13.5.08
Toma cuidado, Lu!
Canção de um pastor de cabras teocrítico
Eís-me deitado, doente do intestino -
Os percevejos me devoram.
Lá adiante ainda há luzes e barulhos!
Escuto-os dançarem...
Ela queria, a esta hora,
Escapar até onde estou.
Espero como um cão -
Não vejo sinal dela.
E o sinal-da-cruz quando prometeu?
Como podia ela mentir?
- Ou corre atrás de qualquer um,
Como fizeram minhas cabras?
Onde arranjou o vestido de seda?
Ah, minha orgulhosa!
Haverá outros bodes ainda
Nesse bosque?
- Como torna confuso e envenenado
A espera amorosa!
Assim brota, na noite abafada,
O cogumelo venenoso.
Amor me consome
Como sete males -
Não tenho apetite para nada
Adeus, minhas cebolinhas!
A lua já se pôs no mar,
Cansadas já estão as estrelas,
Cinzento nasce o dia -
Eu bem que morreria.
(Frederico Nietzsche. A Gaia Ciência. Apêndice: Canções do príncipe Vogelfrei. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 302s)
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