23.12.09

Como vovó já dizia

Junte forças e veja o seguinte vídeo:



Agora, leia o que escreveu o mestre do roquenrou no Brasil:

"- Ih rapaz, hoje eu vi meu ídolo da juventude!
- Essas coisas já não me assutam mais! as laranjas continuam verdes...
- Peraí, não complica! Eu só disse que vi meu ídolo da juventude.
- Desse jeito, os discos voadores nunca vão aparecer!"

Essa é uma conversa que aparece em uma música do disco Sociedade da Gran Ordem Kavernista, do Rauzito. E me parece dizer duas coisas:
1) TODO FÃ É UM IDIOTA;
2) NXO, Strike e CPM22 e caralho à quatro fazem tanto rock quanto É o Tchan nos seus tempos de glória.

7.12.09

Procrastinação da moral

O futuro, sempre tão disponível para decretar essa modalidade de amnistia geral que é o esquecimento disfarçado de perdão, também é hábil em homologar, tácita ou explicitamente, quando tal convenha aos novos arranjos económicos, militares ou políticos, a impunidade por toda a vida aos autores directos e indirectos das mais monstruosas acções contra a carne e o espírito. É um erro entregar ao futuro o encargo de julgar os responsáveis pelo sofrimento das vítimas de agora, porque esse futuro não deixará de fazer também as suas vítimas e igualmente não resistirá à tentação de pospor para um outro futuro ainda mais longínquo o mirífico momento da justiça universal em que muitos de nós fingimos acreditar como a maneira mais fácil, e também a mais hipócrita, de eludir responsabilidades que só a nós nos cabem, a este presente que somos.

Texto completo aqui, retirado dos O Caderno de Saramago.

25.11.09


Jovens, saudáveis, felizes, limpinhos, bem-humorados e bem-intencionados.

Antes de tudo, ferrenhos defensores da liberdade!

[mais um capítulo na História Universal da Carochinha]

Foto: Zero-hora, aqui.

22.10.09

Carne fresca

A academia é um campo social como qualquer outro. Disputas, intrigas, hierarquias; mas também solidariedades, amizades e camaradagem. E me parece que as cenas mais engraçadas ficam no campo das ciências humanas . Mesmo estudando as relações sociais de outros povos e outros tempos com muita acuidade (ou pretensa acuidade), seus membros (dentre os quais me incluo) não conseguem perceber as relações de poder, as imposições de gosto e opinião, o lustrar constante da estrutura hierárquica. Exatamente aquilo que encontram em sua pesquisa. E eu posso tomar uma postura menos inocente: talvez os jogadores do campo da academia percebam muito bem as relações de poder, a tal ponto que as utilizam a seu favor.

Posso talvez resumir assim a estrutura do jogo:

{professor doutor > doutor > mestre > graduando veterano > graduando novato (o "bixo", que lembra algo de "o selvagem", o "sem-cultura")} > o resto do mundo;

assim como:

gestos, opiniões, gostos do superior > meus gestos, opiniões, gostos > gestos, opiniões, gostos dos inferiores.

É um esquema bem grosseiro, claro. Mas, em linhas gerais, não me parece equivocado.

Evidentemente, não são todos os membros que se enquadram no esquema. Mas ele, o esquema, é generalizado; é empregado e reiterado pela maioria daqueles que ocupam as posições superiores; é aceito e legitimado por aqueles que estão fora do campo e, principalmente, por aqueles que recém entraram. Em suma, os "bixos" são a carne fresca dos doutores, mestres e veteranos.

29.9.09

Economia como cultivo

O estudo econômico é um estudo sobre cultura.

Todo ato de produção, criação, troca e usufruto de bens, alimentos e artefatos acontece em um contexto social específico, caracterizado por toda uma sorte de hierarquias de valores, tabus, simbologias e representações. As pessoas não pensam apenas no que comer, mas também em como comer e o que não se deve comer. Os grupos humanos não pensam apenas nos animais que podem servir para o transporte ou o abate, mas também naqueles que são sujos e naqueles são domésticos. Por que não podemos comer um cachorrinho bem gordinho? Por que judeus não comem porcos? E o que é a terra? É uma propriedade alienável ou é a base onde se fincam as raízes de uma família? Qual deve ser o objetivo do uso da terra? Deve atender as demandas alimentares de uma população ou deve priorizar a produção de capital?

