em bloco em todo e qualquer sofrimento moral; se, quando se designam esses sofrimentos, não se passa nele qualquer coisa de análogo ao que acontece quando lhe falam de grandes sofrimentos físicos – recordam-lhe as suas dores de dentes ou de estômago. Parece-me que a maior parte das pessoas é assim que sente. Já ninguém é treinado no sofrimento, nem físico nem moral, ninguém vê uma pessoa sofrer a não ser muito raramente; do que resulta uma consequência muito importante: é a de que se odeia agora o sofrimento mais do que antigamente, que dele se diz mais mal do que nunca, e que se vai mesmo ao ponto de já nem sequer se lhe poder suportar a idéia: disso se faz uma questão de consciência e uma censura à existência, na sua totalidade. A floração de filosofias pessimistas não é de forma alguma indício de terríveis sofrimentos; muito pelo contrário, fazem-se estas interrogações sobre o valor geral da vida em épocas em que o conforto e a facilidade acham já cruéis, demasiado sangrentas, as pequenas picadelas de mosquitos que não se podem evitar nem ao corpo nem à alma e quereriam, na penúria de autênticas experiências dolorosas, fazer aparecer a imaginação do suplício como um sofrimento de espécie superior.
Haveria realmente um remédio a indicar contra as filosofias pessimistas e o excesso de sensibilidade que me parece ser a verdadeira 'miséria dos tempos presentes',... mas talvez esta receita parecesse demasiado cruel; haviam de a classificar sem dúvida nenhuma no número dos sintomas em que se baseiam agora pra considerar que 'a vida é um mal'. Seja! O remédio contra a 'miséria' chama-se – miséria."
(NIETZSCHE. A Gaia Ciência. Aforismo 48. Lisboa: Guimarães Editores, 1984. p. 78-80)

1.8.07

Hábitos de alienados ou de quem não vê horizontes?

Pedaço do depoimento de Wanderley da Cunha, morador da Favela de Acari, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde frequentemente há troca de tiros entre policiais e bandidos. Wanderley é animador cultural e integra a Rede Contra a Violência, que organiza moradores de bairros proletários:

"As pessoas não acreditam que alguma coisa possa mudar. Então as pessoas acabam se acostumando. A grande maioria fica habituada, se preparando para toda semana saber que alguém morreu. Quando a gente chama para participar de reunião da campanha contra o Caveirão, as pessoas não vão, têm medo de sofrer represália da polícia. As pessoas nem acreditam mais em eleição, em política. As pessoas não acreditam. Agora, você vê nos olhos das pessoas, no humor delas, achando que elas estão acostumadas, mas não estão. As pessoas cada vez mais sofrem. E aí, as pessoas cada vez mais bebem, e quanto mais sofrem, mais procuram baile funk, pagode, consomem drogas, que é uma maneira de segurar a onda um pouco. As pessoas estão cada vez mais desesperadas, desesperançadas. É uma desesperança contida, que fica dentro das pessoas e acaba explodindo muitas vezes na violência, mas nunca dirigida contra quem está causando o verdadeiro sofrimento para a gente". (fonte:
http://www.anovademocracia.com.br/35/10.htm)