A última terça-feira foi o dia do trabalhador, dia idealmente pensado para lembrar as conquistas dos diferentes grupos de trabalhadores ao longo da nossa história, com suas greves e reivindicações, além de ser um momento para se pensar sua situação atual.
A Rede Globo, como todos sabemos, adota uma postura bastante diferente, mostrando que, ao contrário de outros – conturbados – lugares do mundo, aqui no Brasil só tem show e festa no primeiro de maio. No entanto, mesmo precavido, não esperava que pegassem tão baixo, literalmente, na sua programação, como a seguir me explicarei.
No programa da Puta Menegel, digo, da Xuxa, a Putinha dos Baixinhos, passou um episódio para mim inédito do Bob Esponja Calça Quadrada. “Legal!”, pensei comigo.
Era um episódio em que o protagonista devia tirar férias de seu emprego, se não acarretaria multa ao Siri Cascudo, dono do estabelecimento de fast food onde o Esponja trabalha. Para quem não sabe, esse bicho amarelo é um alucinado por trabalho, dedicando-se habil e apaixonadamente à tarefa de preparar hambúrgueres. Seu prazer é a chapa e a gordura saturada, como ele mesmo diz, com um salário pior que o meu (sim, isso é possível e bastante comum), sem tirar descanso algum. Com o acúmulo das férias, o Esponja teve que tirar férias forçadas (!?), o que o levou a inventar mil artifícios para voltar à chapa (!?!?!).
Não sei quais serão as possíveis leituras dos muitos e pequenos telespectadores, mas me impressiona a sagacidade da companhia Roberto Marinho em tentar manipular os imaginários sociais – desde a infância!
Quando disseram que o Calça Quadrada era gay, nem dei bola, já que é questão de decisão puramente individual, em que ninguém tem nada a ver. Mas depois desse primeiro de maio, esse bicho entrou na minha lista negra. Isso não cheira a uma intenção de agenciar desde os primeiros anos os valores capitalistas de trabalho super-produtivo, de submissão decidida (quero dizer, feliz submissão), de ordem não-caótica (quero dizer, não-criativa)?
Alguém pode dizer: “Lu, isso é coisa da tua cabeça! É mania de perseguição!”. Sim, sei que sou meio paranóico, mas acho pior (ou pelo menos tão ruim quanto) tomar uma postura ingênua e acreditar que tudo é inocente ou sem intenção. Desconfiança, antes de tudo! Até pode ser que os autores do desenho não tivessem intenção alguma, mas o que sei é que aquele capítulo defende explicitamente o comportamento ideal esperado de um operário qualquer!
Os criadores até podem ser bem intencionados, ou nem mesmo ter pensado nisso, só que não dá para esquecer que eles têm contratos multi-milionários com as grandes emissoras de tv, estas com audiência mundial. Não da pra esquecer também que essas mesmas emissoras servem a que tem Dinheiro. E quem tem Dinheiro? (quando digo Dinheiro, com maiúscula, me refiro àquela quantia que só meia dúzia de privilegiados consegue imaginar – ou ter).
Posso até imaginar os cursos internos de aperfeiçoamento do Zaffari passando os desenhos do Bob Esponja Calça Quadrada...
4.5.07
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Um comentário:
Cara, eu não vi esse episódio, mas o Bob Esponja é um desenho bem irônico, e os seus personagens são exageradamente ridiculos, mas sempre possuem algo em comum com a nossa realidade.
Talvez o objetivo do desenho seja a crítica, até porque o Bob Esponja é um desenho francês completamente fora do comum, até porque duvido que a Globo dê muita importância para a programação infantil.
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