27.12.07

Ontem o pregador de verdades dele
Falou outra vez comigo.
Falou no sofrimento das classes que trabalham
(Não do das pessoas que sofrem, que é afinal quem sofre).
Falou da injustiça de uns terem dinheiro,
E de outros terem fome, que não sei se é fome de comer
Ou se é fome da sobremesa alheia.
Falou de tudo quanto pudesse fazê-lo zangar-se.

Que feliz deve ser quem pode pensar na infelicidade dos outros!
Que estúpido se não sabe que a infelicidade dos outros é deles,
E não se cura de fora,
Porque sofrer não é ter falta de tinta
Ou o caixote não ter aros de ferro!

Haver injustiça é como haver morte.
Eu nunca daria um passo para alterar
Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.
Mil passos que desse para isso
Eram só mil passos.
Aceito a injustiça como aceito uma pedra não ser redonda,
E um sobreiro não ter nascido pinheiro ou carvalho.

Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais.
Para qual fui injusto - eu, que as vou comer a ambas?

(Fernando Pessoa. Poesia completa de Alberto Caeiro. Companhia do Bolso, 2006, p. 129)

20.12.07

Eu X Eu X Eu

Há uma confusão de eu's na mesma pessoa. Uma série de propostas, desejos, métodos e morais diferenciados, às vezes até antagônicas, convive conflituosamente na mesma pessoa. Ao final, à superfície se apresenta a moral, o desejo, a vontade vitoriosa.

E apenas uma deve ser dominante, restando às outras o esgueirar-se pelas ruelas mal iluminadas da psiquê, esperando o momento oportuno para pôr em xeque a "proposta" dominante. A personalidade é uma guerra. Uma guerra de posições diferenciadas, emergidas numa dada situação e em formação constante, com momentos de trégua, situações de aliança, as quais nada podem fazer contra a lógica do "sistema": apenas um pode dominar a superfície. Os indivíduos mais inconstantes, mais vacilantes, mais claudicantes - mais "fraquinhos" -, são os viventes de crises de "personalidade": não tem certeza das próprias sensações, das próprias morais, das próprias vontades, no fim das contas, das próprias decisões.

Há momentos da vida nos quais não se pode pensar muito, a resposta deve ser rápida e a decisão, mantida até segunda ordem. Senão, as conseqüências geradas pela inconsistência e pela indecisão são as mais danosas, as mais insuportáveis. Uma decisão, quando anconrada numa decisão firme, numa moral específica, deve ser mantida até segunda ordem, carregando todos os possíveis empecilhos como adereços da fantasia. Os adereços pesam, podem machucar, mas sem eles a fantasia não é tão bela. A escolha pela beleza pode chegar a ser, mesmo, uma escolha pela "insanidade". Mas a "insanidade" pode ser a racionalidade de quem vê a mesma coisa por outro ângulo ou, até, de quem descobre alguma coisa... nova.

17.12.07

Um dia a mais ou um dia a menos?

Atucanado com o fim do trabalho, levantou os olhos para ver o restante da tarefa. Nada difícil, mas não agüentava mais. Seu humor no serviço variava bastante: ou estava muito emputecido, ou, no mínimo, só estava de saco cheio. Ao levantar os olhos, cuidou para não ficar ofuscado com a luz do sol, manejando o boné de forma a dar sombra à fronte. O trabalho já estava bastante adiantado, faltavam apenas uns 30 metros de cano para alojar e o piche para recobrir o chão. O calor era de lascar, mas nada que o costume não ensinasse a suportar.
Terminadas as atividades, riu um pouco com os colegas e dirigiu-se, junto aos mesmos, para um bar próximo. Já um pouco bêbado, voltou para casa, onde encontrou mulher, filha e mesa posta. Comeu, discutiu mais um pouco com a mulher pelos gastos no bar, se re-entendeu com ela na cama e, depois de um leve sorriso no escuro, sentiu como a vida é boa. Nem mais se lembrava do amanhã, que seria o mesmo dia de ontem.

13.12.07

AS SOBRAS QUE TE MANTÊM VIVO SÃO O QUE GARANTEM TUA
MISÉRIA

3.12.07

Ótima descoberta de blog, pertencente a um amigo meu, o Bruno Ortiz Monllor (sim, este é o nome do blog)

29.11.07

Pode deixar, eu te represento!

Duvido mesmo?

A arrogância interminável dos leitores de intelectuais franceses, ingleses e alemães, ou mesmo anglo-indianos ou franco-argelinos, não tem limites. Melhor, não tem noção. Melhor, não temos noção. Os bancos de universidade, os colchões ortopedicamente projetados, as obras primas das ciências sociais e da literatura "universal" em edições belíssimas (e caríssimas) são suficientes para entender o palpável, as coisas tais como são? Ou então, para designar o que é melhor para o mundo? Duvido de mim mesmo. Melhor, duvido que consiga duvidar de mim mesmo.

Arrogante arrogante arrogante

Nos achamos como Jesus na cruz: "Eles não sabem o que fazem!".E eu, será que sei? Será que sei de mim, para depois falar do outro?
Mas uma certeza percorre toda essa inquietação: toda falta de dúvida sobre si mesmo indica uma conivência com o engano - auto-engano.

26.11.07

Tropa de elite: fascista ou não?

Ótimo texto do Valter sobre filme Tropa de Elite, aqui.

20.11.07

Eu queria saber quem foi o cagalhão
que inventou de rimar dor com amor.

19.11.07

Estrelinha estrelinha

"Ah, estrela bonita, és minha irmã!".
Sentado na grama, contemplando o céu, o rapaz concentrava sua atenção numa estrela fulgurante. Brilhava esta multi-colorida, diferente das outras: ora era vermelha, ora esverdeada, ora amarela, ora todas as cores juntas.
"É um espetáculo lindo de se ver essa estrela", pensou consigo. "Estrela amiga, a beleza de tua luz renova minh'alma! Eu, até agora fraco, sinto-me revigorado pela pureza de tua chama... obrigado, estrela irmã!

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Há dois bilhões de anos, uma guerra fatricida no planeta dos macacos ocasionou uma crise no sistema solar. A típica mistura de sede de sangue, medo, tecnologia ultra-avançada e palavras de baixo calão provocou a destruição do sol, centro deste sistema. Foram necessários dois bilhões de anos-luz para a luz dessa explosão chegar à Terra.

_____


Nota astronômica: quando estrelas brilham com diversas cores significa que já explodiram.

...

12.11.07

Uma palinha da entrevista de Noam Chomsky à revista Cult

CULT - O senhor considera que a humanidade vive atualmente um otimismo inconseqüente? O senhor acredita em algum argumento básico, que pode fazer com que os desatentos reflitam sobre o estado atual da política internacional e das questões relativas à natureza como o aquecimento global, sem parecer apologia do pessimismo? É possível reletir hoje sem usar esse termo?



Noam Chomsky - Não apenas acho que é possível, sei que é possível, por experiência e pela história. Todos nós sabemos. Confrontar o poder, a repressão e a injustiça nunca foi fácil, mas muitas tarefas foram realizadas e o sucesso não foi pequeno. As lutas de muitos anos nos deixaram um legado de liberdade que é raro em padrões históricos comparativos. Podemos optar por usar esse legado para carregar a luta para a frente ou podemos decidir abandonar a esperança, acreditando que o pior vai acontecer. Essa escolha é comum no decorrer da história. Felizmente, muitas pessoas não abandonaram a esperança, e não há razão para fazê-lo hoje.

(Revista Cult, ano 10, número 16, p. 10)

1.11.07

Brasil 2014 e saúde pública

Dizem que conhecer "verdade" é um passo pro sofrimento e que o melhor é ser ignorante. E é verdade. É verdade se se considerar que a nossa opinião e o conhecimento apreendido vão fazer diferença. Se o que acabo de conhecer e a minha opinião não vão mudar nada da realidade, para que me preocupar?
Eu defendo instintivamente: é melhor saber que não saber, pois assim temos maior quantidade de informações para pautar nossas escolhas. Talvez isso não garanta sucesso nem felicidade, mas garante, quem sabe, um aumento no horizonte.

Disse toda essa bobajada só para divulgar os seguintes textos: o primeiro é sobre a
copa de 2014, do blog Cataclisma 14; o segundo é sobre a Emenda 29 sobre saúde pública, encontrada no CMI.

29.10.07

Sobre as eleições para o Diretório Acadêmico da História da UFRGS

Mais uma disputa pelo CHIST. Alguns ficaram simplesmente loucos com o curso das coisas. O que deveria articular o pessoal acaba servindo para criar rixas, algumas pessoais, inclusive. Talvez se possa chamar isso de apropriação de um sistema vigente e a produção de um sistema muito próximo ao que aos poucos se extingue - algo próximo a revitalização de um sistema de D.A. tosco.
Eu não entendo. Se todos os lados querem tomar parte, numa relação horizontal entre os que estão juntos, defender uma forma democrática, então, para que fazer chapas e disputar eleições? Não é mais fácil todo mundo se juntar em cículo e decidir o que fazer?
As únicas coisas que me vêm em mente são: 1 - defende-se eleições e chapas porque elas garantem ao vencedor a centralidade da organização; 2 - com os votos, os quais garantem a legitimidade do sistema, o partido vencedor pode se dizer representante legítimo do curso e, assim, levantar as bandeiras que quiser "em nome dos/ representando os estudantes todos".
Essas eleições, para mim, são antidemocráticas e não favoressem a formação da autonomia dos participantes.