Não há produção, do que quer que seja, sem a lente do sistema simbólico próprio uma população. Enfim, a economia é um cultivo do homem.

10.9.09

Ôtoridade

A escola serve para fazer obedecer. Em história, não se aprende a historicizar, mas a respeitar a versão do professor... ou do livro didático. Em filosofia e biologia, também. A escola, sem dúvida, ensina a disciplina e o fazer silêncio diante da autoridade.

Na universidade, a prática continua a mesma. Os universitários aprendem a obedecer, a seguir fórmulas e a citar autoridades. E as exceções só confirmam a regra.

14.8.09

O liberalismo dos pampas

Os temas polêmicos são uma chatice. Chatííííííce!!!!
Imaginemos uma situação. Digamos que Sarney seja culpado e ostracisado. E mandado para a China por vinte anos. Tentemos imaginar, também, as próximas eleições. Quem poderá ser escolhido para ocupar as cadeiras do Senado pelo Estado do Maranhão? Quem? Levando em consideração que os Sarney são deus no Maranhão, acredito que não será ninguém que não esteja sob a proteção desta distinta família. Então, como acabará este grande estardalhaço midiático? Acabará com pequenas alterações de poder em Brasília. Nada mais.
A democracia liberal no Brasil é uma luva de plástico, dessas de médico, colocada na pata de um cavalo. Especialmente fora do circuito sul-sudeste. O federalismo, desde sua implementação, serviu perfeitamente às grandes potências regionais, depois de resolvidas as disputas locais pelo acesso ao poder. A liberdade de ação nos sertões é a liberdade do estancieiro e da casa grande.
Mas não me furtarei a dar um pitaco sobre a forma de resolver a "crise" no Senado. Não sou desses que acredita em revoluções. "A Revolução", para mim, significa o mesmo que "Ele voltará". É uma fé que move corações. O mesmo tipo de fé que faz com que alguns intelectuais hostilizem "esquerdinhas" em defesa das liberdades de mercado. Indo e vindo, tudo é fé. Enfim, retomando a idéia, apesar de não acreditar na Revolução, acredito, com minha costumeira miopia e astigmatismo, que só um movimento anti-democrático e popularesco poderá corrigir as falhas da nossa democracia liberal. Desrespeitar a constituição, expropriar terras e fazer a reforma agrária. Sim, digo isso correndo o risco de me chamarem de comunistinha defensor do MST. Mas não me importo, pois é o que acho. A democracia liberal não serve para uma estrutura agrária que conheceu apenas pequenas alterações nos últimos trezentos ou quatrocentos anos. Ou serve? Pode ser que sim, quem sabe?

9.8.09

Pense bem antes de ir para Dubai

A mídia corporativa prega peças levemente irritantes constantemente. Em comunistas e liberais; em evangélicos e batuqueiros. São questões de ordem mais ideológica, de defesa ou ataque àquele político, àquela empresa, àquele grupo social. E, com uma frequência lamentável, tratam-se de assuntos pesados.

A leitura de um artigo da revista Piauí do mês de julho deste ano, me deixou alarmado nesse sentido. O título da reportagem é "Rachaduras no Paraíso", escrito pelo jornalista britânico Johann Hari, na edição 33 da citada revista. E fala sobre o lado desconhecido de Dubai. As propagandas internacionais voltadas para atração de mão de obra para o local, a situação em que vive essa mão de obra e o estilo de vida dos que têm dinheiro.

Até aí, "tudo bem". É uma reportagem, perdoem-me a expressão, tocante. Mas, como imaginei que os alvos das propagandas fossem países asiáticos, não fiquei muito preocupado. E aí vem o drama...

Há uns dez dias, no Jornal da Record, se não me engano, apareceu uma reportagem sobre os encantos de Dubai. Sobre a riqueza e o luxo. Sobre as possibilidades de emprego abertas às gentes pobres do terceiro mundo e a chance de se conseguir um bom pecúlio... sim, esse foi o momento do choque!

Além disso, essa novela global que foi filmada na Índia fez algumas boas propagandas de Dubai. Ontem mesmo, umas das personagens estava bem faceira porque iria fazer uma viagem para lá.

