7.10.11

Eu dei uma olhada naquela novela da Record, Vidas em Jogo. Deu para ver o porquê de as novelas globais continuarem em alta: pelo que entendi, nessa novela há uma única história, e não tem uma trama de várias histórinhas parealelas a uma principal. Além disso, os atores interpretam mal pacas! Ainda assim, deu para entender qual a brecha que a Globo deixou a suas concorrentes: qualquer coisinha diferente que se conte chama muita atenção. Afinal, o pessoal que olha novelas globais tem consciência de que de uma novela para a outra, a única coisa que muda é o título e o elenco. No Brasil, a simples mudança do enfoque, o uso de temas inesperados e um aumento da presença de representantes das classes médias e populares são suficientes para que produções de orçamento baixo, com atuações estranhas (para não dizer outra coisa) e de narrativa por vezes massante possam competir com aquelas toscamente chiquérrimas e carissímas da Rede Globo.

19.8.11

Nossa rebeldia tem hora marcada na agenda do magnata

Tenho a impressão de que greve de professor só vai ser impactante no dia em que o alunado estiver no colégio. Eu fico imaginando umas cenas. Penso em possibilidades. As aulas "oficiais" podem ser reduzidas até os três primeiros turnos. Neste caso, quando encerrar a greve, serão menos horas para recuperar. Lucro para todos.
E o que fazer com os dois últimos períodos. Aí, só a imaginação e a vontade política poderão responder. Filmes? Teatro? Música? Aulas sobre direito e cidadania? Gincana? Futebol? Visita a museus? Elaboração de cartazes e exposição na Praça da Matriz? Ficar de bobeira no pátio, trovando fiado? Quando falo em filmes, música e teatro, penso não só no assistir, como no elaborar.
A nossa rebeldia é reacionária.

A tomada da reitoria da UFRGS foi um grande ensinamento: não passou de uma ocupação desocupada. Enquanto uns grupos pensavam em coisas, em ocupar o espaço, conversar, conhecer gente nova que estava ali pelos quase mesmos motivos, o pessoal da liderança estudantil, que tomou a iniciativa e a frente do movimento, só aparecia na hora de assembléia. Melhor, a assembléia só aparecia na hora da assembléia. E em um dia, esse mesmo pessoal decidiu que iria encerrar a greve porque as reivindicações tinham sido atendidas. Tinham mesmo?... (Houve gente que na minha frente vaticinou que a ocupação não iria durar mais que um dia, por motivos particulares de um grupo. Dito e feito).

Da mesma maneira, as mobilizações de Porto Alegre desmobilizam. Veja o que são as tomadas de ruas e praças pelos estudantes, com os partidos da esquerda à frente: é uma chatice, é uma procissão de ovelhas. Sempre a mesma coisa, com discursos, bandeiras, megafones e ladainhas caquéticas. Nessas oportunidades, não há provocação aos participantes para a imaginação, para a inovação. Não!, é sempre a mesma tranqueira. A última Marcha da Liberdade aqui foi o pior exemplo disso. E na hora eu ainda me perguntava pelo porquê de haver tão pouca gente ali. Preguiça, ativismo exclusivamente virtual... Mas a resposta era óbvia: as pessoas já sabiam o que iam acontecer.

Se há algo para fazer, esse algo não é ainda sair de casa. Para quê? Para sair e ver tudo ocorrer com o mesmo modelão de sempre, com os astros a brilhar e a orquestrar os eventos cíclicos? Not!

Temos que pensar e ensaiar baixinho, sem pressa. A falta de pretensão no fazer pode ser a liberdade do criar. Instaurar o caos seria interessante. Criar o sentido, nas suas três vias. Sentir, ter significado e ir para algum lugar. Brincar com barro e se sujar. Fazer bonequinhos com massinha de modelar. Divagar. Falar bobagem, como estou aqui a fazer.

Sim, quando eu escrevo isto, faço um desafio a mim mesmo.

Na minha cabeça, uma coisa é certa: o protesto costumeiro faz parte desse sono que a gente tem hoje. Tomar a Salgado Filho não vai parar nunca qualquer aumento de passagem. Eu, com esses meus textos toscos, não vou a lugar algum. Ficar em casa não vai tornar o aluno mais comprometido com a sua escola e com a coisa pública (que é sua, também). Enquanto fugirmos da angústia, da incomodação, da sensação de impotência e da dúvida cruel, nossa massa encefálica continuará a bocejar no dia-a-dia. O dia-a-dia é a resposta.

