26.4.11

Aproveita o dia!

Ele estava com a cabeça escorada no colo de sua amiga. Levemente inclinada. Sentiu, de súbito, um baque grave. Não se mexeu, mas sentiu o impacto. Devido à grande quantidade de pessoas que passavam, não se sabe de onde veio a pedra arredondada que feriu o pescoço. Quase na parte traseira.

Seus amigos, depois de um breve silêncio, exclamaram vivamente e aproximaram-se dele. A coisa parece ter sido feia. Inchou. Pediram para que não movesse a cabeça, por motivo algum; e que aceitasse ser levado ao hospital. O rapaz negou o preocupado convite dos amigos. Preferiu continuar por ali, naquele campo, naquele gramado, a gozar do sol e da companhia.

Seguiram a esta cena situações cômicas. As pessoas olhavam curiosas para aquele indivíduo que passeava de cabeça inclinada. Ele bebeu seu chimarrão; conversou; tomou um sorvete. E a porra do pescoço doía. Mas o rapaz não dava bola, pois tinha tudo que precisava.

Os amigos foram enfáticos para que mantivesse a cabeça quase sobre o ombro; passaram a tarde a pedir para que fossem ao hospital, localizado ali perto. Continuaram ignorados pelo companheiro, apesar de este continuar com o estorvo.

À noite, o moço do pescoço torto foi para a casa da amiga. O dolorido e o mau-jeito não impediram que se deitasse e tivesse uma noite bastante gozada. Ao fim dos últimos minutos do dia, já cansado, quase a dormir, incomodado pela dor, decidiu endireitar a cabeça. Depois de um movimento fácil mas descuidado e um breve estalo, fechou os olhos de maneira profunda. Para nunca mais abri-los.