Bom, vamos ao porquê do meu alarde. Transcrevi abaixo alguns trechos da reportagem. E não farei mais comentário algum, pois não será necessário. A sensação que eu tenho é que se devia cortar os dedos e as línguas de certos jornalistas filhos da puta. E a quem dizer que sou contra a liberdade de imprensa, mando tomar no cú! Uma coisa é liberdade de imprensa e compromisso com a verdade - ou simplesmente com a própria fé - e outra é fazer propagandas de má fé que podem prejudicar significativamente a vida de alguém.

Seguem, abaixo, alguns trechos da reportagem:

"Entre os guindastes espalhados por toda parte, muitos estão paralisado, como que perdidos no tempo, e há inúmeros canteiros de obras inacabados, numa abandono completo. Nas construções mais arrojadas - como o hotel Atlantis, o pantagruélico castelo cor-de-rosa erguido numa ilha artificial em mil dias, ao custo de 1,5 bilhão de dólares - o teto está caindo aos pedaços. Nesta Terra do Nunca edificada num extremo do mundo, as rachaduras começam a aparecer. Dubai é uma metáfora viva do mundo globalizado neoliberal que pode estar desmoronando.
(...)
"Existem três Dubais diferentes, cada um girando em torno dos outros dois. Há os expatriados ocidentais, como Karen [uma moça entrevistada pelo jornalista], os árabes nativos ou dubaienses, liderados pelo xeque Mohammed, e a mão de obra estrangeira, que construiu a cidade e ali ficou presa. Essa última permanece invisível, apesar de estar por toda parte, enfiada em uniformes azuis e seguindo um regime de trabalho forçado.
"Todas as manhãs, os milhares de peões estrangeiros que constroem Dubais são levados dos canteiros de obras para uma imensidão de concreto, em pleno deserto , distante uma hora da cidade. Ali permanecem isolados. Até poucos anos atrás, eles eram transportados em caminhões de gado, mas diante do desagrado dos expatriados agora são levados em ônibus fechados, que funcionam como estufas no calor do deserto. Todos suam como esponjas sendo espremidas.
"Sonapur é uma cidade-dormitório de quilômetros e quilômetros de prédios de concreto, todos idênticos. Em hindi o nome significa "cidade do ouro". São cerca de 300 mil homens que moram amontoados. No primeiro acampamento que visitei, logo fui cercado por moradores, ávidos para desabafar com quem se dispusesse a ouvi-los. O lugar fede a esgoto e suor.
(...)
"Em Dubai, ao contratar uma empregada, você passa a exercer um poder quase absoluto sobre ela. Isso inclui reter seu passaporte, pagá-la quando quiser, decidir se ela terá direito à férias, e quando. Como a maioria dos empregados não fala árabe, as chances de escaparem dessa camisa de força são escassas.
(...)
"Por toda a cidade, projetos delirantes que antes estava "em obras" agora estão em ruínas. Entre eles, uma praia com ar-condicionado e um sistema de resfriamento da areia para os usuários não queimarem os pés no longo caminho entre a toalha e o mar.
(...)
"Dubai não é apenas uma cidade vivendo além de seus recursos financeiros. O emirado também vive além de seus recursos ecológicos. Vemos gramados bem cuidados, com irrigadores espirrando água para todos os lados, turistas fazendo fila pra nadar com golfinhos, pistas de esqui com neve de verdade construídas no interior de um shopping center, numa espécie de freezer do tamanho de uma montanha. Só que estamos em pleno deserto, num lugar que não tem água. Como isso é possível?"

Bom, isso é só uma palinha da reportagem. Se alguém quiser emprestada, é só pedir.

E devo fazer um último comentário. Esse jornalista é duramente criticado em um blog conservador. Bom, o dono do mesmo se diz conservador. E nada contra os conservadores, evidentemente. Clique aqui.

9.7.09

Minha escrita é previsível.

4.7.09

O franguinho da Sadia, sempre sorridente

No mundo cristão-"ocidental", a vida política e econômia foi sempre sensível à moral cristã. Geralmente, no sentido de ter sua dinâmica e força redirecionada ou aumentada. A violência feudal foi enviada para o mundo islâmico, com a promulgação da Paz de Deus e da Trégua de Deus. Sem elas, não haveriam Cruzadas.