18.8.11

Os destacados carrregadores de pastas e mochilas

O perfil do universitário gaúcho é o de um estúpido mediano que não é capaz de olhar para o lado.

Duas senhoras entraram no D43, linha de ônibus que liga o centro de Porto Alegre ao Campus do Vale da UFRGS, no horário da tarde. O veículo estava cheio daquilo que se chama de a "elite intelectual" do Estado. Mas o fato é que nenhum destes destacados portadores de mochilas e camisetas da Universidade, de cursos e laboratórios, se deu ao trabalho de levantar ao ver as senhoras.

Do mesmo modo, a moça que estava sentada em minha frente não "deu bola" por eu estar de pé, a segurar um calhamaço em uma mão - uma dessas malditas teses de 400 páginas, de folha A4 - e carregar a mochila no ombro do outro braço. Num ônibus cheio. Igualmente, outros estudantes que estavam sentados também não se preocuparam com seus colegas de Universidade que estavam de pé, a carregar mochilas dependuradas em um dos ombros.

Que sorte de professores, engenheiros, químicos, arquitetos, nutricionistas e publicitários podemos esperar dessa massa bem instruídos de ignaros? Que tipo de cidadania podemos esperar quando a nossa futura "elite" ocupacional (em alguns casos, elite econômica e social, também) não consegue nem ser educada.

Se o povo é burro, não sabe votar, é ignorante, o que podemos dizer das nossas classes média e alta?

16.8.11

A pegadinha da informação

Tem uma coisa muito séria que esse teatro tosco proporcionado pela Ipanema revela: a velocidade da internet e a ampla comunicação interpessoal, aliada à existência de provas aparentemente factuais ("de fato, está tocando reistarti/latino na Ipanema"), gera uma situação na qual a criação de "fatos" e "verdades" pode ser manipulada com algum sucesso pelos grupos de comunicação de médio e grande porte. Ou, mesmo, por algum blogueiro de influência. E, com isso, gerar uma comoção de inimagináveis conseqüências, de acordo com o contexto. No presente caso, os ouvintes foram só tirados para otários. Mas se estivéssemos na Espanha moderna, vazar a “informação” de que em um bairro houvesse judeus a blasfemar contra a hóstia, teríamos em pouco tempo a explosão de um pogrom.

Sem dúvida, entramos numa nova fase da comunicação, na qual a internet e as redes sociais têm um peso de significância na transmissão de informações. Assim, esses "fatos" e "verdades" passam a ser não apenas da responsabilidade dos grandes núcleos que controlam as mídias de massa, como das pessoas que diariamente se ligam ao Facebook, ao Orkut, ao MSN e outros sites sociais.

Há uma coisa interessante a ser salientada: estamos aos poucos aprendendo a manejar com essa nova realidade e a ponderar sobre a atitude a ser tomada. Se houve pessoas que integraram movimentos de protesto contra a mudança na programação da rádio, houve outras que se posicionaram de maneira cética, com aquele pressentimento: "isso é jogada de marketing". Só que isso leva ao outro lado do problema: e se fosse verdade? Aí sim, os que tomaram parte do protesto estariam plenamente justificados.

O jogo da informação é uma grande pegadinha. Que tem, de alguma maneira, de ser resolvida. (Momento "puxando a brasa pro meu assado": particularmente, acho que a disciplina da história auxilia, em alguma medida, o aprendizado desse jogo).

De qualquer forma, fica o alerta.

9.8.11

Ajuda alimentar gera fome

 
Foi um acaso estar a ler um artigo sobre a Somália quase no mesmo dia em que saiu a notícia de que o governo dos Estados Unidos enviou uma ajuda humanitária ao país em questão (ver aqui; para ver as realmente terríveis fotos sobre a situação do país, aqui; mas, de boa, acho que não vale a pena olhar... ou vale, sei lá...)

Depois de pensar um pouco, resolvi escrever um textículo sobre o que veio em mente.

A ajuda econômica dos EUA não é uma ajuda humanitária. É, sim, uma política de Estado. Uma política imperialista.

Desde o século XIX o EUA subsidia a produção interna de grãos e carne para serem revendidos no mercado internacional a preços baixos. O objetivo desta política é o de capturar diferentes mercados nacionais de alimentos. A crise da triticultura do Rio Grande do Sul dos anos de 1820 não se deveu apenas à praga conhecida como "ferrugem", mas também à concorrência do trigo estadunidense. 