26.10.07

Aberta a temporada de leilões de cérebros e consciências

Ruy Guimarães
Professor de História
Diretor da E.E.E.M. Padre Reus

A educação pública estadual do Rio Grande do Sul iniciou o ano letivo de 2007 sob mau tempo. A investida do governo Yeda sobre as escolas através da Secretaria de Educação desmontando setores fundamentais como Supervisões Escolares, Orientações Educacionais, Bibliotecas e Laboratórios, bem como projetos extra-muros, tudo com o pretexto declarado de colocar professoras e professores que atuavam nessas funções nas salas de aulas. A argumentação política da senhora secretária era que havia muitos profissionais em desvio de função e/ou diretoras e diretores “escondendo” professores. Apesar dos protestos dos trabalhadores em educação, das comunidades e do coletivo de diretoras e diretores de escolas de Porto Alegre, não houve alteração nessa política e muitas direções de escolas amedrontadas e algumas até de forma consciente, cumpriram as determinações da mantenedora. Resultado: os estudantes receberam nas salas de aulas muitos professores que cumpriam suas atividades e bem nos setores fechados pela secretaria porque não tinham mais condições de saúde para ministrarem aulas. Muitos desses profissionais entraram com laudos médicos. Ou seja, nem houve economia financeira, nem se solucionou a falta de recursos humanos. Por outro lado, muitos dos que permaneceram nas escolas oferecem um trabalho aquém das necessidades dos estudantes, não porque assim o queiram, mas porque suas condições de saúde (geralmente emocionais) os impedem de fazer melhor.
No segundo semestre, fomos “brindados” com as tais enturmações, processo pelo qual, com vistas ainda a economizar com recursos humanos, turmas de alunos foram unificadas e lotadas com até cinqüenta estudantes. Algo deplorável do ponto de vista pedagógico, principalmente se conhecendo a realidade estrutural da imensa maioria das escolas públicas. Deplorável do ponto de vista social, levando-se em conta a declaração da penúltima coordenadora da 1.ª Coordenadoria de Educação de Porto Alegre ao afirmar que “educação de jovens e adultos não é prioridade do governo, afinal os adultos já tiveram sua chance e não souberam aproveitar”, para justificar o fechamento das turmas de EJAs. Deplorável do ponto de vista sociológico ao enturmar, principalmente nas periferias, membros de gangues e “bondes” rivais. E os educadores e direções que se virassem com os conflitos. Contra tais medidas, mobilizaram-se as comunidades escolares de todo o Rio Grande do Sul. Mas, mesmo assim, muitas direções de escolas cederam, por medo ou interesses administrativos com aparente preocupação em melhorar as condições materiais e pedagógicas das suas escolas e nenhuma visão estratégica (médio e longo prazo) da forte investida privatista sobre os serviços públicos do Rio Grande do Sul, inclusive a educação.
É o caso das escolas que aderiram ao projeto “Jovem de Futuro – Qualidade Total no Ensino Médio”, parceria firmada entre o Instituto Unibanco, a Secretaria de Estado da Educação e as escolas públicas de ensino médio, “com o objetivo de contribuir para a melhoria do atendimento educacional oferecido por estas escolas”
[1].
Em primeiro lugar, não é demais lembrar que “Qualidade Total” é uma das diversas teorias, técnicas e métodos de gerenciamento da produção implantado nos inícios dos anos 90 pelas empresas capitalistas deslumbradas com o neoliberalismo entrante no Brasil. Just in time, Kan ban, Reengenharia e Qualidade Total, são algumas dessas teorias e métodos “modernos” de gerenciamento da produção, algumas delas complementares entre si, que objetivam otimizar os lucros das empresas através, dentre outras coisas, enxugando folhas de pagamento através da terceirização de certos serviços. Em certos casos esses métodos se assemelham ao que Lênin chamou de puting out system em sua obra O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, onde analisa o desenvolvimento econômico daquele país no século XIX.
O tal projeto embora declare que “... a melhoria da qualidade da escola depende de um processo que garanta a autonomia da comunidade escolar (...) na identificação dos fatores que interferem no resultado de sua ação educativa e na definição de estratégias que possam garantir um melhor desempenho de seus alunos”
[2], algema essa “autonomia” à obrigatoriedade de participação da equipe escolar “em todas as etapas do processo de três anos (prazo de execução do projeto): planejamento, execução, monitoramento e avaliação”[3]. Dentre as obrigações das escolas participantes estão: * criação de um conselho gestor do projeto; * aplicação dos testes padronizados (SAEB, ENEM, ou outro a ser criado, grifo meu); * Fornecer, quando solicitado, notas bimestrais e freqüência dos alunos; * providenciar o preenchimento do cadastro dos alunos (grifo meu); * mobilização da comunidade do entorno para se integrarem ao processo[4]. Dentre os diversos compromissos da Secretaria de Educação, dois, a meu ver, são dignos de nota, quais sejam: * disponibilizar dados sobre a Rede de Ensino Médio e * utilizar os resultados da experiência como insumo na definição de políticas públicas para o ensino médio.
Os recursos financeiros oriundos desse projeto – entre R$ 75,00 e R$ 100,00 por aluno matriculado/ano – poderão ser utilizados dentre outras coisas para: * premiações de professores: assiduidade, pontualidade, desempenho escolar dos alunos, desenvolvimento de projetos inovadores, etc.
O estado de penúria que vive a educação pública brasileira e que no caso gaúcho significa professores mal-pagos, salários parcelados e atrasados, empréstimos bancários sem nenhuma garantia do Estado para receber o 13.° salário, escolas demolidas e desestruturadas material e profissionalmente, repasses da autonomia financeira das escolas atrasados e com pernas de anão, obviamente faz muitos gestores balançarem. Estes preocupados em dar uma solução para os dramas particulares das escolas que administram, não se deram conta ou fizeram ouvidos de mercador para o projeto estratégico do governo Yeda que é a privatização dos serviços públicos como já é uma realidade em discussão nos casos do Daer, Corsan, Corag, Cultura, através da transferência desses setores para o controle de OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. E isto começa a acontecer na Educação. Ou o Instituto Unibanco não é uma OSCIP?! Não seriam as escolas aderentes ao projeto, laboratórios desse “novo jeito de governar” em educação?!
As conseqüências da adesão de certas escolas, algumas delas referências em Porto Alegre, já são notadas. Enturmações em escolas que vinham resistindo, afrontando deliberações das comunidades escolares, por exemplo, determinadas certamente pela exigência de “preenchimento do cadastro dos alunos”.
Mas, a conseqüência mais nefasta, talvez, está expressa em matéria do jornal Correio do Povo do dia 17 de outubro, à página 6, aonde o diretor de uma dessas grandes escolas que aderiram ao projeto exorta professoras e professores que tiverem “vontade de fazer um trabalho pedagógico diferente com o aluno” a enviar o currículo para análise
[5]. O diretor “acrescenta que serão oferecidas creche e matrícula aos filhos dos docentes e apoio financeiro para projetos pedagógicos” [6]. A matéria encerra informando que “a instituição foi selecionada para participar de projeto no qual receberá mais de R$ 700 mil em três anos”[7].
Ora, aquilo que, por lei, é atribuição e obrigação da mantenedora, a seleção, recrutamento e provimento de recursos humanos, passa a ser exercido pelos diretores das escolas que se renderem à lógica do capital privado. Abre-se, assim, um perigoso precedente para uma guerra entre escolas pelos profissionais mais competentes. Leva quem premiar melhor aquilo que é obrigação de qualquer profissional sério nomeado ou contratado pelo Estado.
Da mesma forma, ao arrepio da própria Constituição, o direito do filho do operário, da empregada doméstica ou mesmo de professoras que não trabalharem na referida instituição, em ter acesso à creche (a referida instituição, hoje, oferece educação infantil, desde o maternal para a comunidade através de sorteio) é retirado à socapa, afinal, a menos que sejam criadas novas vagas para a comunidade, boa parte das existentes seria ocupada pelos filhos das professoras da instituição que passariam, assim, a constituir uma (ou mais uma) casta privilegiada dentre as tantas já existentes país afora.
Obviamente, devem existir professores e diretores favoráveis à privatização da educação. Pois então, que sejam francos e claros e digam isto com todas as letras para as comunidades que os elegeram.
Do contrário, que lutem junto com aqueles que defendem a educação púbica de boa qualidade como direito inalienável do povo brasileiro! Lutem com aqueles que entendem que educação não é mais uma mercadoria lucrativa nas prateleiras dos mercados capitalistas!
Os colegas e as colegas professores que lutam com todas as dificuldades para sobreviverem, mas não colocam a sua dignidade e competência profissional à venda certamente continuarão seguindo o caminho trilhado até aqui.
Por fim, resta claro a “urgência” da realização do Saers. Além de prestar contas às agências financiadoras internacionais, é preciso criar as condições favoráveis à privatização da educação gaúcha. E o governo Yeda só tem mais três anos para executar o serviço. Cabe questionar: por que a Universidade Federal de Juiz de Fora foi a vencedora do processo de licitação para elaboração das provas do Saers? Seria porque foi a mesma instituição que desenvolveu esse processo no estado de Minas Gerais, governado por Aécio Neves, do mesmo PSDB de Yeda? A UFRGS ou a própria UERGS não teriam as mesmas condições técnicas de atender essa demanda? Por quê? Por que a única entidade ligada à educação convidada a participar do Saers foi o Sinep, o sindicato das escolas particulares? Por que o CPERS, as entidades de professores dos municípios e o próprio Sinpro não foram convidados?
Saers e Projeto Jovem de Futuro – Qualidade Total no Ensino Médio/Instituto Unibanco, duas faces de uma mesma moeda! A moeda podre da privatização!
[1] Manual do Projeto, página 3.
[2] Idem, p. 4
[3] Idem, p. 9 – Compromissos da Equipe Escolar
[4] Idem, ibidem.
[5] Correio do Povo, 17/10/2007.
[6] Idem, ibidem.
[7] Idem, ibidem.

18.10.07

Um dos sentidos de liberdade no anarquismo

"Eu não me torno verdadeiramente livre senão quando todos os seres humanos que me rodeiam, homens e mulheres, são igualmente livres. A liberdade do outro, longe de ser um limite ou a negação da minha liberdade é, ao contrário, sua condição necessária e sua confirmação. Eu não me torno verdadeiramente livre senão pela liberdade dos outros, de sorte que quanto mais numerosos são os homens livres que me rodeiam e mais profunda e larga é sua liberdade, e mais estendida, mais profunda e larga torna-se a minha liberdade. É, ao contrário, a escravidão dos homens que põe uma barreira a minha liberdade, ou o que significa o mesmo, é sua bestialidade que é uma negação da minha humanidade, pois mais uma vez eu não posso me dizer verdadeiramente livre senão quando minha liberdade - ou o que quer dizer a mesma coisa, quando minha dignidade de homem, meu direito humano, que consiste em não obedecer a nenhum outro homem e a não determinar meus atos senão conforme minhas próprias convicções - refletida pela consciência igualmente livre de todos, retorna confirmada pelo assentimento de todos. Minha liberdade pessoal, assim confirmada pela liberdade de todo o mundo, se estende ao infinito."

(BAKOUNINE, Michel. Dieu e l'État. In: OEuvres. Paris: Stock, 1980, p. 312s.)
Nota: (péssima) tradução minha.

