26.2.10

Tio Sam e Fidel no Parquinho

Uma coisa me parece certa: EUA e Cuba diferem mais por forma que por conteúdo. Comecemos pelo último ponto.

Ambos os países são Estados-Nações e guiam suas ações de acordo com estratégias comuns a qualquer outro Estado. O outro lado do espelho do controle de árabes ou persas (os "terroristas") nos aeroportos dos EUA é o policiamento da entrada de estadunidenses ou saída de cubanos de Cuba. Dizer-se liberal e capitalista em Cuba traria as mesmas penalidades que dizer-se comunista na década de 1960-70 ou islâmico, atualmente, nos EUA. Enfim, ambos países possuem políticas de controle ideológico.
Evidentemente, a luta política não é apenas ideológica, mas é também militar. Se o governo comunista cubano assassinou um número enorme de inimigos, quantos mais os Estados Unidos não o fizeram, levando-se em consideração os fatos de ser uma país não apenas mais antigo e poderoso, como um país que se envolveu em maior número de guerras. Se não podemos esquecer das centenas de pessoas silenciadas pelo regime de Fidel, não podemos esquecer as outras tantas igualmente vitimadas pela FBI e pela CIA, pelos marines e pelas bombas erráticas que caíram sobre hospitais (como aconteceu no Iraque). Indo e vindo,
ambos são Estados em estado de guerra.
Em termos de política interna, não parece haver diferença entre um país comunista de partido único e o domínio "liberal" de quatorze ou quinze grandes corporações. Talvez, nesse sentido, a diferença seja mais de quantidade que de natureza.
No que tange à alimentação, também vejo alguma semelhança. O outro lado de uma população empobrecida que tem facilidade de acesso à comida gordurosa e prejudicial à saúde é uma população ainda mais pobre que tem acesso a um mínimo de alimentação garantida pelo Estado.
O passado também apresenta paralelo interessante: ambos os países romperam de forma admirável com o jugo estrangeiro. E, em ambos os casos, alguém se deu mal. A consolidação dos EUA significou o extermínio de N povos nativos, políticas de controle sobre a América Latina, bombas atômicas no Japão e outros tantos mísseis no Oriente Médio; por outro lado, a consolidação da ditadura de partido único em Cuba não impediu a manutenção da pobreza do povo.


Possivelmente existem outras semelhanças de conteúdo listáveis, mas prefiro ir, agora, para a diferença de forma, que é fundamental: se os EUA são um país rico e poderoso (apesar de bastante endividado), Cuba não passa de mais um pequeno país paupérrimo da América Central, que procurou se manter longe do domínio norte-americano. Este pequeno fato torna cômico os ataques de pânico e raiva de todo bom liberal quando o nome deste pequeno principado vermelho é citado. Somente depois, e bem depois, outros países conseguiram a mesma façanha, como Nicarágua, Bolívia e Venezuela.

E onde quero chegar com estas pequenas reflexões? No seguinte: as disputas entre liberais e comunistas acabam sempre sendo estéreis porque cada um defende o seu lado manejando (ou escondendo) fatos e teorias de acordo com seus imperativos ideológicos. Se um diz que a terra do Tio Sam é o país da Liberdade e da Democracia e que Cuba é dominada por um tirano, o outro defende que em Cuba ninguém morre de fome e todos têm boa assistência médica em plena América Central, enquanto os Estados Unidos são um país imperialista que espalha pobreza pelo mundo. Eu diria que ambos os contentores estão corretos... e estão errados.
Liberais e comunistas são garotinhos que brigam constantemente no parque de diversões da ideologia, lutando pra ver quem vai se apossar do balanço. E, qualquer um que tome o brinquedo, uma hora estará no alto para, depois, voltar ao chão e ver recomeçar a briga. Com fortes possibilidades de ver a inimizade tomando conta do que fora seu até então.

9.2.10

Cutrale: Quem está gerando destruição para a sociedade?

1 de fevereiro de 2010

Do Passa Palavra

"A ocupação da fazenda grilada Capim, realizada em outubro de 2009, não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira que buscava chamar a atenção para a absurda grilagem de terras públicas feita exatamente pela transnacional Cutrale.

As ocupações denunciavam também a parcialidade da Justiça e do Executivo, extremamente lentos para arrecadar terras ou recuperar áreas da União griladas, porém extremamente ágeis na hora de reprimir e criminalizar os trabalhadores rurais sem-terra. Ao invés de se inverter as prioridades, o que temos visto nos últimos dias é um acirramento da repressão e do terror contra aqueles que lutam com muito custo para se manter no campo, viver e produzir com dignidade – ao invés de incharem ainda mais as já super-populosas cidades brasileiras. A resposta do Estado, no entanto, associado à grande imprensa e a serviço do agronegócio, é fortalecer ainda mais um modelo agrícola excludente e insustentável sócio-ecologicamente, agravando, em consequência, ainda mais o cenário de desequilíbrio ambiental e de calamidade social que temos vivido nos últimos tempos, principalmente nas grandes cidades brasileiras.

Ora, todas estas ocupações não são feitas sem um profundo conhecimento da região, de sua estrutura agrícola desigual, do cotidiano local e das necessidades das pessoas que lá vivem. Conforme o quadro abaixo, com dados oficiais do Incra, podemos verificar que esta empresa do agronegócio, mesmo monopolizando o bilionário setor mundial de laranjas e sucos, tem se especializado há anos em grilar médios e grandes latifúndios no estado de São Paulo. E mais do que isso: especula nestas terras de acordo com o interesse de seus donos e acionistas, e apenas produz quando e quanto bem interessa para os cálculos do seu monopólio de mercado."


Texto, na integra, disponível no endereço: http://www.mst.org.br/node/9010