No pós-II Guerra, a ajuda econômica oferecida por meio do Plano Marshall impunha a obrigação de o país receptor utilizar parte do empréstimo na compra dos produtos norte-americanos. Os Estados europeus, em algum tempo, conseguiram se livrar desse entrave à produção alimentar interna. No entanto, os Estados do Terceiro Mundo, não, e tiveram sua produção agrária severamente afetada com a avalanche de soja e milho em seus mercados.

Nos anos 80 e 90, esse processo se intensificou com a generalização das reformas impostas pelo FMI e Banco Mundial. A Somália é um (triste) bom exemplo. Era um país composto por uma população majoritária de camponeses e pastores, que era base de um mercado interno que garantia a auto-suficiência alimentar. Com a implementação das reformas a partir de 1981, gerou-se a crise econômica e social que assola o país até hoje. A moeda nacional foi desvalorizada, enquanto que sua emissão foi congelada; estas medidas levaram à inflação, que causou um aumento nos preços dos combustíveis, dos fertilizantes, dos insumos agrícolas e pecuários. O mercado foi desregulamentado, de modo a permitir a livre entrada de produtos importados, ao mesmo tempo em que aumentava a "ajuda" alimentar norte-americana e européia. O preço dos alimentos produzidos no país por camponeses e pastores aumentou, enquanto que entravam os baratos grãos e carnes estrangeiros. Isto, aliado a outros fatores (como a redução dos gastos sociais em educação e saúde, junto com a diminuição dos salários reais) levou ao colapso do sistema social e econômico nacional.

Ao olhar algumas das fotos vinculadas ali no Estadão, fico a imaginar que boa parte desses pobres errantes eram camponeses ou cuidavam de pequenos rebanhos, e com isso se mantinham. A fome não é um fato natural entre os homens. Especialmente nos países assolados pelas medidas de "austeridade fiscal" dos FMI-BM, a fome é pensada, planejada. A fome é criada artificialmente e atende a interesses escusos. Enquanto que o FMI globaliza a pobreza, a mídia corporativa se empenha em defender que a fome na África (e em outros países do Terceiro Mundo) é endêmica, natural.

Duas interessantes leituras sobre o assunto são:  
CHOSSUDOVSKY. A globalização da pobreza: os impactos das reformas do FMI e do Banco Mundial. São Paulo: Moderna, 1999.
e
FRIEDMANN, H. The Political Economy of Food: a global crises. New Left Review, London, n.197, 1993.

25.6.11

Onde estaríamos nós cultural e materialmente sem alfabeto, sem escrita, números e matemática?

Enfim, o que seríamos sem a ciência ocidental???


(origem da foto, aqui)


(fonte da imagem, aqui)


(fonte da imagem: aqui)

12.6.11

companhia da ausência

Depois que tu te foste
não dormi sozinho à noite.
Fiquei enamorado
com o pouquinho que restou de ti
nos meus lençóis.

11.6.11

Revolução burguesa no transporte público de Porto Alegre

O transporte público de Porto Alegre precisa passar por um revolução burguesa. O monopólio de meia dúzia de empresas de ônibus sobre a circulação de massas deixa a população sem alternativas. Quem sabe se não está na hora de abrir o ramo para a concorrência de pequenas empresas? Como, por exemplo, o tranporte realizado por carros, que juntem três, quatro passageiros, do bairro até o centro, e vice-versa, por um preço bom. Ou por vãs. Talvez isso venha a forçar as empresas a repensar seu ávido desejo por altas margens de lucros e as faça estancar - ou mesmo baixar - o custo das passagens.

10.6.11

Algo a ser repensado: greve na Universidade

Eu acho a atual greve dos servidores da UFRGS muito mesquinha. Está certo que tem que se lutar, especialmente porque alguns funcionários recebem menos de mil reais por mês. 'Tá, mas e os funcionários terceirizados? Eles, que são os reais prejudicados na história toda, estão contemplados na plataforma de reivindicações? É sabido de casos de alguns funcionários que já receberam menos de 300 reais por causa do acúmulo de feriados em um mês. E os estudantes, motivo da existência da universidade, como ficam? Sem laboratório de informática; sem biblioteca; tomara que não sem RU.

Conheço funcionários da UFRGS que são muito sérios quando o assunto é a situação do trabalhador no mundo contemporâneo. Mas como é que eu posso ser solidário com um movimento que me prejudica? Como é que eu posso aceitar privações se o objetivo é melhorar a condição de um único grupo dentro da universidade? É complicado.

29.5.11

A família brasileira é um fantoche usado para cercear a liberdade política de muita gente.

26.4.11

Aproveita o dia!