10.10.07

Verdades divergentes que não se excluem

Leia o livro de um liberal qualquer (de preferência da escola de Chicago) e, antes de usá-lo para limpar a bunda, reflita: um empresário que deseja apenas que o governo não interfira no seu negócio, sem ter, assim, que se preocupar com CLT, conservação do ambiente e "bobagens" afins, enfim,um empresário que só quer ser livre, está errado em desejar isso? Ele entra em contradição?
Para mim, NÃO! Se alguém, para se dar bem, precisa passar por cima do outro, o mínimo que se espera dele é que queira ter liberdade para fazer isso. Quando defende seus pontos de vista, ele pode usar argumentos muito coerentes e corretos.

Então, por qual razão muitas pessoas sentem certo asco, repugnância ou raiva quando lêem esses caras?

Fato simples: o pano de fundo.

Qual o meu pano de fundo, em termos de sentido de vida e sentido de manutenção da vida - duas coisa que são praticamente a mesma coisa? E qual é o pano de fundo desses liberais, em geral? É aqui, pois, que se encontra a chave da resolução do problema: mesmo excluindo questões de qualidade de argumentação, a grande divergência se encontra na diferença abismal de sentido da vida, no sentido de formas de relação entre os homens e de formas possíveis de se manter o mundo material (este, intimamente relacionado ao mundo "espiritual").
Qual o sentido da minha vida? De uma forma tosca e rápida, poderia dizer que é viver em paz comigo, com meus amigos e meus amores, e conseguir me manter numa forma de trabalho que dê mais sentido pra minha vida, me fazendo viver melhor o mundo, não só pelo dinheiro, mas pelos amigos do serviço, por certos conhecimentos aprendidos, por certas sensibilidades desenvolvidas. Tem muito mais, é claro, mas isso já serve como resposta rápida. Agora, quais os nortes de um defensor do capialismo? Basta ler a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, do Max Weber, para se ter uma noção.
Defesa do sistema de relações não é tanto uma questão de argumentação, mas principalmente de fé. Um anarquista e um liberal podem ter posições completamente diferentes e, ainda assim, os argumentos de ambos serem completamente coerentes, quando estes argumentos estão relacionados a própria fé, ao próprio pano de fundo. Agora, como vão se resolver essas diferenças de verdades contraditórias e não excludentes? Essa é que é a grande questão.

9.10.07

Das pequenas coisas

Minha casa é uma bagunça! As costuras da minha mãe prum lado, meus polígrafos e livros pra outros, a bagunça tosca do meu irmão em quase tudo... e isso diz muito sobre a minha família, isso diz muito sobre minha vida. Definitivamente, são as pequenas coisas que falam melhor sobre a gente. Senti vontade de soltar essa sinceridade depois de ler o seguinte texto aqui, do Blog de Meninas, de mais uma autora que não conheço.

18.9.07

Notas autobiográficas de alguém que não existe

Já era um homem velho há muito tempo. Um espírito nebuloso dificultava sua visão, tornando-o quase um cego com visão perfeita. E sempre insatisfeito. Vivenciou tantas coisas em sua vida. Apesar da pouca idade – recém completara 27 anos – era um rapaz experimentado e pouco afeito, agora, às novas experiências.
Optou esta noite por mais uma volta nas ruas escuras de sua cidade. Bares repletos de homens vazios, já dizia o poeta. Sentou-se para uma cerveja, num desses butecos típicos, longe dos bares mais badalados. Sentia-se tremendamente só. Sim, vivia um memento tenso. Tão tenso que usava freqüentemente advérbios: toda frase, inequivocamente, levaria um.
Fora deixado por todos os que mais considerava seus amigos. Os amigos se foram, as mulheres se foram, a família tão distante, o copo vazio. “Garçon, mais uma!”: essas foram as primeiras palavras ditas nas últimas oito horas. É possível ficar tanto tempo calado, principalmente depois que se aprende a responder – ou se contenta em responder – aos outros com simples gestos de cabeça. Desiludido! Os amigos criam uma ilusão fácil de perenidade. Toda moça linda cria uma sensação de eterno. Por isso tudo é tão belo! Não estava mais pronto para falar, ter intimidade, com alguém. Não queria. A solidão já era para ele uma escolha. Não se sentia bem para querer beber, mas bebia para relativizar o amargor.
Mas não sabia mais o que era sofrer. Aprendeu a observar as coisas em sua naturalidade. Sentia certo amargor, mas não dor nem desespero. Aprendeu a viver. O dinheiro era pouco, e tão óbvio quanto isso era a vontade (e a necessidade) de usá-lo para beber. Só, meio amargo, mas nunca vazio. Enquanto não fala, sua voz interior da voltas tremendas, cruzando do céu ao inferno, com paradas em lugares só aparentemente impossíveis de se chegar. É um ermitão e um andarilho, e isso também em sua cabeça. O movimento é a marca desse sujeito. Sim, é um sujeitado pela vida. Mas alguém que procura brechas para virar agente. Vê tudo isso como belo. Esse amargor, que não é dor, recobre tudo como a geada na grama, como neblina numa manhã fria: nada se vê, mas se sabe que está lá. O que está lá, como, com qual forma? É o Mistério. Talvez o Mistério da vida mesmo... riu-se de si mesmo. Que bonito é isso de rir de si mesmo, de não se levar a sério, ver as coisas com olhos leves, espírito quase sapeca, meio contemplativo, meio criança... sua família se foi, seu emprego se foi, tudo se foi. Hoje tem mais de oito horas do seu dia roubados em troca de um pouco de pão e cerveja. Mas isso não o incomoda tanto. Ama muito a si, mas esses longos tempos de solidão são duros. Mas sabe que foi nesses longos, e não poucos, tempos de solidão que descobriu grandes coisas de sua pequena vida, vivenciando neles, de vez em quando, talvez o próprio Mistério. Qual o sentido de tudo? Ele não sabia responder, mas tocou o telefone. Ele já sabia: era ela! Tantas vezes sumida, tantas vezes ressurgida. Essas fugidias moças, que nos amargam na fuga, nos embriagam na volta. Tentar reproduzir, em palavras, o que sentiu nos momentos seguintes é o mesmo que tentar guardar, na eternidade, uma flor de primavera entre as páginas de um livro. Há coisas que só são belas por sua efemeridade. A textura e o espinho não se conservam no tempo. Sabia que estando com ela não deixaria de estar só, mas o perfume da rosa ia embaralhar sua percepção por um instante.
Na janela do apartamento dela havia aquela luz habitual. Seria uma noite bonita, acontecesse o que acontecesse.

4.9.07

Liberdade, desejo típico de escravo

Quem nunca sentiu que estava perto da morte? Aquela sensação angustiante de que tudo o que há pode chegar ao fim, ir por água abaixo?
Essa é uma sensação que me vem com certa freqüência... e é quando tudo faz sentido! Se se pensar os mil condicionantes e determinantes que na história possibilitaram o mundo atual e o meu nascimento, se se pensar tudo que vivi, de bom, de “hostil” e de mal – que, no final, é quase tudo bom –, então se chega à conclusão: é tudo um grande dom do acaso e da história! E assim como o recebemos, assim nos será retirado, o que nos exige aproveitar seus pequenos sabores – e disabores!
A sensação de morte traz sentido à vida: toda obrigação, tristeza e peso de viver parecem quase evanescer diante do nada da morte... e só então um raro – e indiscreto – gostinho de liberdade nos vem à língua.
Qual seriam as últimas coisas que você faria se soubesse que está para morrer logo? (pergunta clichê, eu sei, mas necessária). Normalmente, a resposta dada se resume a uma boa orgia, ou pelo menos uma sacanagem com aquela menina específica (e quem sabe até especial!).
Pois bem, e no caso de se receber a notícia do fim bem no meio da rua, sozinho, sem um puto pila no bolso, celular sem crédito, etc.? Nada de orgia! Quem sabe o desconforto, quase desespero, de perder tudo que tem na vida! O perigo de encontrar o diabo – e pior ainda. Deus! –, lá do outro lado, depois de uma vida inconforme!
MAS de que adianta esse medo diante do que não se conhece? Sócrates, em sua apologia escrita por Platão, diria que ter medo do desconhecido (no caso, o que vem depois de morrer) não passa de pura arrogância.
Basta parar para sentir o corpo relativamente saudável, lembrar os bons amigos que se fizeram no dia-a-dia, a família, os amores... o sol quente... e mesmo o ar poluído da avenida Ipiranga. Nesse momento incompreensível, em que tudo na vida corre o risco de ser perdido (como se nós tivéssemos, de fato, alguma coisa), é que podemos separar o joio do trigo, separar aquilo que dá algum sentido à vida daquilo que fazemos por força de obrigações... aí então, como que sem o peso da muita tralha que carregamos todo dia conosco (trabalho, desentendimentos familiares, bestas obrigações ditas morais, etc.), vem aquela sensaçãozinha de “livre” – “que diferença faz tudo isso pra mim”, seguido de um sorriso muito arejado.
A sensação de morte liberta, nem que seja por um curto tempo, mas liberta.

31.8.07

Descobri dois blogs com relação de blogs de música. Vale a pena conferir:

Feijão Tropeiro

Nau Pirata

30.8.07

"Nota sobre educação" ou, "o ser humano é, necessariamente, um animal"

A função da escola e da educação não é transformar um animalzinho em gente civilizada. Isso é mito, e o que se consegue por meio disso são amputações. O desafio da educação é fazer do animalzinho do educando um animalzinho ruminante, quer dizer, um pensador, quer dizer, alguém que pare para pensar. Parar para ruminar: isso sim, uma educação a base de regorgito e (re)mastigação.

23.8.07

Blog sobre economia

Opa!
Descobri mais um blog português, agora sobre economia. Não sei qual a inclinação do cara. Mas mesmo sendo neo-liberal, vale a pena conferir:

Pura economia

Vale conferir este texto sobre crescimento e entropia, principalmente pra quem está agora estudando a revolução industrial.

21.8.07

E vamos fazer a revolução!

“Vamos fazer a revolução! Que as massas proletárias urbanas e rurais tomem consciência de sua situação de explorados e, juntos, lutem pela igualdade entre os homens e os povos!”

Só resta uma pergunta: qual é o caráter revolucionário dessa proposição? Getúlio Vargas discursava com os mesmos pontos.

