Quem nunca sentiu que estava perto da morte? Aquela sensação angustiante de que tudo o que há pode chegar ao fim, ir por água abaixo?
Essa é uma sensação que me vem com certa freqüência... e é quando tudo faz sentido! Se se pensar os mil condicionantes e determinantes que na história possibilitaram o mundo atual e o meu nascimento, se se pensar tudo que vivi, de bom, de “hostil” e de mal – que, no final, é quase tudo bom –, então se chega à conclusão: é tudo um grande dom do acaso e da história! E assim como o recebemos, assim nos será retirado, o que nos exige aproveitar seus pequenos sabores – e disabores!
A sensação de morte traz sentido à vida: toda obrigação, tristeza e peso de viver parecem quase evanescer diante do nada da morte... e só então um raro – e indiscreto – gostinho de liberdade nos vem à língua.
Qual seriam as últimas coisas que você faria se soubesse que está para morrer logo? (pergunta clichê, eu sei, mas necessária). Normalmente, a resposta dada se resume a uma boa orgia, ou pelo menos uma sacanagem com aquela menina específica (e quem sabe até especial!).
Pois bem, e no caso de se receber a notícia do fim bem no meio da rua, sozinho, sem um puto pila no bolso, celular sem crédito, etc.? Nada de orgia! Quem sabe o desconforto, quase desespero, de perder tudo que tem na vida! O perigo de encontrar o diabo – e pior ainda. Deus! –, lá do outro lado, depois de uma vida inconforme!
MAS de que adianta esse medo diante do que não se conhece? Sócrates, em sua apologia escrita por Platão, diria que ter medo do desconhecido (no caso, o que vem depois de morrer) não passa de pura arrogância.
Basta parar para sentir o corpo relativamente saudável, lembrar os bons amigos que se fizeram no dia-a-dia, a família, os amores... o sol quente... e mesmo o ar poluído da avenida Ipiranga. Nesse momento incompreensível, em que tudo na vida corre o risco de ser perdido (como se nós tivéssemos, de fato, alguma coisa), é que podemos separar o joio do trigo, separar aquilo que dá algum sentido à vida daquilo que fazemos por força de obrigações... aí então, como que sem o peso da muita tralha que carregamos todo dia conosco (trabalho, desentendimentos familiares, bestas obrigações ditas morais, etc.), vem aquela sensaçãozinha de “livre” – “que diferença faz tudo isso pra mim”, seguido de um sorriso muito arejado.
A sensação de morte liberta, nem que seja por um curto tempo, mas liberta.
4.9.07
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8 comentários:
Uma manifestação metafísica após ler teu texto... A sensação da morte liberta para a vida porque a morte é a libertação da vida.
Muito bom o texto, pra variar. E ótimo o comentário da Flávia!
O pior é que existe gente que, por tanto pensar na morte, se esquece de viver. E quando se dão conta, é tarde demais.
Abraços!
� por isso q as pessoas bebem...
cara, a maior sensação de liberdade (seja ela antes da morte ou bêbado, como lembrou o Rodrigo) é a liberdade sexual... liberdade dos grilhões que nos prendem à moral torpe, por isso que todo mundo pensa em sacanagem quando fazem essa pergunta...
Atualiza essa porra!
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