Imagine um candidato que apareça como um Messias, amigo íntimo do trabalhador, contrário a toda a corrupção e defensor do bem-estar dos fracos e oprimidos, como mulheres, idosos e crianças. Além disso, que o mesmo candidato paute seu discurso na existência de duas grandes forças universais, opostas entre si, e que está definitivamente comprometido com aquela que é a favor do povo. Pois bem, este tipo de candidato é bem conhecido e o senso comum político já lhe deu um títul0, que é o de populista. E, com as características que citei, se poderia considerar este suposto candidato como um populista muito mau-caráter, porque pretende se legitimar / desprestigiar todo o adversário por meio de instrumentos discursivos e emocionais e não apenas por meio do discurso racional.
No caso brasileiro, há alguns anos, o populismo recebeu uma alcunha própria: o lulismo. Os bons liberais vociferavam contra a figura do atual presidente da República, delineando-a como a de um déspota da década de 1930, condutor de massas ignorantes. Praticamente um novo Getúlio Vargas ou Mussolini. Outros, como eu, apesar de concordâncias em relação a algumas das tendências (sociais) do partido, preferiram adotar oposição por discordância quanto ao tom da propaganda.
E o que encontramos nas atuais eleições? No meu entender, uma nova forma de lulismo. Desta vez, um lulismo de direita, teocêntrico e exacerbado. Um médico religioso que é contrário a políticas de saúde pública que permitam às mulheres pobres abortarem filhos indesejados. Um professor (como ele mesmo se qualificou) que tem as propostas liberais de criar uma figura fixa na estrutura escolar do País que é a do professor assistente estagiário (por quê não um contratado?) na educação infantil e de estimular financeiramente escolas e professores que se saírem melhor nos exames de educação - o que é o mesmo que favorecer escolas que se destaquem por possuir melhor infra-estrutura e atender os filhos da classe média que não tem condições de pagar pela educação privada. Um político que se auto-intitula como “do bem”, inimigo de toda corrupção e que afirma que o vício na administração dos bens públicos é “coisa da gente do partido da outra candidata” - mas que não diz que seu nome está envolvido em um sério escândalo, o chamado Escândalo das Sanguessugas.
A propaganda do Serra, no meu entender, é uma afronta à inteligência e um golpe contra a política racional e democrática. Não me resta senão escolher pelo que é menos pior. Ou, no campo da educação, escolher pelo que é possivelmente bem melhor, apesar dos muitos pesares.
25.10.10
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Um comentário:
Cara, gostei do teu ponto de vista. Por achar que o nível do debate eleitoral está muito baixo, mas muito baixo mesmo, pouco tenho pensado sobre essas eleições onde a religião e o moralismo de direita estão presente em ataques e defesas de ambos os partidos em disputa. Me entristece muito como a Dilma está se deixando guiar por toda a "Cruzada Serrista" para aproveitar o teu palavreado...
Mas o que mais me entristece é o fato de o povo apoiar essa utilização da religião como se ela fosse quem ditasse as regras no nosso Estado [apesar de não parecer] laico. E ainda essa de cidadão de bem... Bem distante do povo, bem preocupado com a elite e sua manutenção!
Estou acompanhando teus textos.
Abraço
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