Para início de conversa, massa é coisa de padeiro. E enquanto esquerdistas, pró-esquerdistas e grupos de esquerda não desistirem dessa pretensão de serem padeiros, de quererem moldar a massa, a lógica dominante vai permanecer: a vontade de usar da maioria "amorfa" e reificada para cumprir a vontade de poucos. Vargas queria conduzir a povo para uma sociedade melhor – e tivemos um governo autoritário pacas. Os comunistas de 1917 queriam conduzir as massas pruma sociedade melhor, socialista – e tivemos, por fim, a ditadura do partido que oprimiu o proletariado soviético.


Enquanto as pessoas não tiverem condições e relativa liberdade pra decidirem o que realmente querem, não haverá sociedade melhor. Quando falo de condições, falo de oportunidades que estimulem o processo de autonomia, como, por exemplo, uma escola de qualidade preocupada com a formação do raciocínio crítico d seus educandos. Quando falo em relativa liberdade, me refiro a que as pessoas possam escolher o que elas acham melhor - mesmo, sei lá, que seja se decidir por aquele liberalismo tosco de neo-liberal - sem ter um intelectual de merda do lado delas pra dizer: “Ah, mas tu é um alienado, hein?!”.

E isso cabe muito bem para os (futuros) professores, que não sejam arrogantes de se decepcionarem pelo fato de que os educandos não prestem atenção em aulas pouco interessantes e pouco significativas. Quem disse que o saber acadêmico e super refinado de vocês têm doçura (ou mesmo acidez) a ponto de provocar a atenção dos educandos? (sim, isso estou dizendo pra mim mesmo).

E, pra fechar, citando o Raul Seixas: “A lei do forte, essa é a nossa lei e a alegria do mundo!”

20.8.07

Problemas epistemológicos

Uma das maiores dificuldades que tenho - ou melhor, temos - para analisar a sociedade e o mundo é o nosso eurocentrismo arraigado ou outras formas de centrismos em que há um centro poderoso rodeado de coadjuvantes, nos qual nós somos os coadjuvantes. Vide termos como "subdesenvolvido", "terceiro mundo", "pré-colonial", "antes de Colombo", "pré-história" (que significa "pré-escrita"), "pré-revolução industrial", entre outros. Não digo que esses processos, fenômenos, não são importantes. Claro que são. Mas toda análise se pauta a partir desse Outro situado do outro lado do oceano ou do sistema produtivo.
É necessário partir não desse Outro, mas do nosso próprio umbigo. Sem essa transformação epistemológica de mudança de ponto de partida, vamos continuar tão míopes como se não estudassemos/pensassemos nada. Só esse pluralismo racial, étnico, geográfico, econômico, etc., que poderá tornar nosso sistema ocular mais complexo e menos cego.
Como bem lembram muitos intelectuais, como José Augusto dos Anjos e outro, que não me recordo o nome, precisamos cortar o cordão umbilical com a Europa, com seus intelectuais que refletem sua própria realidade, e fazermos o esforço político de encontrar outras fontes no globo, entre pensadores pouco ou não conhecidos, que discutam assuntos parecidos, mas com o enfoque não-hegemônico, distinto da situação européia.

Vai chover? E daí?

Há um oceano de prata nas nossas cabeças hoje, dia nublado. Pra quem está a vagar no mar, há um mar azul ao chão e um outro, cinza, no céu. Isso me lembra o livro mais soberbo (soberbo me parece um nome bem apropriado) que já li: Os Trabalhadores do Mar, do Vitor Hugo. Os aforismos nessa obra são muitos e muito bons. Por exemplo, este aqui.
Inclusive, tenho a impressão que o Gilliat é quase uma aproximação do para-além-do-homem (ou super-homem) pretendido pelo Niet.

17.8.07

'Fiz o que achava que era certo', disse aos seus amigos

Simples triste calado na parada olhava tranqüilo a moça bonita de verde que passava. Caiu das mãos da dama algo que não pôde definir devido às poucas luzes da noite. Apressado e gentil, correu para catar o objeto e devolvê-lo a sua desatenta dona. Não atentou, entretanto, a pedra no meio do caminho - havia uma pedra no meio do caminho! Mais exatamente, um lage da passarela deslocada. Sua boca conheceu o gosto da lage com a mesma intensidade - e dor - que o dedo do pé que chocou contra a pedra, ambos vertendo lágrimas de sangue. Mas destino pior teve seu caro óculos, que não foi barato na ótica. Mesmo miope, olhando adiante, pode ver as lentes quebradas, com a armação próxima ao seu objetivo: uma embalagem vazia de cigarros que a porca da sua dona havia jogado no chão.

9.8.07

Os perdidos se encontram!

8.8.07

"E essa 'mina' que não me esquece..."

- Sabe a Josi? Bah velho, que 'mina' imbecil! Não dá pra entender? Encontrei com ela 'ontiontem' e fomos tomar um café. 'Tava meio quase um climinha no ar. Daí ela me perguntou da Paula, curiosa. Como e onde a gente se conheceu, se eu curtia ela e tudo mais. Eu só disse que eramos colegas do curso, que achava a guria tri e era só. Só amigos. Ah, meu, que mina palha! Como é que eu curti essa traste? Me some por dois dias, me dá um fora fudido, devolve os presentes que eu dei pra ela - inclusive o de quatro meses de namoro - e depois vem bancar a de ciumenta. Vá se fudê! Mas tenho a leve impressão que ela ainda é afim de mim... (solta um leve suspiro de esperança, seguido de um sorrisinho maroto).

- Alô? Oi Paulinha!, é a Josi, a ex-namorada do Renato. Te lembra de mim? Tudo bem? Sim, comigo tudo tri. Pois é, tens alguma coisa marcada pra esse fim de semana? É que consegui dois ingressos prum cinema. 'Tás afim?

3.8.07

Conhecimento da miséria

"Talvez nada separe já as pessoas e as épocas a não ser o seu grau de conhecimento da miséria: tanto a da alma como a do corpo. No que se refere a esta última, talvez nós, homens de hoje, apesar de todas as nossas fraquezas e de nossas enfermidades, sejamos ignorantes e fantasistas, por falta de experiência pessoal, a experiência que teve a idade do medo - o mais demorado período da história - quando o indivíduo devia proteger-se por si próprio contra a violência e tornar-se a si próprio, para esse fim, um violento. Nessa época o homem fazia uma copiosa aprendizagem do sofrimento físico e da privação; via até no exercício de uma certa crueldade para consigo mesmo e no sofrimento voluntário, um meio necessário à sua conservação; treinava-se então o seu meio a saber suportar o mal, acrescentando-o até de bom grado, e viam-se os piores suplícios dos outros sem experimentar outro sentimento que não fosse o da própria segurança.
Quanto à miséria da alma, continuo a examinar agora se aquele que dela fala a conhece por experiência ou por leitura; se julga ser necessário, por exemplo, simular o conhecimento desta miséria, para testemunhar uma certa cultura, ou se o imo da sua alma se recusa a acreditar em bloco em todo e qualquer sofrimento moral; se, quando se designam esses sofrimentos, não se passa nele qualquer coisa de análogo ao que acontece quando lhe falam de grandes sofrimentos físicos – recordam-lhe as suas dores de dentes ou de estômago. Parece-me que a maior parte das pessoas é assim que sente. Já ninguém é treinado no sofrimento, nem físico nem moral, ninguém vê uma pessoa sofrer a não ser muito raramente; do que resulta uma consequência muito importante: é a de que se odeia agora o sofrimento mais do que antigamente, que dele se diz mais mal do que nunca, e que se vai mesmo ao ponto de já nem sequer se lhe poder suportar a idéia: disso se faz uma questão de consciência e uma censura à existência, na sua totalidade. A floração de filosofias pessimistas não é de forma alguma indício de terríveis sofrimentos; muito pelo contrário, fazem-se estas interrogações sobre o valor geral da vida em épocas em que o conforto e a facilidade acham já cruéis, demasiado sangrentas, as pequenas picadelas de mosquitos que não se podem evitar nem ao corpo nem à alma e quereriam, na penúria de autênticas experiências dolorosas, fazer aparecer a imaginação do suplício como um sofrimento de espécie superior.
Haveria realmente um remédio a indicar contra as filosofias pessimistas e o excesso de sensibilidade que me parece ser a verdadeira 'miséria dos tempos presentes',... mas talvez esta receita parecesse demasiado cruel; haviam de a classificar sem dúvida nenhuma no número dos sintomas em que se baseiam agora pra considerar que 'a vida é um mal'. Seja! O remédio contra a 'miséria' chama-se – miséria."
(NIETZSCHE. A Gaia Ciência. Aforismo 48. Lisboa: Guimarães Editores, 1984. p. 78-80)

1.8.07

Hábitos de alienados ou de quem não vê horizontes?

Pedaço do depoimento de Wanderley da Cunha, morador da Favela de Acari, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde frequentemente há troca de tiros entre policiais e bandidos. Wanderley é animador cultural e integra a Rede Contra a Violência, que organiza moradores de bairros proletários:

"As pessoas não acreditam que alguma coisa possa mudar. Então as pessoas acabam se acostumando. A grande maioria fica habituada, se preparando para toda semana saber que alguém morreu. Quando a gente chama para participar de reunião da campanha contra o Caveirão, as pessoas não vão, têm medo de sofrer represália da polícia. As pessoas nem acreditam mais em eleição, em política. As pessoas não acreditam. Agora, você vê nos olhos das pessoas, no humor delas, achando que elas estão acostumadas, mas não estão. As pessoas cada vez mais sofrem. E aí, as pessoas cada vez mais bebem, e quanto mais sofrem, mais procuram baile funk, pagode, consomem drogas, que é uma maneira de segurar a onda um pouco. As pessoas estão cada vez mais desesperadas, desesperançadas. É uma desesperança contida, que fica dentro das pessoas e acaba explodindo muitas vezes na violência, mas nunca dirigida contra quem está causando o verdadeiro sofrimento para a gente". (fonte:
http://www.anovademocracia.com.br/35/10.htm)

27.7.07

Talvez, talvez, a resposta de tudo tudo tudo esteja na - Beleza

Como assim? Beleza, quero dizer, quer dizer, prazer, embevecimento, devotamento, volúpia, essa sensação inexplicável, balançante, desestruturante e, não paradoxalmente, extruturante.

Há imagens sempre e sempre tão belas, aprazíveis. Viva o que se viver, faça o que se fizer, ela ainda vai estar lá, parada em sua mente, linda, sorridente, mesmo que os anos tenham se passado e essa imagem já há muito não correspondam ao objeto que provocou a imagem na nossa cabeça. Isso é Beleza?!