Ele estava com a cabeça escorada no colo de sua amiga. Levemente inclinada. Sentiu, de súbito, um baque grave. Não se mexeu, mas sentiu o impacto. Devido à grande quantidade de pessoas que passavam, não se sabe de onde veio a pedra arredondada que feriu o pescoço. Quase na parte traseira.

Seus amigos, depois de um breve silêncio, exclamaram vivamente e aproximaram-se dele. A coisa parece ter sido feia. Inchou. Pediram para que não movesse a cabeça, por motivo algum; e que aceitasse ser levado ao hospital. O rapaz negou o preocupado convite dos amigos. Preferiu continuar por ali, naquele campo, naquele gramado, a gozar do sol e da companhia.

Seguiram a esta cena situações cômicas. As pessoas olhavam curiosas para aquele indivíduo que passeava de cabeça inclinada. Ele bebeu seu chimarrão; conversou; tomou um sorvete. E a porra do pescoço doía. Mas o rapaz não dava bola, pois tinha tudo que precisava.

Os amigos foram enfáticos para que mantivesse a cabeça quase sobre o ombro; passaram a tarde a pedir para que fossem ao hospital, localizado ali perto. Continuaram ignorados pelo companheiro, apesar de este continuar com o estorvo.

À noite, o moço do pescoço torto foi para a casa da amiga. O dolorido e o mau-jeito não impediram que se deitasse e tivesse uma noite bastante gozada. Ao fim dos últimos minutos do dia, já cansado, quase a dormir, incomodado pela dor, decidiu endireitar a cabeça. Depois de um movimento fácil mas descuidado e um breve estalo, fechou os olhos de maneira profunda. Para nunca mais abri-los.

25.3.11

Passado e presente deixam tudo numa confusão só. Às vezes, o presente não passa de uma escolha por um ou outro.
o compromisso com o mundo começa com o compromisso consigo mesmo

11.2.11

Por uma política barata

Fazer passeatas é cansativo, geralmente chato e, quase sempre, possível só a estudantes que têm manhãs e tardes livres. Também tem o custo moral de se fazer parte de um movimento em que estão hasteadas bandeiras de partidos (ao menos pra mim). Além disso, qual o resultado prático dessas manifestações? Ao fim, acho que essas grandes atuações políticas são caras e apresentam escasso retorno.

Partindo desse exemplo, penso que os engenheiros políticos têm que pensar em formas políticas baratas, acessíveis. Algo que se possa fazer no dia-a-dia. Algo que vire rotina. Talvez esta política pequena, difusa, possa fazer com que manifestações maiores, gerais, tenham maior efeito.

Em vez de se fazer manifestações apenas em início de ano contra aumento da passagem, por que não fazer pequenos atos que denunciem, diariamente, o abuso levado à cabo pelas empresas de ônibus? Estava pensando em fazer pequenos desenhos, com algumas frases de efeito, em pequenos papéis e, no verso, colar um pedaço de fita durex. Pode-se pegar este papelzinho e colar do lado da porta de um ônibus. Isso não tem custo nenhum (precisa-se de papel, caneta e fita durex), é uma propaganda poderosa (quantas pessoas não terão lido até que o papel seja retirado), não se configura como vandalismo (durex não deve estragar o ônibus - basta tirá-lo) e é facilmente reproduzível (se se tirar o papel do ônibus, basta colá-lo de novo). Por isso mesmo, qualquer um pode fazer. Não é necessária nenhuma reunião.

Estava pensando também em frases: "pague com uma nota de 50 reais: sem troco = passagem de graça"; "cuidado: você será assaltado"; "usar bicicleta deixa as pernas torneadas". Uns desenhinhos toscos podem acompanhar essas frases.

Passeatas são importantes, sem dúvida. Mas aqui em POA parece que não tem função nenhuma. Pelo contrário, parece que apenas engessam a mobilização política. Por isso acho que é necessário pensar pequeno. Isso lembra aquele ditado: "de grão em grão a galinha enche o papo".

29.1.11

O que me cansa nos críticos liberais é que, para eles, a resposta para todos os problemas do Brasil e do mundo estão ou na ganância dos políticos ou na falta de moralidade e cultura das pessoas. É por isso que, contra alguns dos relativismos culturais ou pós-modernistas, o modelo de infraestrutura e superestrutura marxista ainda tem sua validade.

10.1.11

O mais impressionante é que não poucos gremistas queriam Ronaldinho de volta. Isso só pode ser culpa da onda de craque que tomou conta do RS nos últimos anos. Ou então se deve a um consumo excessivo de maconha - ao ponto de ter deixado a memória de muita gente tão fraca...