13.7.07

Texto sem sentido (definido)

Quem não sente que vive num mundo-fragmento? Me explico. Aquela sensação de ser um peixe fora d'água que, apesar dos amigos, famíla e conhecidos em geral, nos faz sentir deslocados a respeito do Mundo. Um mundo quase sem sentido, numa sensação de ilha sozinha no oceano. Talvez até tivesse um sentido se, ou me visse numa religião (com centro/sentido em deus-outro mundo), num partido (com centro/sentido na revolução) ou engajado no sistema (com centro/sentido no ter-parecer). Mas partindo desses três centros/sentidos, percebe-se que o mundo (enquanto sentido) é fruto de criação-imposição-recriação: os sentidos são (re)construídos e nos constroem na história. Nessa quase falta de sentido, o que resta é a construção de sentido, o que, convenhamos, não é nada fácil. Basta pensar na quantidade de niilistas na literatura desde, sei lá, fins do XIX, para se ter idéia de quantos não se atrevem ou não tem por onde, como ou porquê começar essa obra.
Nem sei o porquê de escrever isso. Sei lá, por que querer vidinha de professor de colégio público, ganhando pouco, vivendo cheio de bombas, com riscos sérios de agressões físicas? Por que não tentar me engajar no sistema, querer ganhar grana afú para levar uma vida in? Às vezes tenho quase uma certeza que vou me vender quando ficar mais velho. Isso que escrevo deve ser quase uma profecia. Mas muito bem baseada: quase todos se vendem ou acabam por se desiludir com algo - muitos mesmo caindo no niilismo.
E o que resta? Acho que só se agarrar aos princípios e viver uma vida em paz consigo. Viver uma vida em paz consigo por se agarrar aos princípios. Ética é uma palavra complicada. Normalmente está associada a algum imperativo, seja religioso ou filosófico. Deus manda ser bom... a Razão manda ser bom. Pro inferno com isso! E quem não acredita nem em deus e nem na razão? Por quê ser bom e reto? Por quê não ser egocêntrico, mesquinho e bem malvado - não é divertido estar por cima e pisar nos fracos?
Eís o grande risco de se tentar demolir com Deus ou com a Razão assim, à porra loca. Joga-se o bebê junto com a água do banho. Toda uma série de valores e práticas muito boas são colocadas como ruins porque associadas ao que se quer destruir, no caso, Deus ou a Razão. Não esqueçamos: quem jogou a ética e o bom de lado (sem necessariamente se desfazer de deus ou da razão) hoje não joga bomba em sociedades do Oriente Médio, não submete crianças à trabalho mega-explorador na China, não espanca trabalhadora pobre e negra em parada de ônibus? E mais ainda, quem não gostaria de, por exemplo, ao deixar cair o celular sem notar, ter alguém que pegue o objeto caído e o devolva com toda a gentileza, sem querer retribuição devolta?
Niet já deu uma boa orientação. A moral nobre não valoriza o útil, o benéfico, mas voloriza o que lhe é bom, o que acha belo, o que lhe faz sentir em paz e em regozijo consigo. Inclusive, o que é bom não é necessariamente associado com o útil. Devolver o celular de alguém sem pedir nada em troca não tem utilidade alguma, mas a sensação de ter feito a alguém o que gostaria que lhe fizessem é muito boa. E isso é o bom: tudo que acho bom para mim é o bom e é o que deve ser feito. Talvez quase por uma questão puramente estética, algo de curtir a ação. E não cometamos o erro de separar o sujeito da ação. Sujeito e ação são a mesma coisa.
Pois bem, posso não querer a crença de Jesus, mas nos evangelhos certamente existem ótimos indicativos de coisas nobres, assim como o há em Marx e Niet, por exemplo. A destruição porra-loca pode não passar de pura destruição. É só ação em negativo: coisa plebéia por excelência! A destruição positiva é não a destruição, mas construção: é uma construção que exige a destruição de algo. Isso é ação positiva.
O mundo hoje pode parecer não ter sentido, mas a preservação da vida é necessária para que a construção de sentido possa, quem sabe, ocorrer. Tudo pode parecer ruim, mal, hostil... mas quem garante o amanhã? Lembremos do que disse são Paulo: "Depois da tempestade vem a bonanza." Isso é o que chamo de imperativo de vida. A vida tem de ser mantida sem necessidade de explicações, quase como uma ordem. Deprimidos, angustiados, niilistas, desenganados do mundo: aguentem!, não joguem suas vidas fora por viver num mal momento. (sim eu sei, escrevo isso para mim mesmo para quando eu estiver mal).
Quando disse texto sem sentido, usei sentido no duplo sentido, de direção e de significado. Mas não que não tenha sentido, mas que não tem sentido (direção e significado) definido agora. É algo em curso ainda, meio sem saber por onde nem para qual lugar. É algo que vai. Quem sabe amanhã não terá algo mais definido?

4 comentários:

Eu mesmo disse...

Muito bom, muito bom mesmo!

nome: tecnocaos disse...

Como niilista congênito posso dizer que achei o seu texto deveras interessante.

Eu tenho uma teoria: aquele que acredita em Deus ou na Razão, também acredita nos infiéis ou nos irracionais, e por isso possui motivos de sobra para odiar e prejudicar os outros.

O verdadeiro niilista não. Ele não pode acreditar em Deus, nem na Razão, nem no Prazer e nem na Dor. Não pode fazer o "mau" porque não vê significado nisso, e se faz o "bem", o faz simplesmente por falta do que fazer, ou porque compreende que a sua vida depende de outros, e ajudar o próximo sem pedir nada em troca é uma questão de sobrevivência, convívio e seguridade.

vou amadurecer a idéia...

Anônimo disse...

Alo Tecnicocaos,
quem faz o mau não pode fazer o bem por que o antonimo de mau é BOM.
Quem não faz o bem tem que fazer o MAL.
Antes de discutir Nietzshe tem que aprender portugues.

nome: tecnocaos disse...

Anônimo,

genial o seu raciocínio, é mais ou menos como: "quem não dá esmola tem que chutar o mengigo". Com essa mente aberta tu vai longe... Só não entendi nada, porque tu falaste algo completamente diferente do que falei.

Creio que quem precisa aprender portugês é tu, além de não compreender o que escrevo tem a tua total incapacidade de utilizar "acento" e "vírgula".

E não conheço nenhum Nietzsche, mas posso afirmar que o que falei não tem nenhuma ligação com Nietzsche, até porque ele morreu faz tempo e eu não o citei.