Ah, dos momentos tristes, em que me vi meio aflito, só de ti ver em mim, ver o que tu é pra mim, apesar do tempo, apesar dos rumos da vida, apesar dos rumos de um dos meus eus, apesar dos rumos de outro dos meus eus. Apesar do rumo difuso e confuso dos teus eus, que eu sei não são mais confusos que os meus.

Acho que em tudo na vida se ve a vontade incomoda de querer ser perturbadi, abalado, sacudido, derretido por esse belo-quente que não é passado, mas presente, e muito presente, na minha mente, na minha vida, no mais íntimo de mim

Moça, eu não te amo... tu não merece nem um pouco de amor de alguém,
é a que mais mereceria teu próprio amor. Enquanto não te amares, vais viver de sombras e sentimentos venenozos.
Tens prazeres neles? Vive, mas vais viver embriagada nos teus sonhos, morrendo nos teus venenos, sua intoxicada!
Mas tu, em mim, não é sonho, é a presença constante real dura de ti em mim
Essa minha risada insentida, essa pequena dureza de coração, com a qual resisto pequenas hostilidade do dia a dia, me fazem feliz. Se hoje me sinto um cara feliz, bom e um pouquinho forte.
Isso é pq tu me fez um pouco triste. Pq me fizeste chorar.

eu te amo
nada nada vai fazer mudar essa presença incômoda de ti em mim... essa tua presença real e incômoda. Tu não é nada além do que te conheço

sim

eu, por não te conhecer, te conheço tão bem como tu não te conhece

sim, sei que sou arrogante e possivelmente equivocado

mas tu nunca passas despercebida

24.7.07

O refinamento do amor

Talvez a forma mais refinada de amor seja aquela em que não se quer mais nada.

20.7.07

Um dia de alegria!

Pois é, morreu o maior capitão donatário que o Brasil conheceu! Clique aqui.
:)

Nessas horas gostaria que, de fato, existisse o deus cristão para fuder com esse filho duma puta. Quem me dera (quando eu fosse pro inferno) ver esse merda pagando os pecados. Imagino as penas que o diabo lhe infligiria... sei lá, tipo, enchendo o bolso dele de notas de 1 real, fazendo ele comer nos bandejões do inferno hahahahahahaha...

tem um texto bacana no cmi: ACM - Uma Trajetória da Ânsia Humana pelo Poder, e na Carta Maior: Com ACM, morre o coronelismo?

bom, chega de divagação, o importante é que já foi tarde!

Blog descoberto por acaso

Tava tentando descobrir o significado duma palavra e acabei descobrindo o blog Egotismo. Bastante legal!

13.7.07

Texto sem sentido (definido)

Quem não sente que vive num mundo-fragmento? Me explico. Aquela sensação de ser um peixe fora d'água que, apesar dos amigos, famíla e conhecidos em geral, nos faz sentir deslocados a respeito do Mundo. Um mundo quase sem sentido, numa sensação de ilha sozinha no oceano. Talvez até tivesse um sentido se, ou me visse numa religião (com centro/sentido em deus-outro mundo), num partido (com centro/sentido na revolução) ou engajado no sistema (com centro/sentido no ter-parecer). Mas partindo desses três centros/sentidos, percebe-se que o mundo (enquanto sentido) é fruto de criação-imposição-recriação: os sentidos são (re)construídos e nos constroem na história. Nessa quase falta de sentido, o que resta é a construção de sentido, o que, convenhamos, não é nada fácil. Basta pensar na quantidade de niilistas na literatura desde, sei lá, fins do XIX, para se ter idéia de quantos não se atrevem ou não tem por onde, como ou porquê começar essa obra.
Nem sei o porquê de escrever isso. Sei lá, por que querer vidinha de professor de colégio público, ganhando pouco, vivendo cheio de bombas, com riscos sérios de agressões físicas? Por que não tentar me engajar no sistema, querer ganhar grana afú para levar uma vida in? Às vezes tenho quase uma certeza que vou me vender quando ficar mais velho. Isso que escrevo deve ser quase uma profecia. Mas muito bem baseada: quase todos se vendem ou acabam por se desiludir com algo - muitos mesmo caindo no niilismo.
E o que resta? Acho que só se agarrar aos princípios e viver uma vida em paz consigo. Viver uma vida em paz consigo por se agarrar aos princípios. Ética é uma palavra complicada. Normalmente está associada a algum imperativo, seja religioso ou filosófico. Deus manda ser bom... a Razão manda ser bom. Pro inferno com isso! E quem não acredita nem em deus e nem na razão? Por quê ser bom e reto? Por quê não ser egocêntrico, mesquinho e bem malvado - não é divertido estar por cima e pisar nos fracos?
Eís o grande risco de se tentar demolir com Deus ou com a Razão assim, à porra loca. Joga-se o bebê junto com a água do banho. Toda uma série de valores e práticas muito boas são colocadas como ruins porque associadas ao que se quer destruir, no caso, Deus ou a Razão. Não esqueçamos: quem jogou a ética e o bom de lado (sem necessariamente se desfazer de deus ou da razão) hoje não joga bomba em sociedades do Oriente Médio, não submete crianças à trabalho mega-explorador na China, não espanca trabalhadora pobre e negra em parada de ônibus? E mais ainda, quem não gostaria de, por exemplo, ao deixar cair o celular sem notar, ter alguém que pegue o objeto caído e o devolva com toda a gentileza, sem querer retribuição devolta?
Niet já deu uma boa orientação. A moral nobre não valoriza o útil, o benéfico, mas voloriza o que lhe é bom, o que acha belo, o que lhe faz sentir em paz e em regozijo consigo. Inclusive, o que é bom não é necessariamente associado com o útil. Devolver o celular de alguém sem pedir nada em troca não tem utilidade alguma, mas a sensação de ter feito a alguém o que gostaria que lhe fizessem é muito boa. E isso é o bom: tudo que acho bom para mim é o bom e é o que deve ser feito. Talvez quase por uma questão puramente estética, algo de curtir a ação. E não cometamos o erro de separar o sujeito da ação. Sujeito e ação são a mesma coisa.
Pois bem, posso não querer a crença de Jesus, mas nos evangelhos certamente existem ótimos indicativos de coisas nobres, assim como o há em Marx e Niet, por exemplo. A destruição porra-loca pode não passar de pura destruição. É só ação em negativo: coisa plebéia por excelência! A destruição positiva é não a destruição, mas construção: é uma construção que exige a destruição de algo. Isso é ação positiva.
O mundo hoje pode parecer não ter sentido, mas a preservação da vida é necessária para que a construção de sentido possa, quem sabe, ocorrer. Tudo pode parecer ruim, mal, hostil... mas quem garante o amanhã? Lembremos do que disse são Paulo: "Depois da tempestade vem a bonanza." Isso é o que chamo de imperativo de vida. A vida tem de ser mantida sem necessidade de explicações, quase como uma ordem. Deprimidos, angustiados, niilistas, desenganados do mundo: aguentem!, não joguem suas vidas fora por viver num mal momento. (sim eu sei, escrevo isso para mim mesmo para quando eu estiver mal).
Quando disse texto sem sentido, usei sentido no duplo sentido, de direção e de significado. Mas não que não tenha sentido, mas que não tem sentido (direção e significado) definido agora. É algo em curso ainda, meio sem saber por onde nem para qual lugar. É algo que vai. Quem sabe amanhã não terá algo mais definido?

6.7.07

Dilema: votar ou não votar?

Um dilema: votar ou não votar no pessoal do P-Sol?
Comecemos pelo começo. Detesto cada vez mais a forma boçal de boa parte dos comunistas que conheço. Evidentemente, alguns desses comunistas são pessoas por quem tenho bastante apreço, além de respeito pelas (boas) idéias. No entanto, a grande maioria é tomada pela arrogância insuportável do "visionário" que se acha no "dever" de conduzir os outros no bom caminho, revelando-lhes as verdades acessíveis somente por meio da cartilha do Partido. Quem nunca ouviu: "vamos juntar o proletariado e a pequena burguesia urbana no combate à burguesia para, assim, construir um mundo mais feliz", ou coisas do tipo?
Sua lógica política, inclusive, é mais insuportável ainda. Baseados num centralismo ferrenho, acreditam que a única forma racional de conduzir um movimento é a organização de uma cúpula dirigente que oriente as bases, as quais levantam a mão na hora da assembléia – o momento “democrático” por excelência – de forma a aprovar ou não o que foi definido de cima. E coitado de quem ouse duvidar dessa democracia! Se você não agüentar só levantar o braço para concordar/ discordar e se levantar para questionar a forma como as coisas estão sendo gestionadas, pronto!, você acaba de virar o mais novo fascista que deseja dividir a assembléia, um anti-democrata escancarado! O que eles desejam é mais ou menos o que Jesus deseja: que as ovelhas somente sigam o pastor. Nietzsche já havia alertado: entramos na época dos rebanhos!
Pois bem, apesar de tudo isso, o papel desses partidos socialistas/comunistas é fundamental. Já que o Estado é um espaço de confronto (e não um simples mecanismo monstruoso que cegamente serve à burguesia), a importância desses partidos é que são as únicas agremiações questionadoras do sistema que se dedicam a entrar nesse espaço, o que, por vezes, conseguem. São, talvez, umas das poucas vozes que contestam a voz da grande maioria da politicalha nas câmaras de vereadores e no Senado. Quantas conquistas na política não se devem ao Partido Comunista Brasileiro, ao Partido Comunista do Brasil e a outros mais?
Mas para entrar no Estado encontraram na lógica pastor-rebanho (lideranças-base) a melhor forma de angariar votos e adeptos... em política, em geral, é mais fácil arrebanhar pelo sentimento do que pela razão. Pois bem, justamente pela sua lógica sentimentalóide pastor-ovelhas é que acabam contribuindo muito para o não processo de formação da autonomia de diferentes indivíduos. Como alguém vai ter um pensamento mais independente se não somente só lê os marxistas, como acredita que qualquer coisa para além dos marxismos é cultura burguesa?
A questão é a seguinte: se voto nos socialistas, contribuo pra que grupos contestadores tomem os espaços institucionais próprios para constituição do País. No entanto, se votar neles, acabo contribuindo para uma lógica que não privilegia o ideal iluminista de esclarecimento individual, ao dedicarem-se esses partidos em conquistar corações por frases feitas e reivindicações clichês – necessidade própria da publicidade.
Pois é, e aí?

