23.6.09
Questão de classe
Ouçam a nossa voz!
22/06/2009
Nós, professoras e professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Porto Alegre, localizada em Porto Alegre, Morro Santana, que atendemos 800 alunos – em sua grande maioria carentes – da educação infantil à oitava série do ensino fundamental, resolvemos abrir nosso coração e dividir com vocês algumas coisas que muito têm nos incomodado com relação aos (des) caminhos da Educação do RS.
Através deste documento, gostaríamos de tornar públicos nossos sentimentos em relação às mudanças que estão sendo veiculadas sobre nosso Plano de Carreira. Essas mudanças, do nosso ponto de vista, não têm por objetivo a melhoria da Educação Pública do RS, e sim, de transformar a escola em uma empresa. O objetivo de uma empresa é gerar lucros. O objetivo de uma escola pública é gerar cidadãos conscientes, capazes de interferir em suas realidades para transformar o mundo em um local mais fraterno, justo e humano. Isso não pode ser medido com números e índices de pesquisas.
Queremos manifestar nossa indignação não apenas com nosso baixo salário, pois este fato já é bastante conhecido do público em geral. Estamos indignados com a falta de respeito com que somos tratados por este governo, representado pela Secretária de Educação do RS e seus cargos de confiança. Em reuniões, jornais, televisão, rádio, eventos, etc, somos achincalhados, humilhados, chamados de acomodados, de preguiçosos, de estagnados, somos mostrados como “um peso” no orçamento estadual, nossas aulas são chamadas de “medíocres”, nossa formação é colocada como insuficiente. Em entrevista para a imprensa, a secretária declarou que “merecemos apanhar dos alunos” simplesmente pelo fato de reclamarmos nossos direitos cada vez que sentimos que eles estão sendo atacados e por sermos uma categoria organizada. Há anos lutamos pela Educação. É graças ao nosso esforço – e somente a ele – que o Rio Grande do Sul ainda tem os melhores índices de Educação do país.
Enquanto o governo corta investimentos em educação, descumprindo a lei de aplicar 35% do orçamento do Estado em Educação Pública, nós continuamos acreditando no aluno e trabalhando.
Nossa escola mantém projetos como: “Navegar é preciso, nas ondas da Língua Portuguesa”, um projeto interdisciplinar sobre a Reforma Ortográfica. Desde 2000, realizamos atividades dentro do “Projeto Consciência Negra” durante todo o último trimestre. Há anos mantemos o projeto “Idade Média na História, na Literatura e no cinema”, e “Mitos e Heróis Gregos”. Este ano, estamos organizando o projeto “Educando para a Cidadania”, envolvendo os professores de Ensino Religioso. Temos diversos projetos na Educação Infantil e anos iniciais. As fotos e os projetos na íntegra estão em nosso blog (http://escolaportoalegre.blogspot.com) .
Sempre mantivemos reuniões pedagógicas, atendimento aos pais, gincanas culturais e esportivas, passeios culturais e de lazer, palestras e oficinas para a comunidade entre outras atividades. Investimos na apresentação e auto-estima dos alunos, promovendo recolhimento de roupas e calçados, livros paradidáticos, material escolar. Fazemos questão de organizar as formaturas dos alunos da Educação Infantil e da oitava série, celebrando-as como momentos únicos e um ritos de passagem fundamentais em nossa escola. Com todo esse trabalho e investimento pessoal do corpo docente, percebemos a mudança de postura e o crescimento de nossos alunos como pessoas e cidadãos.
Não gostaríamos de perder todas essas conquistas históricas e as vitórias que já alcançamos com nossa comunidade. Em nossa escola, temos uma marca muito forte de profissionalismo e compromisso. Buscamos formação permanentemente, levamos a sério nossas reuniões e projetos, vemos nosso papel como central na comunidade onde estamos inseridos. Porém, ultimamente, esse sentimento vem mudando... Nosso dia-a-dia tem sido tomado por colegas desestimulados, entristecidos, precarizados, buscando advogados para garantir seus direitos mínimos. Nunca ouvimos tanto a palavra “exoneração”, “cansaço”, “doença”, “dores”. Há colegas buscando ânimo até em medicamentos, travando uma luta pessoal contra o próprio desânimo e baixa auto-estima.
Pedimos sua ajuda para que esta situação não se torne ainda mais grave. Queremos ser ouvidos e respeitados, pois a grande maioria de vocês, nossos interlocutores, passou pela escola pública como educandos ou como educadores.
Pedimos que divulguem esse documento, repassem, deem sugestões e nos ajudem a encontrar saídas, lutando ao nosso lado.
ASSINADO: Professores da Escola de Ensino Fundamental Porto Alegre
Texto encontrado em: http://www.diariogauche.blogspot.com/
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