Leia o livro de um liberal qualquer (de preferência da escola de Chicago) e, antes de usá-lo para limpar a bunda, reflita: um empresário que deseja apenas que o governo não interfira no seu negócio, sem ter, assim, que se preocupar com CLT, conservação do ambiente e "bobagens" afins, enfim,um empresário que só quer ser livre, está errado em desejar isso? Ele entra em contradição?
Para mim, NÃO! Se alguém, para se dar bem, precisa passar por cima do outro, o mínimo que se espera dele é que queira ter liberdade para fazer isso. Quando defende seus pontos de vista, ele pode usar argumentos muito coerentes e corretos.
Então, por qual razão muitas pessoas sentem certo asco, repugnância ou raiva quando lêem esses caras?
Fato simples: o pano de fundo.
Qual o meu pano de fundo, em termos de sentido de vida e sentido de manutenção da vida - duas coisa que são praticamente a mesma coisa? E qual é o pano de fundo desses liberais, em geral? É aqui, pois, que se encontra a chave da resolução do problema: mesmo excluindo questões de qualidade de argumentação, a grande divergência se encontra na diferença abismal de sentido da vida, no sentido de formas de relação entre os homens e de formas possíveis de se manter o mundo material (este, intimamente relacionado ao mundo "espiritual").
Qual o sentido da minha vida? De uma forma tosca e rápida, poderia dizer que é viver em paz comigo, com meus amigos e meus amores, e conseguir me manter numa forma de trabalho que dê mais sentido pra minha vida, me fazendo viver melhor o mundo, não só pelo dinheiro, mas pelos amigos do serviço, por certos conhecimentos aprendidos, por certas sensibilidades desenvolvidas. Tem muito mais, é claro, mas isso já serve como resposta rápida. Agora, quais os nortes de um defensor do capialismo? Basta ler a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, do Max Weber, para se ter uma noção.
Defesa do sistema de relações não é tanto uma questão de argumentação, mas principalmente de fé. Um anarquista e um liberal podem ter posições completamente diferentes e, ainda assim, os argumentos de ambos serem completamente coerentes, quando estes argumentos estão relacionados a própria fé, ao próprio pano de fundo. Agora, como vão se resolver essas diferenças de verdades contraditórias e não excludentes? Essa é que é a grande questão.
10.10.07
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5 comentários:
Muito bom!
Muito bom!²
Antagonismos complementares são a base de todo pensamento. Diria Paul Veyne: programas de verdade diferentes convivem nas mesmas cabeças, porém não sempre nos mesmos momentos.
Eu acho que não
Seguinte, sobre o primeiro parágrafo, acho que te confundistes entre liberdade e liberalidade, hedonismo. Essa diferença é fundamental, porque liberdade sem responsabilidade, aonde você pode fazer o que vc quiser, cagando pros outros, por achar que vc é livre, é hedonismo.
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