22.6.07

Tradição x Capital

Demarcação de terras de guaranis e tupiniquins segue parado na Funai. Aracruz, que perderia parte de sua área, propõe criação de 'reserva indígena' no lugar de 'terra indígena', o que impediria que demarcação seja ampliada no futuro.

A grande questão presente é se a cidadania e os direitos de comunidades tradicionais da nação (quero dizer, reconhecidos enquanto "brasileiros") é mais ou menos importante que a produção de capital de uma corporação que devasta o meio ambiente de onde quer que esteja.

19.6.07

O que não sou

Acédia (ou acídia) era um nome estúpido dado à sensibilidade de gente pouco acostumada - ou insensível - aos movimentos pendulares da vida. Duro, convicto, sempre satisfeito diante do acaso ou do futuro incerto, sensível como o sistema ocular de uma mosca. Assim era o cara completamente fechado em si mesmo, com o espírito fundido com os poucos que concedia confiança, que cerca de forma tranqüila e constante o espírito dos recém conhecidos. Tinha meia dúzia de idéias, sempre em mutação, sempre constantes e consistentes. Incapaz de afirmar sem antes elucubrar a idéia consigo mesmo - mas ainda assim com um certo incômodo. Ria alto das piadas pouco engraçadas de seus amigos. Trabalhava oito horas emburralhado, de má vontade, como se estivesse sendo estuprado; podia ser assaltado que não perderia a calma habitual: lhe roubariam só um objeto, não o seu tempo. Passava horas na frente do espelho. Amava a si mesmo como quem ama a última e única coisa que lhe resta - ele sabia que a vida era a última coisa que lhe restava. Sexo era pra ele impreterível. Boas ou ótimas companhias eram raras: conciliar sexo, amizade e racionalidade de relação é uma coisa difícil. Mais difícil era sentir necessidade que suas companhias durassem, pois todo tempo vivido era eterno enquanto durasse, pro resto da vida. Não iria perder a si mesmo por causa de ninguém e amava todo alguém lhe mostrasse o novo, o que o deixava em regozijos consigo mesmo.

18.6.07

Remédio para o capital e não para doenças

Caralho, meu!

Testes de novos remédios em países sub-desenevolvidos.

Não adianta! Por trás de qualquer marca bonita de publicidade sempre tem uma podrera para ser escondida!

12.6.07

Tragão de segunda-feira

Qual a melhor coisa do inverno?
-Enchê a cara e tomar banho de porta aberta!

11.6.07

Tem coisa pior que inverno?
-Sim, gente apaixonada!

6.6.07

Ocupação da Reitoria da UFRGS - Repúdio à política do DCE

Grande piada!

Há dias vêm aparecendo notícias de tomada de reitorias pelo Brasil, desde a iniciativa dos alunos da USP.

"E agora chegou a nossa vez!"

Chegou a nossa vez de receber a cartilha do DCE (Diretório Central dos Estudantes), soltar gritos de ordem contra a reitoria e a política do governo Lula e, por fim, arrancar os cartazes e ir pra casa!

VÃO SE FUDÊ!

Pra mim esse é um momento único para juntar os estudantes e conversar sobre a vida da universidade, conversar sobre a política educacional do governo, sobre a posição do movimento estudantil... enfim, um momento especial pra conversar sobre a reforma universitária (que porra é essa?), sobre as cotas para negros, sobre o fechamento do arquivo contra a ditadura pela vaca da Yedda.

Momento único pq há ali a sensação de que nós, não só como estudantes mas como cidadãos, somos capazes de nos mobilizar, de debater, de reivindicar e, tão importante quanto os outros, de bater pé!

Momento único para conhecer outros incomodados, que querem pensar a situação, descobrir - e inventar - formas de intervenção social SEM A NECESSIDADE DE REPRESENTAÇÃO, sem se atrelar a porra nenhuma de partido que quer enfiar uma cartilha na tua cabeça, evitar que tu te canse pensando e, principalmente, para tu servir como bucha de canhão, que nem orc em campanhas de RPG.

É uma pena que essa ocupação acabe só como teatrinho de futuros políticos para aparecer na TV, fazendo grau entre os do partido e angariando voto no futuro!

Mas não há dúvida: só por ter conhecido esse pessoal q não quer representação, ter conhecido a lógica de alguns grupos políticos (em especial pela dos filhos da puta do Movimento Estudantil Liberdade, a escória da extrema direita que entende que política se resume a porrada e aumentar para R$ 4,50 o valor do Restaurante Universitário), por toda essa pequena experiência, não há dúvidas que já foi um pouco bom!

1.6.07

Ocupação da USP, fascista?

Huuum!
A notícia tem, sem dúvida, a função intrínseca de desestabilização paralela à função de informar. Para tanto, não basta unicamente a descrição pura e simples do fato: é o arcabouço teórico do informante que vai classificar e significar o fato, relacionando este ao próprio entendimento do mundo.

O caso da ocupação da reitoria da USP, por exemplo. Pra mim é uma mobilização de extratos médios da sociedade na luta por uma instituição de ensino mais pública e útil à sociedade. Mas há posicionamentos bem... diferentes...
Veja o exemplo veiculado no Mídia sem Máscara:

Mais um exemplo do comportamento da gang comuno-fascista que seqüestrou a USP e é acobertada por parte da grande mídia

Gente burra precisa usar esses termos mega explicativos que não explicam nada, pra defender o que mal entendem mas crêem (como o religioso) definitivamente que entendem.

31.5.07

Padrão de ocultação

Resenha (quero dizer, excerto) do livro Padrões de Manipulação na Grande Impresa, de Perseu Abramo, aqui. Mesmo não comprando o livro, vale a pena ler o excerto escolhido.

30.5.07

Notícia

Quentinha!
Mesmo que a notícia não seja verdade, tenho certaza que não saímos dos primórdios da revolução industrial. Basta pensar nas multinacionais na Ásia.

Britânia usa força policial contra mulheres metalúrgicas na Bahia

25.5.07

O que os olhos não vêem, o coração não sente

Há alguns dias havia postado a notícia da liberação do milho trangênico.
Nossa postura mais comum é aquela "o que os olhos não vêem, o coração não sente"!
Não sei se fechar os olhos é o mais maduro a se fazer. Existem grupos (que não sabemos quem) estão tomando decisões que darão outro rumo a nossa vida, sem ao menos se preocupar com os riscos ou benefícios que nos trarão.
Veja o caso da denúncia da Profa. Dra. Lia Giraldo da Silva Augusto em relação ao CTNBio, a comissão que trata da liberação o milho da Bayer aqui.

22.5.07

Estéticas

Tem alguma coisa pior que nascer feio?
- Sim, nascer feio em com cara de tarado.

Versinho de amor

As coisas são como devem ser. E ponto final!

Mais do mesmo

Já diria o Renato Russo
"Pô, sempre mais do mesmo, não era isso que vc queria ouvir":

Polícia Militar de Minas Gerais age mais uma vez como capitão do mato

A sensação constante de que nada acontece pq não passa na Globo. Vinte anos assistindo tv dão a impressão q o mundo é o que passa no 12... e

18.5.07

A Globo e a defesa das minorias étnicas

Ah, não podia passar mais de duas semanas sem escrever mais um post para a Globo. Que delícia não deve ter sido assistir às reportagens sobre a malvada comunidade quilombola São Francisco do Paraguassu que corta ilegalmente madeira da mata Atlântica ... ainda bem que existem os grandes proprietários de terras para proteger a natureza - e expandir seus rebanhos de gado!

Mas a moralíssima Rede Globo, sempre do lado da justiça e igualdade social, esteve lá para denunciar ao Brasil as atrocidades cometidas pelos quilombolas...

Aqui, a defesa dos "réus": Nota pública da Comunidade Remanescente de Quilombo São Francisco do Paraguassu, Cachoreira, Bahia

17.5.07

Povos indigenas colombianos

A sensação de que tudo está meio parado no mundo é um perigo constante! Casa, facu, trabalho... no máximo a gente vê os mendigos e não vê muita grana na carteira. Parece, às vezes, que as represões contra grupos não dominantes, principalmente os "não-civilizados", estão restritos aos livros de história. Isso, infelizmente, é uma grande ilusão de ótica! Podemos, à princípio, não ter muito o que fazer, mas a vigília - pelo menos - deve ser constante!
Notícias da Colômbia:

http://www.dhcolombia.info/spip.php?article364

Nem precisa ler o que se encontra no endereço acima. Basta da uma banda na Rua da Praia ou ver instaladas nas margens das rodovías os grupos kaiganges e guaranis.
Amor é o tipo de coisa que a gente passa dizendo que não tem importância - o dia todo!

Transgênicos

É complicado! Um pedacinho de frango: muito hormônio; uma bolachinha recheada: vá gordura trans; vai comer um tomantinho: vá venono contra inseto... a lista é grande!
O que se sabe é que essas grandes corporações decidem o que vai ser a nossa refeição - e conseqüentemente o nosso organismo - sem ao menos apresentar o menu! A bolachinha de hoje, o câncer de amanhã!

Mas não para por aí:

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/382133.shtml

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/382147.shtml

Além da soja transgênica, tem agora o milho transgênico da Bayer.

Bom apetite!

16.5.07

ESPORTE & MAGIA

Manchete: PAPA GREMISTA BOICOTA SANTO DA CAPITAL PAULISTA

Durante vôo para o Brasil, na última quarta-feira, o Papa Bento XVI (“xis”, “vê” “iii”) afirmou a nossa reportagem sua admiração pelo tricolor gaúcho (ucho, ucho). Quando perguntado se torceria por São Paulo contra o Grêmio Foot-ball Porto Alegrente foi categórico: __ “Respeito muito [pausa para respiração] o São Paulo, [pausa para vírgula e respiração] mas na teologia da libertadores rezarei pelo Grêmio”. O Pontífice, universitário e católico reafirmou ainda seu apoio ao tricolor gaúchouchoucho em encontro com o Presidente Lula, ao negar interceder ao São Jorge em favor do Corinthians. Mesmo sendo informado que a Gaviões (que é Fiel) lotará o estádio Pacaembu (que tem nome Tupi Guarani e, portanto não possui alma) para recepcioná-lo, nesta quinta-feira.
Dando prosseguimento a sua agenda, Sua Santidade pretende assistir hoje na Baixada Santista ao espetáculo entre Santos e Caracas. Na ocasião, Bento XVI (“xis”, “vê” “iii”) irá estar ao lado de todos os Santos, apesar da herética postura de Vanderlei Luxemburgo – freqüentador de manicures e divorciado. Mesmo com todas essas contradições o Papa entende que não pode jamais estar ao lado do Caracas, pois a equipe venezuelana joga no esquema conhecido como chavismo, onde todos atacam ao mesmo tempo com ou sem a posse de bola. O que é típico de equipes que possuem em seu plantel (também) atletas da escola boliviana de Morales.
Finalmente, ainda merece destaque a vinda do Pontífice, universitário e católico ao Rio Grande do Sul. Com passagem rápida em solo gaúchouchoucho, apenas uma atividade está programada: a presença do Papa no show de retorno aos palcos da Camisa de Vênus. Atividade programada para maio e que marca o retorno da banda ao cenário do show business e as discussões sobre a sexualidade do brasileiro. Os roqueiros baianos prometem executar seus maiores clássicos, entre os quais merecem destaque: Silvia (mais conhecida como “Silvia Piranha”), Bota Pra Fuder e Punheta. Ao saber da inclusão destas canções no repertório Sua Santidade vibrou!

