14.8.09

O liberalismo dos pampas

Os temas polêmicos são uma chatice. Chatííííííce!!!!
Imaginemos uma situação. Digamos que Sarney seja culpado e ostracisado. E mandado para a China por vinte anos. Tentemos imaginar, também, as próximas eleições. Quem poderá ser escolhido para ocupar as cadeiras do Senado pelo Estado do Maranhão? Quem? Levando em consideração que os Sarney são deus no Maranhão, acredito que não será ninguém que não esteja sob a proteção desta distinta família. Então, como acabará este grande estardalhaço midiático? Acabará com pequenas alterações de poder em Brasília. Nada mais.
A democracia liberal no Brasil é uma luva de plástico, dessas de médico, colocada na pata de um cavalo. Especialmente fora do circuito sul-sudeste. O federalismo, desde sua implementação, serviu perfeitamente às grandes potências regionais, depois de resolvidas as disputas locais pelo acesso ao poder. A liberdade de ação nos sertões é a liberdade do estancieiro e da casa grande.
Mas não me furtarei a dar um pitaco sobre a forma de resolver a "crise" no Senado. Não sou desses que acredita em revoluções. "A Revolução", para mim, significa o mesmo que "Ele voltará". É uma fé que move corações. O mesmo tipo de fé que faz com que alguns intelectuais hostilizem "esquerdinhas" em defesa das liberdades de mercado. Indo e vindo, tudo é fé. Enfim, retomando a idéia, apesar de não acreditar na Revolução, acredito, com minha costumeira miopia e astigmatismo, que só um movimento anti-democrático e popularesco poderá corrigir as falhas da nossa democracia liberal. Desrespeitar a constituição, expropriar terras e fazer a reforma agrária. Sim, digo isso correndo o risco de me chamarem de comunistinha defensor do MST. Mas não me importo, pois é o que acho. A democracia liberal não serve para uma estrutura agrária que conheceu apenas pequenas alterações nos últimos trezentos ou quatrocentos anos. Ou serve? Pode ser que sim, quem sabe?

9.8.09

Pense bem antes de ir para Dubai

A mídia corporativa prega peças levemente irritantes constantemente. Em comunistas e liberais; em evangélicos e batuqueiros. São questões de ordem mais ideológica, de defesa ou ataque àquele político, àquela empresa, àquele grupo social. E, com uma frequência lamentável, tratam-se de assuntos pesados.

A leitura de um artigo da revista Piauí do mês de julho deste ano, me deixou alarmado nesse sentido. O título da reportagem é "Rachaduras no Paraíso", escrito pelo jornalista britânico Johann Hari, na edição 33 da citada revista. E fala sobre o lado desconhecido de Dubai. As propagandas internacionais voltadas para atração de mão de obra para o local, a situação em que vive essa mão de obra e o estilo de vida dos que têm dinheiro.

Até aí, "tudo bem". É uma reportagem, perdoem-me a expressão, tocante. Mas, como imaginei que os alvos das propagandas fossem países asiáticos, não fiquei muito preocupado. E aí vem o drama...

Há uns dez dias, no Jornal da Record, se não me engano, apareceu uma reportagem sobre os encantos de Dubai. Sobre a riqueza e o luxo. Sobre as possibilidades de emprego abertas às gentes pobres do terceiro mundo e a chance de se conseguir um bom pecúlio... sim, esse foi o momento do choque!

Além disso, essa novela global que foi filmada na Índia fez algumas boas propagandas de Dubai. Ontem mesmo, umas das personagens estava bem faceira porque iria fazer uma viagem para lá.

Bom, vamos ao porquê do meu alarde. Transcrevi abaixo alguns trechos da reportagem. E não farei mais comentário algum, pois não será necessário. A sensação que eu tenho é que se devia cortar os dedos e as línguas de certos jornalistas filhos da puta. E a quem dizer que sou contra a liberdade de imprensa, mando tomar no cú! Uma coisa é liberdade de imprensa e compromisso com a verdade - ou simplesmente com a própria fé - e outra é fazer propagandas de má fé que podem prejudicar significativamente a vida de alguém.

Seguem, abaixo, alguns trechos da reportagem:

"Entre os guindastes espalhados por toda parte, muitos estão paralisado, como que perdidos no tempo, e há inúmeros canteiros de obras inacabados, numa abandono completo. Nas construções mais arrojadas - como o hotel Atlantis, o pantagruélico castelo cor-de-rosa erguido numa ilha artificial em mil dias, ao custo de 1,5 bilhão de dólares - o teto está caindo aos pedaços. Nesta Terra do Nunca edificada num extremo do mundo, as rachaduras começam a aparecer. Dubai é uma metáfora viva do mundo globalizado neoliberal que pode estar desmoronando.
(...)
"Existem três Dubais diferentes, cada um girando em torno dos outros dois. Há os expatriados ocidentais, como Karen [uma moça entrevistada pelo jornalista], os árabes nativos ou dubaienses, liderados pelo xeque Mohammed, e a mão de obra estrangeira, que construiu a cidade e ali ficou presa. Essa última permanece invisível, apesar de estar por toda parte, enfiada em uniformes azuis e seguindo um regime de trabalho forçado.
"Todas as manhãs, os milhares de peões estrangeiros que constroem Dubais são levados dos canteiros de obras para uma imensidão de concreto, em pleno deserto , distante uma hora da cidade. Ali permanecem isolados. Até poucos anos atrás, eles eram transportados em caminhões de gado, mas diante do desagrado dos expatriados agora são levados em ônibus fechados, que funcionam como estufas no calor do deserto. Todos suam como esponjas sendo espremidas.
"Sonapur é uma cidade-dormitório de quilômetros e quilômetros de prédios de concreto, todos idênticos. Em hindi o nome significa "cidade do ouro". São cerca de 300 mil homens que moram amontoados. No primeiro acampamento que visitei, logo fui cercado por moradores, ávidos para desabafar com quem se dispusesse a ouvi-los. O lugar fede a esgoto e suor.
(...)
"Em Dubai, ao contratar uma empregada, você passa a exercer um poder quase absoluto sobre ela. Isso inclui reter seu passaporte, pagá-la quando quiser, decidir se ela terá direito à férias, e quando. Como a maioria dos empregados não fala árabe, as chances de escaparem dessa camisa de força são escassas.
(...)
"Por toda a cidade, projetos delirantes que antes estava "em obras" agora estão em ruínas. Entre eles, uma praia com ar-condicionado e um sistema de resfriamento da areia para os usuários não queimarem os pés no longo caminho entre a toalha e o mar.
(...)
"Dubai não é apenas uma cidade vivendo além de seus recursos financeiros. O emirado também vive além de seus recursos ecológicos. Vemos gramados bem cuidados, com irrigadores espirrando água para todos os lados, turistas fazendo fila pra nadar com golfinhos, pistas de esqui com neve de verdade construídas no interior de um shopping center, numa espécie de freezer do tamanho de uma montanha. Só que estamos em pleno deserto, num lugar que não tem água. Como isso é possível?"

Bom, isso é só uma palinha da reportagem. Se alguém quiser emprestada, é só pedir.

E devo fazer um último comentário. Esse jornalista é duramente criticado em um blog conservador. Bom, o dono do mesmo se diz conservador. E nada contra os conservadores, evidentemente. Clique aqui.