19.8.11

Nossa rebeldia tem hora marcada na agenda do magnata

Tenho a impressão de que greve de professor só vai ser impactante no dia em que o alunado estiver no colégio. Eu fico imaginando umas cenas. Penso em possibilidades. As aulas "oficiais" podem ser reduzidas até os três primeiros turnos. Neste caso, quando encerrar a greve, serão menos horas para recuperar. Lucro para todos.
E o que fazer com os dois últimos períodos. Aí, só a imaginação e a vontade política poderão responder. Filmes? Teatro? Música? Aulas sobre direito e cidadania? Gincana? Futebol? Visita a museus? Elaboração de cartazes e exposição na Praça da Matriz? Ficar de bobeira no pátio, trovando fiado? Quando falo em filmes, música e teatro, penso não só no assistir, como no elaborar.
A nossa rebeldia é reacionária.

A tomada da reitoria da UFRGS foi um grande ensinamento: não passou de uma ocupação desocupada. Enquanto uns grupos pensavam em coisas, em ocupar o espaço, conversar, conhecer gente nova que estava ali pelos quase mesmos motivos, o pessoal da liderança estudantil, que tomou a iniciativa e a frente do movimento, só aparecia na hora de assembléia. Melhor, a assembléia só aparecia na hora da assembléia. E em um dia, esse mesmo pessoal decidiu que iria encerrar a greve porque as reivindicações tinham sido atendidas. Tinham mesmo?... (Houve gente que na minha frente vaticinou que a ocupação não iria durar mais que um dia, por motivos particulares de um grupo. Dito e feito).

Da mesma maneira, as mobilizações de Porto Alegre desmobilizam. Veja o que são as tomadas de ruas e praças pelos estudantes, com os partidos da esquerda à frente: é uma chatice, é uma procissão de ovelhas. Sempre a mesma coisa, com discursos, bandeiras, megafones e ladainhas caquéticas. Nessas oportunidades, não há provocação aos participantes para a imaginação, para a inovação. Não!, é sempre a mesma tranqueira. A última Marcha da Liberdade aqui foi o pior exemplo disso. E na hora eu ainda me perguntava pelo porquê de haver tão pouca gente ali. Preguiça, ativismo exclusivamente virtual... Mas a resposta era óbvia: as pessoas já sabiam o que iam acontecer.

Se há algo para fazer, esse algo não é ainda sair de casa. Para quê? Para sair e ver tudo ocorrer com o mesmo modelão de sempre, com os astros a brilhar e a orquestrar os eventos cíclicos? Not!

Temos que pensar e ensaiar baixinho, sem pressa. A falta de pretensão no fazer pode ser a liberdade do criar. Instaurar o caos seria interessante. Criar o sentido, nas suas três vias. Sentir, ter significado e ir para algum lugar. Brincar com barro e se sujar. Fazer bonequinhos com massinha de modelar. Divagar. Falar bobagem, como estou aqui a fazer.

Sim, quando eu escrevo isto, faço um desafio a mim mesmo.

Na minha cabeça, uma coisa é certa: o protesto costumeiro faz parte desse sono que a gente tem hoje. Tomar a Salgado Filho não vai parar nunca qualquer aumento de passagem. Eu, com esses meus textos toscos, não vou a lugar algum. Ficar em casa não vai tornar o aluno mais comprometido com a sua escola e com a coisa pública (que é sua, também). Enquanto fugirmos da angústia, da incomodação, da sensação de impotência e da dúvida cruel, nossa massa encefálica continuará a bocejar no dia-a-dia. O dia-a-dia é a resposta.

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