Por Leandro Balejos Pereira
Da Redenção
Porto Alegre, um dia após o Grêmio ter eliminado o São Paulo da Libertadores 2007.

15.5.07

Ocupação da USP

O que me agrada na história são os confllitos de vontades divergentes. Nada de "nós queremos igualdade entre os homens" mas "nós vamos fazer isso pq isso é o que nós achamos bom!"

(Sei que sou um cara atrasado quanto a notícias, mas antes tarde do que nunca)

http://www3.atarde.com.br/brasil/interna.jsp?xsl=noticia.xsl&xml=NOTICIA/2007/05/15/1076372.xml

http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2007/05/381924.shtml

Jaulas?

Um casal de pombinhos a andar de mãos dadas: vontade de ficar junto ou vontade de manter o outro preso por medo de fuga?

"I'm gonna break
I'm gonna break my
I'm gonna break my rusty cage
and run"
(Soundgarden, Rusty Cage)

10.5.07

De boca cheia

Apontamento de um jovem – e apaixonado – filósofo numa manhã tempestuosa de aula:
"Princesa fada furacão. Régia leve devastadora – parece estar além da ‘possibilidade de qualquer mortal tocá-la.
‘Filósofa, só podia ser filósofa. Traços leves arianos determinados de alguém que ‘vê sente expressa tudo com a sensibilidade da alma.
‘Loira de uns olhos roubados do céu
‘Alva, hálito fresco – o senti uma vez quando passou perto de mim
‘Pura, virginal... de um sexo explosivo, depois de se quebrar a castidade
‘Casta... dedicada ao grande amor – fiél"

Embalos de sexta-funk à noite:
Depois de dançar alucinadamente, a loira, num canto escuro, enche sua boca com o esperma de um desconhecido qualquer, muito mais interessante que Kant ou Sartre.

4.5.07

Bob Esponja e o Dia do Trabalhador

A última terça-feira foi o dia do trabalhador, dia idealmente pensado para lembrar as conquistas dos diferentes grupos de trabalhadores ao longo da nossa história, com suas greves e reivindicações, além de ser um momento para se pensar sua situação atual.
A Rede Globo, como todos sabemos, adota uma postura bastante diferente, mostrando que, ao contrário de outros – conturbados – lugares do mundo, aqui no Brasil só tem show e festa no primeiro de maio. No entanto, mesmo precavido, não esperava que pegassem tão baixo, literalmente, na sua programação, como a seguir me explicarei.
No programa da Puta Menegel, digo, da Xuxa, a Putinha dos Baixinhos, passou um episódio para mim inédito do Bob Esponja Calça Quadrada. “Legal!”, pensei comigo.
Era um episódio em que o protagonista devia tirar férias de seu emprego, se não acarretaria multa ao Siri Cascudo, dono do estabelecimento de fast food onde o Esponja trabalha. Para quem não sabe, esse bicho amarelo é um alucinado por trabalho, dedicando-se habil e apaixonadamente à tarefa de preparar hambúrgueres. Seu prazer é a chapa e a gordura saturada, como ele mesmo diz, com um salário pior que o meu (sim, isso é possível e bastante comum), sem tirar descanso algum. Com o acúmulo das férias, o Esponja teve que tirar férias forçadas (!?), o que o levou a inventar mil artifícios para voltar à chapa (!?!?!).
Não sei quais serão as possíveis leituras dos muitos e pequenos telespectadores, mas me impressiona a sagacidade da companhia Roberto Marinho em tentar manipular os imaginários sociais – desde a infância!
Quando disseram que o Calça Quadrada era gay, nem dei bola, já que é questão de decisão puramente individual, em que ninguém tem nada a ver. Mas depois desse primeiro de maio, esse bicho entrou na minha lista negra. Isso não cheira a uma intenção de agenciar desde os primeiros anos os valores capitalistas de trabalho super-produtivo, de submissão decidida (quero dizer, feliz submissão), de ordem não-caótica (quero dizer, não-criativa)?
Alguém pode dizer: “Lu, isso é coisa da tua cabeça! É mania de perseguição!”. Sim, sei que sou meio paranóico, mas acho pior (ou pelo menos tão ruim quanto) tomar uma postura ingênua e acreditar que tudo é inocente ou sem intenção. Desconfiança, antes de tudo! Até pode ser que os autores do desenho não tivessem intenção alguma, mas o que sei é que aquele capítulo defende explicitamente o comportamento ideal esperado de um operário qualquer!
Os criadores até podem ser bem intencionados, ou nem mesmo ter pensado nisso, só que não dá para esquecer que eles têm contratos multi-milionários com as grandes emissoras de tv, estas com audiência mundial. Não da pra esquecer também que essas mesmas emissoras servem a que tem Dinheiro. E quem tem Dinheiro? (quando digo Dinheiro, com maiúscula, me refiro àquela quantia que só meia dúzia de privilegiados consegue imaginar – ou ter).
Posso até imaginar os cursos internos de aperfeiçoamento do Zaffari passando os desenhos do Bob Esponja Calça Quadrada...

24.4.07

Conclusão depois de um longo processo

A solução de um erro por vezes se dá por meio de outro equívoco; e o que era solução pode virar um novo tormento.

Ironias

Tenho a impressão que Nietzsche é o filósofo mais vulgarizado de todos os tempos - qualquer merda faz citações dele. Ironias do destino!

17.4.07

AdR recomenda

Sensacional!
Um blog muito guasca descoberto por ai!

http://tironocu.zip.net/

10.4.07

"Que droga, uma geração inteira enchendo tanques, servindo mesas. Escravos de colarinho branco. A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis. Somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não temos uma Guerra Mundial. Não temos a Grande Depressão. Nossa Guerra é a espiritual. Nossa Depressão, são nossas vidas. Fomos criados atravéz da tv, para acreditar que um dia seríamos milinários, deuses do cinema e astros de rock. Mas não somos. Aos poucos tomamos consciência do fato. E estamos muito, muito putos!" (Tyler Durden, Clube da Luta)

4.4.07

Um conto azedo

Há uma intencionalidade bastante marcada quando pede a seu assistente trazer amostras, relatórios e coisas afins. Trabalham ambos no mesmo laboratório, num projeto sobre fungos em latas de conserva, mas ficam em salas separadas. O imperativo de ver o rapaz faz com que ocupe parte de seu tempo em bolar subterfúgios para trazê-lo para perto de si.

Ele é um rapaz amável, sempre bem disposto e bem humorado. Todo seu jeito tem um quê de simples e, ao mesmo tempo, muito consistente. Seu espírito crítico não torna sua voz pretensiosa quando emite julgamentos. Além de tudo, um belo rosto num belo corpo. Inteligente, gracioso e um rosto angelical.


Ela já estava apaixonada pela cativante figura do rapaz. Nunca se deu a grandes amores na vida, mas havia nela uma tendência enorme a se entregar amorosamente a algumas pessoas no plano das idéias. Sim, era uma platônica. Uma platônica de seus trinta e três anos e um corpinho bem conservado.


Decidiu que tomaria uma resolução o quanto antes. Decidiu também esperar o melhor momento. Mas já era a enésima vez a tomar a mesma decisão a respeito de seu assistente. Não passava além do ponto das deliciosas conversa que tivera com o rapaz. Nada além disso.


Apreciava seu rosto como quem contempla um quadro. Não sabia explicar - muito menos entender - a singularidade dessa obra artística. Olhos grandes, de uma cor indefinível, num rosto largo, bem medido, com uma boca ligeiramente larga e carnuda. Estática, contemplava, sem entender, como podiam as imperfeições deixar o todo mais irresistível ainda. A pequena cicatriz no canto esquerdo da boca - decorrente de uma briga -, os lados do nariz levemente disformes e mesmo a pequena verruga na maçã esquerda do rosto, a direita do olho esquerdo... não sabia como, mas o rosto que há quatro meses achará tão estranho, hoje possui um caráter único. É, para ela, a beleza em si.


Às vezes se condenava pelo prazer sentido pela beleza. Não seria sua paixão mais atração física do que amor propriamente dito?, pensava consigo. Bem, todo amor também é atração física. Talvez não haja como - e porquê - separar. Mas, e se por acaso - Deus o livre - acontecer de o pobre rapaz ser desfigurado por uma infelicidade do destino? Que viria a sentir se aquela bela tela tomasse um banho de tinta nanquim? Sabia, sentia consigo, que permaneceria completamente devota... sentia, lá no fundinho de sua (in)consciência, uma vontade - Deus o livre - de que isso acontecesse ao rapaz, para assim poder provar seu devotamento: "Não pensa besteira, sua egoísta!", repreendia-se.

A angústia e a felicidade, para ela, provêm do mesmo objeto. A perspectiva de felicidade é, ao mesmo tempo, o vazio do que não está junto. Pode haver felicidade em amar alguém?, perguntava para si mesma. E tudo permanecia sempre o mesmo... aparentemente.

Num belo dia de descuido, um frasco de ácido nítrico indevidamente colocado no alto de uma estante, resvala, cai e se espatifa na quina da estante vizinha, bem no nível da cabeça da pesquisadora. Infelicidade do destino! Tomou um banho ácido, principalmente na face, sendo prontamente atendida.