Além disso, sem a ética protestante, a Inglaterra possivelmente não teria inventado o capitalismo.

Por mais religiosas que as Cruzadas e a ética protestante fossem, não eram cristãs em sentido restrito e original. Mas, ainda assim, a moral cristã era o elemento que lhes dava sentido e legitimidade.

Hoje, o capitalismo e as políticas estatais são laicas. Mas se utilizam dos rebentos modernos da moral cristã - a moral humanitária e a moral ecológica - como importantes instrumentos ideológicos.

A França, se não me engano, está entre os países que condenaram a Coréia do Norte por ter dado início à produção de material nuclear. Seu presidente, Sarkozy, anunciou que a França será o primeiro país a começar a campanha do desarmento, com a interrupção da produção de materiais de fissão explosivos e com o fim de testes nucleares. É engraçado, pois defendem o desarmamento atômico com um stock de 300 ogivas nucleares! Veja a notícia aqui.

A Wal-Mart entrou na campanha de substituição de sacolas de plástico pelas de pano. É uma empresa bem ecológica. Só espero que o próximo passo seja diminuir a quantidade de luz pra manter o Big ligado. E deixar seus funcionários estadunidenses se sindicalizarem.

Os termos politicamente corretos são símbolos de legitimiação muito disputados pelas grandes forças. A moral, seja ela qual for, é sempre necessária para pronunciamentos oficiais e propaganda. Seja para pôr um selo de garantia numa embalagem de gordura vegetal hidrogenada (basta dar uma olhada em revistas da década de 1970, como a Cruzeiro) ou para aplicar medidas nazistas à população "terrorista" palestina.

23.6.09

Questão de classe


Ouçam a nossa voz!


22/06/2009

Nós, professoras e professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Porto Alegre, localizada em Porto Alegre, Morro Santana, que atendemos 800 alunos – em sua grande maioria carentes – da educação infantil à oitava série do ensino fundamental, resolvemos abrir nosso coração e dividir com vocês algumas coisas que muito têm nos incomodado com relação aos (des) caminhos da Educação do RS.

Através deste documento, gostaríamos de tornar públicos nossos sentimentos em relação às mudanças que estão sendo veiculadas sobre nosso Plano de Carreira. Essas mudanças, do nosso ponto de vista, não têm por objetivo a melhoria da Educação Pública do RS, e sim, de transformar a escola em uma empresa. O objetivo de uma empresa é gerar lucros. O objetivo de uma escola pública é gerar cidadãos conscientes, capazes de interferir em suas realidades para transformar o mundo em um local mais fraterno, justo e humano. Isso não pode ser medido com números e índices de pesquisas.

Queremos manifestar nossa indignação não apenas com nosso baixo salário, pois este fato já é bastante conhecido do público em geral. Estamos indignados com a falta de respeito com que somos tratados por este governo, representado pela Secretária de Educação do RS e seus cargos de confiança. Em reuniões, jornais, televisão, rádio, eventos, etc, somos achincalhados, humilhados, chamados de acomodados, de preguiçosos, de estagnados, somos mostrados como “um peso” no orçamento estadual, nossas aulas são chamadas de “medíocres”, nossa formação é colocada como insuficiente. Em entrevista para a imprensa, a secretária declarou que “merecemos apanhar dos alunos” simplesmente pelo fato de reclamarmos nossos direitos cada vez que sentimos que eles estão sendo atacados e por sermos uma categoria organizada. Há anos lutamos pela Educação. É graças ao nosso esforço – e somente a ele – que o Rio Grande do Sul ainda tem os melhores índices de Educação do país.

Enquanto o governo corta investimentos em educação, descumprindo a lei de aplicar 35% do orçamento do Estado em Educação Pública, nós continuamos acreditando no aluno e trabalhando.
Nossa escola mantém projetos como: “Navegar é preciso, nas ondas da Língua Portuguesa”, um projeto interdisciplinar sobre a Reforma Ortográfica. Desde 2000, realizamos atividades dentro do “Projeto Consciência Negra” durante todo o último trimestre. Há anos mantemos o projeto “Idade Média na História, na Literatura e no cinema”, e “Mitos e Heróis Gregos”. Este ano, estamos organizando o projeto “Educando para a Cidadania”, envolvendo os professores de Ensino Religioso. Temos diversos projetos na Educação Infantil e anos iniciais. As fotos e os projetos na íntegra estão em nosso blog (http://escolaportoalegre.blogspot.com) .

