7.11.06

A historicidade das relações e dos sentimentos

Pq desse apego impertinente a representações? Pq do desespero de querer um celular com tirador de foto? Pq desse mania de querer quem não nos quer, um alguém que nos ignora, um alguém com quem talvez até nem se fale mais direito?

O Nietzsche dá uma orientação. Diz ele: o que faz com que algo se grave profundamente na nossa memória não é nada senão o sofrimento. Como inculcar na cabeça dos homens de uma sociedade que matar é errado? Basta aplicar penas públicas atrozes aos culpados (ou supostamente culpados) de homicídio, para que o horror se encarregue de lembrar ativamente aos outros o impedimento de matar.

Havia a uns sete anos um menino de uns 14 anos que realmente não suportava uma determinada menina. Era uma presença, pra ele, desagradável. Até que a conheceu. Menina simpática, tri gente boa. O tempo foi passando, a amizade se estreitando. A empatia era admirável. Foi esquecendo todas as outras... e o centro do seu mundo passou a ser ela!

E qual o fim dessa história?

Um coração rasgado depois do fim. As dores de uma criança nunca devem ser igonoradas, principalmente quando ela perde boa parte do sentido de sua vida...

E, me pergunto, o que fez com que esse rapaz de 15 anos mantivesse uma lembrança tão triste daquela minina tão especial? Como disse o Nietzsche, o sofrimento. Na locura de se prender a uma "representação de relação" q não correspondia mais à relação efetiva (e afetiva), o pobre menino acabou se estragando... Mas, e se por acaso ele tivesse dado espaço pras outras meninas que estavam ao seu redor, que lhe dedicavam atenção e por quem ele correspondia? Tudo tendia a ser mais claro...

Ouço a voz do Chico Ciência:


"Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente,
que não sejam forjados para acontecer.
Deixai q os olhos vejam os pequenos detalhes lentamente".

Deve-se sempre estar atento a historicidade de cada coisa, mesmo dos sentimentos e das relações. Por exemplo, no caso de dois amigos muito amigos que se separam. Quem garante q no reencontro a velha afetividade voltará? Ninguém nem nada garantem. Não se deve cair na estupidez de acreditar que as relações reais (distanciados por um tempo) seguem a representação que se formou a respeito da antiga relação. Muito menos, muito menos, muito menos o contrário: não se deve fechar completamente a esse reencontro, pois nada impede que os vínculos se mantenham fortes apesar do tempo.

Não se deve esperar nada de coisa alguma. Deve-se silenciar, apreciar como as coisas se dão, deixar o coração falar e, por fim, deixar as coisas acontecerem (ou não acontecerem, dependendo do caso).

E não poderia terminar o escrito sem a autoridade do poeta:

"Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar
A sorrir,a cantar, a pedir
A beleza de amar

Como o sol
Como a flor,
Como a luz
Amar sem mentir, nem sofrer".

A nada que traz ácidez ao coração deve ser dada atenção, inclusive disputas por Centro Acadêmico...

2 comentários:

Luiza disse...

é.. é a vida. Acho que a tal falta que sentimos gera esse sofrimento. Ou a propria falta eh um constante sofrimento. Não tem como escapar dessa condição. E quanto mais conhecemos (ou tentamos conhecer) o mundo, nossa condição e tudo mais... mais sofremos. Talvez o ideal fosse viver numa ignorancia profunda...

ai ai... entre ignorancia e sofrimento, me contento com minha condição de constantes inconstantes depressoes.
bj, moço!

Luiza disse...

e sobre a menina e o menino...
desilusões sempre vão nos acompanhar, infelizmente. Mas eh mais preferivel as desilusoes que a falta deste gostar.

Mas, mas, mas...
o que me consola eh que tem muuuuita gente neste mundo que ainda podemos conhecer. Algum destes há de ser A pessoa.

ehehehehehe.
bjbj.
Ah, to sem fazer nada aqui em casa... fussando nos blogs de conhecidos e desconhecidos. bjs