No hospital, com o rosto coberto por bandanas, recebeu a visita de muitos amigos, inclusive de seu caro amado. Conversa vai, conversa vem, o assistente é interrompido pelo seu celular. Apesar de ter tomado alguma distância, foi audível para a pesquisadora a seguinte resposta: "Certo Ritinha, tô indo pra'í, já. Tchau amorê!". Conversaram os dois biólogos mais um pouco. A ternura e o espírito de pena do assistente não disfarçavam sua própria felicidade, diferente dela, a qual com seu ar tranqüilo conseguia mascarar a ácidez que tomava conta de sua alma.

Essa foi a primeira das três visitas do assistente, no período de um mês e meio, tempo em que a pesquisadora passou internada no hospital.

23.3.07

Força

A primeira qualidade de um homem forte não é a capacidade de causar grandes impactos, mas a de saber resistí-los.

A sorte do homem

"Nada perturba tanto o espírito como curvar-se ao peso do ignoto. O homem é o paciente dos acontecimentos. A vida é um perpétuo sucesso, imposto ao homem. O homem não sabe de que lado virá a brusca descida do acaso. As catástrofes e as felicidades entram e saem como personagens inesperadas. Têm a sua fé, a sua órbita, a sua gravitação fora do homem. A virtude não traz a felicidade, o crime não traz a desgraça; a consciência tem uma lógica, a sorte tem outra; nenhuma coincidência. Nada pode ser previsto. Vivemos de atropelo. A consciência é a linha reta,a vida é o turbilhão. O turbilhão atira à cabeça do homem caos negros e céus azuis. A sorte não tem a arte da transição. Às vezes a vida anda tão depressa que o homem mal distingue o intervalo de uma peripécia a outra e o laço de ontem a hoje." (Vitor Hugo, Os Trabalhadores do Mar, Abril Cultural, 1971, p. 366s.)

9.3.07

Idealismo

Silicone, sutiã de enchimento, D'Matos: instrumentos do pensamento idealista.

Há difundido um certo modelo de mulher na nossa sociedade, um modelo de certa forma imperativo. Se não se enquadrar nele, corre-se o perigo de cair fora do jogo.

A sorte é que empresas de diferentes ramos estão sempre prontas a oferecer a suas clientes os meios para se preencher os requisitos dos modelos: é a indústria de máscaras.

A mulher de verdade fica escondida, em algum canto, oferecendo pano aos olhos do sexo masculino... ou do feminino?

Vamos quase todos atras de imagens, nem imaginando o que são as relações mais "reais"... pode-se levar vinte gurias pra cama, mas quantas se conheceu a pessoa atras da máscara? (bom, isso é indiferente prum hard que se preze...)

Dois mundos a sete metros de distância

Cena 1: Andava com a respiração ofegante, coração descompassado, ao cruzar o pouco iluminado espaço entre a parada de ônibus e sua casa. Os passos que ouvia atrás de si eram sentidos como o provocamento do gato que caça o rato. Não havia fuga! Seria pego! O frio na barriga, a pressão no peito!!!! Mais um pouco perderia o controle e sairia correndo desvairado!

Cena 2: Estava cansado. Dia complicado na oficina. Já sentia o calor da casa aí onde se encontrava, numa rua escura, com um maluco de passo acelerado na sua frente. Poderia ficar acordado até mais tarde com sua nega, pois no dia seguinte deveria chegar duas horas mais tarde no serviço que o normal. Gostava de onde morava, nada de muito movimento, bom para descansar.

2.3.07

interesses

Há certas ocasiões em que um excessivo bom tratamento com desconhecidos pode ter por trás um interesse. Aquele atendimento gentil e afável dos vendedores se aproxima ao d(a/o) moç(a/o) ao conhecer um(a) bel(o/a) moç(o/a): ambos podem procurar um bem muito desejado - num, o dinheiro; noutro, a beleza.
Há algum mal nisso?

23.2.07

Auto-ajuda

Minha intenção ao escrever o último texto não foi de criar uma nova meta-narrativa, explicar o mundo todo num textinho e sair roubando pirulito de criança pela rua (se bem que não deixa de ser uma boa idéia...)
Não foi também um texto escrito por um aristocrata, que tem prazer em mostrar força desmedida, pisar no fraco, dar mostras excessivas de poder e cobrar as taxas de ban.

É só ler os últimos textos e vai se ver que, pelo contrário, é o texto de um fudido na vida... um alguém que ouve looser manos, digo, Los Hermanos, e passa por cada história que são duas...

Não e não! Não vejo nessas odisséias, esses momentos difíceis, prazer algum. O único prazer que pode haver é o prazer em sofrer - o que é coisa lamentável, diga-se de passagem. O que dá prazer são, na real, as pequenas coisas do dia-a-dia: ir trabalhar, facu, ler, correr, beijo, escrever, sessão da tarde: coisas de um nerd qualquer. O único prazer que os momentos difíceis podem proporcionar são as pequenas conquistas interiores, as pequenas conclusões, as pequenas descobertas, decorrentes de se ter superado tal momento (aparentemente) hostil.

Falo - e vivo falando - dessas coisas difíceis, um tanto duras, não por prazer, mas por necessidade. Pensar o que se passa, ver onde tudo começa, ter um pouco de sinceridade, visualizar de pouco em pouco uma certa auto-superação... uma luz em meio as brumas das 6 horas da manhã de um dia de inverno - nem que seja farol de carro!

Se chamei de Conquista aquele texto, não é pq a finalidade da vida seja vencer, subjugar, ser glorioso. Muito menos quis dizer o que a vida é. Escrevi o texto por pensar ser imperativo enfrentar a nós mesmos nos nossos pequenos e grandes tormentos. É uma batalha que se direciona não para fora, mas para dentro.

Escrevi aquele texto não para "abrir a mente" das pessoas, mas para convencer o meu eu de 14/15 anos, aquele menino sem noção, sem medida, muito religioso e muito apaixonado - um idealista, acima de tudo. Não quero convencer ninguém que deus não existe, que não há bondade nos corações humanos. Meu objetivo único era (me) avisar que tudo tem muita chance a dar errado; nada é certo; uma coisa muito firme, estável, pode evaporar sem se perceber. Nada começa absolutamente bom e perfeito. Tudo que se considera concluído, bom, perfeito, é fruto de trabalho, estudo, suor, erro, cagada, fracasso e muita persistência (e até, às vezes um pouquino de esperança, uma certa convicção interna, tipo sexto sentido). As coisas não são naturalmente ordenados, mas caóticas; de pouco em pouco, com aquelas hostilidades reais ou imaginárias, do dia-a-dia, aprendendo com a tradição, com os outros e com os próprios erros, aprendemos a ordenar as coisas um pouco melhor. A ordem é uma construção. Tudo se conquista de pouco em pouco. Inclusive pode mesmo ocorrer que quando menos se percebe, podemos perder até aquilo que julgavamos ter, como já bem disse o cabeludo dos evangelhos.

Se fosse catalogar aquele texto, não o colocaria como

Filosofia: Metafísica. Ética.

Mas como:

Psicologia aplicada: Auto-ajuda.

21.2.07

A lenta flecha da beleza

A mais nobre espécie de beleza é aquela que não arrebata de vez, que não se vale de assaltos tempestuosos e embriagantes (uma beleza assim desperta facilmente o nojo), mas que lentamente se infiltra, que levamos conosco quase sem perceber e deparamos novamente num sonho, e que afinal, após ter longamente ocupado um lugar modesto em nosso coração, se apodera completamente de nós, enchendo-nos os olhos de lágrimas e o coração de ânsias. (Nietzsche, Humano demasiado humano, aforismo 149, Cia. do Bolso, 2005)

7.2.07

Conquista

Esperar que sejamos felizes; a decepção frente e a desistência da vontade de vida depois de algumas derrotas; achar indigno se dar mal na vida; o medo da dor; achar que as coisas deviam ser melhores: esses são alguns dos pontos de partida do pensamento infantil e metafísico. Ele só tem validade se de fato houvesse uma força criadora sobrenatural que determinasse q a vida tinha de ser um "doce". Mas nem mesmo o deus cristão promete isso, na medida em q afirma que os fudidos na vida devem esperara a justiça do/no céu.

O que sei é que nosso planetinha saiu de um monte de "revoluções". Aquele tal de big-ban; aquelas locuras de junção de lixo espacial que girando geraram o sol; certas explosões no sol que "o levaram" a cuspir os planetas hoje existentes, a passagem bilhões de anos até haver o resfriamento da terra e poder surgir a vida; a sobrevivência de algumas espécies, que depois de muito tempo permitiu o surgimento dos primeiros homos; o desenvolvimento do homo sapiens e sua supremacia sobre a natureza depois de cem mil anos; nas comunidades humanas a sobrevivência se dá pela superação de outras comunidades que visam os mesmos recursos primários; a luta contra seis milhões de espermatozóides pra chegar até o ovário.

Nisso acabo vendo a (minha) verdade sobre a vida: "a vida não é de brincadeira, amigo", como já diria o poeta e eu repito pela enésima vez. Luta, conflito, instinto de sobrevivência, vontade de poder: "crueldade!" na nossa concepção burguesa e cristã de pensar...

Mas sou sincero, fiquei chocado com as cenas verdadeiramente humanas de caça e subjugamento do filme do Gibson, Apocalipto. Só o mais infantil não pode reconhecer que a crueldade é humana, demasiadamente humana.

E se o mundo não seguisse sua linha caótica, hoje não estariamos aqui. Somos todos nós filhos do caos que permitiu nosso nascimento, e é a partir desse caos que devemos organizar nossa vida. Achar "se não estiver feliz, não quero viver" é coisa bem de quem não tem um mínimo de noção histórica. Agora, dizer "eu quero ser feliz e vou fazer todo possível para isso, apesar dos pesares", já é coisa bem distinta, bastante nobre - e por isso mesmo bastante imoral.

Arrisco o sentido da vida: conquistar o que se tem vontade! uso conquistar, e não conseguir, justamente para expressar que o meio para se conseguir o que se quer passa pela guerra contra algo ou alguém, logo, Conquista!
(Inclusive, esse alguém contra quem se vai lutar somos nós mesmo. Nós, os medrosos, que o digamos!)

Percepção

Uma verdade da percepção: aos iguais se ama, aos grandes se adora e aos pequenos se pisa. E não esquecer: a percepção do outro nunca é objetiva, é sempre determinada pelo nosso olhar, num dado contexto e num dado campo da vida social. (A amada de hj pode ser o pé no saco de amanhã. O mendigo desprezível de ontem pode ser seu pesadelo amanhã).
Talvez por essa potencialidade de cada ser de virar a mesa do nada, cada forma de vida merece certo respeito, ao menos por precaução.