Sempre mantivemos reuniões pedagógicas, atendimento aos pais, gincanas culturais e esportivas, passeios culturais e de lazer, palestras e oficinas para a comunidade entre outras atividades. Investimos na apresentação e auto-estima dos alunos, promovendo recolhimento de roupas e calçados, livros paradidáticos, material escolar. Fazemos questão de organizar as formaturas dos alunos da Educação Infantil e da oitava série, celebrando-as como momentos únicos e um ritos de passagem fundamentais em nossa escola. Com todo esse trabalho e investimento pessoal do corpo docente, percebemos a mudança de postura e o crescimento de nossos alunos como pessoas e cidadãos.

Não gostaríamos de perder todas essas conquistas históricas e as vitórias que já alcançamos com nossa comunidade. Em nossa escola, temos uma marca muito forte de profissionalismo e compromisso. Buscamos formação permanentemente, levamos a sério nossas reuniões e projetos, vemos nosso papel como central na comunidade onde estamos inseridos. Porém, ultimamente, esse sentimento vem mudando... Nosso dia-a-dia tem sido tomado por colegas desestimulados, entristecidos, precarizados, buscando advogados para garantir seus direitos mínimos. Nunca ouvimos tanto a palavra “exoneração”, “cansaço”, “doença”, “dores”. Há colegas buscando ânimo até em medicamentos, travando uma luta pessoal contra o próprio desânimo e baixa auto-estima.

Pedimos sua ajuda para que esta situação não se torne ainda mais grave. Queremos ser ouvidos e respeitados, pois a grande maioria de vocês, nossos interlocutores, passou pela escola pública como educandos ou como educadores.

Pedimos que divulguem esse documento, repassem, deem sugestões e nos ajudem a encontrar saídas, lutando ao nosso lado.

ASSINADO: Professores da Escola de Ensino Fundamental Porto Alegre

Texto encontrado em: http://www.diariogauche.blogspot.com/

11.4.09

A desregulamentação é anti-liberal

O liberalismo não me traz desconfort0. Ele é o pai de todas as correntes políticas e econômicas modernas. Mesmo a idéia de desregulamentação do liberalismo radical é aceitável. O que trava na minha garganta é a defesa dessa desregulamentação num contexto de monopólio de muitos campos da economia por algumas poucas empresas. Retirar as limitações das grandes corporações econômicas é abrir a jaula dos leões. A defesa do liberalismo radical é razoável para aqueles que estão sob a tutela ou a serviço dos Gerdau ou dos Marinho. Do contrário, pode ser um ato estúpido. As pequenas e médias empresas correm perigo de serem engolidas ou perderem para uma concorrência desleal. Mais ainda, novas empresas ou iniciativas de grupos locais ficam fadadas ao sufocamento. Como montar uma rádio, por exemplo, com o controle das telecomunicações por meia dúzia de empresas midiáticas que obtiveram concessões públicas. Vou me arriscar a dizer que a desregulamentação, num contexto de monopolização de muitos setores da economia por poucos grupos, ainda mais num momento de crise, é uma atitude anti-liberal. Hoje, o que resta a maioria dos profissionais é ter que se empregar como funcionário dessas grandes empresas e se submeter a suas políticas. Que o digam os jornalistas e atores. Se o poderio destas mega-empresas é bastante limitador, mesmo com o controle existente do Estado, como seria se não existisse dito controle. A desregulamentação é o caminho da servidão.

9.4.09

Economia é religião. A liberdade de mercado quebrou o mundo financeiro. O Estado teve de intervir para restabelecer a economia. E, apesar de todas as evidências, os liberais não perderam a fé nas leis de mercado. Contra fé não há evidências.

28.3.09

O escrachado na história

No link a seguir, a aula de um professor gravada por um aluno. Possivelmente, num cursinho pré-vestibular.

Clique Aqui. O vídeo está no youtube.

