Padecia daquele mal que impedia dormir. Uma, duas, três horas da madrugada. Ficava acordado, zapiando canais; havia também as inutilidades na internet. Numa das noites, cansou e foi para cama. Não dormiu. Levantou-se e abriu a última das cervejas. Terminada a lata, decidiu enfiar o pé na jaca. Tomou alguns trocados consigo e pôs-se na rua.
Partiu para a casa de uma ex. Ex-amante. Ex-namorada. Ex-amiga. Tocou como louco o interfone de sua casa. Bateu palmas. Gritou. Uivou. Ouviu os xingamentos de vizinhos e do tio da moça. Enfim, a mesma deu-se ao trabalho de sair de casa e, com xingamentos a cada dez palavras, perguntou o que estava ele a fazer ali. Ele disse estar apaixonado. Tudo ocorreu da forma a mais equivocada entre eles dois. Sabia estar errado. E ela também o estava, em alguma medida. Perguntou se ela tinha cervejas. Ela praguejou o mandou-o pastar.
Ele pediu calma e licença para entrar. Ela resistiu, mas cedeu. Sabia que seu pau era potente. Entraram, tomaram cervejas, conversaram e fuderam. Fuderam à velha maneira. Saíram sujos, suados. Fluídos de animal pelo corpo, especialmente na região do ventre. Ele deu uma última lambuzada no rosto dela, beijou-a e partiu. Iria procurá-la daqui a alguns dias, para transarem novamente. Dessa vez, ela quebraria o único vaso de flores que havia na casa no torso do rapaz. Mais um mês, ela ligaria para ele. Mas isso ainda seria futuro. A noite não acabou.
Passou perto de um bar e pediu uma cerveja. Conversou com o dono do estabelecimento. “Estabelecimento” é elogio para a pocilga em que se encontrava, um legítimo buteco com velhos bêbados tomando pinga barata com coca-cola. Catinga de álcool com cigarros paraguaios e barulhos de pigarros. Escarros pelo chão. Conversa sobre putas e bêbados. Descobriu que havia uma vagabunda que, não longe dali, se entregava fácil para quem lhe pagasse cinco pilas. Com as bolas murchas, nem cogitou no empreendimento. Quem sabe no futuro? Pensou no fudúm dessa menina. Quinze anos, segundo o biltre que lhe atendia. Que horror! Pelo menos não era sua irmã.
Quase quatro horas, com o bar prestes a fechar, "decidiu" que era hora de voltar para casa. Quase sem dinheiro, longe de casa, tomou outra “decisão”: voltaria a pé. Não precisava se preocupar, porque no dia seguinte não iria trabalhar: o bom e velho sábado! Lembrou-se dos botecos com seguranças e com cobrança pela entrada. Sentiu vontade de vomitar. Não sabia se pelo excesso de álcool ou pela imbecilidade da classe média. Classe média da qual “honrosamente” participava. Vomitou pelos dois motivos, possivelmente.
Na longa trajetória até sua casa chegou à conclusão de que seria melhor ter ficado em casa. Lembrou-se dos canais de tv, do orkut e da foda e da gozada e desistiu do arrependimento. Pernas cansadas e mendigos pela rua. Nossa, sentiu como era fudida a sua vida! Sentiu um auto-desprezo sem tamanho. E muito medo, porque os trombadinhas o espreitaram. Ouviu coisas como “perdeu, tio, passa o que tem!”. Como realmente não tinha nada, tomou uns sopapos, acertou um ou dois socos, e o deixaram em paz. Precisava de mais algumas cervejas. Mas não tinha nem dinheiro, estava longe de casa e com um gosto de soco na boca. Ao menos chegou a ter um gozo naquela noite.
Mas não foi por sexo que saiu. Nem por diversão. Realmente, não sabia o que fazia ali. Por que não dormia? Não sabia. Só sabia que precisava de um pouco de cerveja; e um carinho.
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