14.8.10

Ismos imperiais

Fascismo, comunismo, socialismo, liberalismo e até mesmo o anarquismo são tendências políticas que, apesar de muito diferentes entre si, apresentam uma linha que as une. Todas elas pretendem implementar um sistema único de organização da sociedade. (Se preferirem, talvez o anarquismo não se encaixe neste perfil.) Seus principais intelectuais são vistos como profetas e seus defensores menos inteligentes (e por vezes até os mais inteligentes) agem como verdadeiros apóstolos. O maniqueísmo é um elemento discursivo central: se a minha fé pode garantir o bem-estar da população e o progresso (palavra-chave), o diferente é sempre o outro opressor e ganancioso. A implementação do sistema ideal na sociedade deve ser total - deve compreender a tudo e a todos. Dois bons exemplos, um socialista e outro liberal: as fazendas coletivas stalinistas e a implementação da propriedade privada sobre a terra na Inglaterra e na Índia, levadas a cabo pela Inglaterra. Em sentido inverso, estas duas políticas, opostas por natureza, implementaram de cima para baixo um sistema de organização fundiário que desestruturou as formas tradicionais de acesso e uso da terra. Evidentemente, foram processos muito diferentes, com premissas e resultados igualmente diferentes. Mas a perspectiva é a mesma: a estrutura econômica e social foi reorganizada de acordo com as diretrizes ideológicas de quem detinha o poder. Nesse sentido, parece-me que os ismos só podem ter sucesso quando se sobrepõem aos demais e os aniquilam. Os ismos são expansionistas por natureza e guiados por uma meta imperialista. Dito isto, pergunto: quais as diferenças de formato e de método entre o dce de esquerda e o dce liberal? Ao que me parece, a partir dos fatos de conhecimento comum, se existem, talvez sejam poucas. E insignificantes.

Um comentário:

nome: tecnocaos disse...

Cara muito boa sacada do caráter imperialista e expansionista de todos os ismos. Genial. Ajuda a entender como as coisas funcionam.

É este tipo de senso crítico que nos leva a reconstruir o modo de pensar a ação política ou cidadã, ao invés de só abraçarmos uma bandeira qualquer.

E o lance do DCE acho que é bem notável mesmo: eu posso perdoar a simplicidade ideológica de muitos grupos sociais, menos de universitários de classe média (principalmente os de humanas).