O uso do humor, do deboche e da ironia na escrita da história são um deleite para o leitor ou ouvinte. Quem já leu Gilberto Freyre ou os escritos históricos de Marx ou Nietzsche entende o que estou dizendo. Contemporaneamente, por questões comerciais, os professores de cursinho pré-vestibular têm usado deste gênero narrativo para tornar suas aulas agradáveis. O professor de cursinho virou uma espécie de showman para vender seu produto: isso é o efeito do imperativo de mercado. A princípio, não há mal algum nisso, desde que os objetivos do ensinar história não sejam prejudicados. Objetivos estes que são, a meu ver, os de trabalhar conceitos históricos e historicizados e o de criar e refinar o sentido histórico, tal como o descreveu Frederico Nietzsche no seu livro Gaia Ciência, dos participantes da aula.

Vamos à aula do vídeo em questão. O professor é engraçado. Os alunos riem. O assunto da aula é a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial. Na boca do professor, todos os tópicos referentes a dita participação são motivos de deboche. A atuação da equipe médica no sul da França. A não atuação dos aviões brasileiros. O ataque, ou suposto ataque, de um submarino alemão. Pode-se até pensar que o professor tenha passado do ponto do deboche e chegado ao do escrachamento. Nas palavras dele: "Patético".

Eu ainda não havia feito leitura alguma sobre a participação brasileira na guerra. Por isso, recorri a Wikipedia. Encontrei este artigo aqui. Ao fim do mesmo, há uma relação de obras e outros endereços na rede sobre o assunto. Levanto algumas considerações.

Primeiro, em termos de factualidade, há alguns pontos que o artigo entrou em certo choque com a narrativa do professor. Os bandeides ao qual o professor se referiu foram, segundo o artigo, um socorro aos franceses atingidos pela gripe espanhola. Houve o ataque de um submarino alemão, segundo o artigo. E mesmo que não tivesse acontecido ataque algum, imagine-se a situação. Um monte de brasileiros, saídos de um país tropical, que talvez nunca houvesse pegado em arma, se vê em meio a uma Europa em guerra, correndo o perigo de assédio de submarino alemão. Qualquer movimentação estranha em água poderia ser sinal de perigo. Ou não? Se sim, se não, o que fazer?

Segundo, uma questão epistemológica. A narrativa histórica pretende, em último ponto, averiguar a veracidade de um enunciado ou indicativo histórico. Enunciado ou indício baseados em uma rede provas documentais. Assim, o historiador deve elaborar enunciados significativos ou apresentar indícios a partir da análise de fontes ou da citação e crítica de literatura secundária que já tenha trabalhado com fontes primárias. E o que fez o professor do vídeo senão ignorar essa pré-condição da disciplina histórica e cair no campo do julgamento moral. Para o professor, todos os militares engajados foram patéticos. Aviadores, médicos, soldados rasos, comandantes. Entrando no campo da moral acaba-se com a possibilidade de tentar entender o real-passado. Não houve questões táticas, apenas patetice.

Terceiro, uma questão moral. Putz! Imagina o soldado que lá estava, em plena Europa, quem sabe com frio, quem sabe com fome. Possivelmente, se perguntando o porquê de estar arriscando a vida por uma causa que não era sua. E aí, um professor de história simplesmente diz: patético! Isso é falta de respeito, pô!

Os professores de cursinho têm essa dificuldade diante de si, causada pelo imperativo de mercado: encontrar a linha que separa o humor e a ironia do escrachamento. Isso é muito difícil, principalmente com um público jovem ávido por diversão. Principalmente, devido a tremenda concorrência existente entre os professores nos estabelecimento de cursos pré-vestibulares. Aí que entra a questão para o professor, de se vender ou não ao sistema. Preparar boas aulas, quem sabe até divertidas, sem usar em clichês ou bobagens, ou apelar para imagens escrachadas e não-historicizadas por achar estas as melhores armas no jogo competitivo do mercado. O profissional ético não pode cair na tentação de se deixar levar pelo marketing à qualquer custo.

É um tom muito moralista o meu. Eu sei. Mas é uma pré-requisito profissional mínimo. Tem que ser comentado, explicitado. Se um dia meterem o dedo na minha cara por eu ter incorrido nesse tipo de prática e eu responder, simplesmente, "é a vida!", saibam que eu já virei um cínico. E que perdi o profissionalismo.