31.8.10

Resposta ao GG (por falta de espaço no orkut)

Meu velho, acho que há uns desentendimentos na nossa conversa.


Quando eu disse que o voto nulo é a única forma institucional de demonstração de insatisfação, não quis dizer que era a única forma de expressão de insatisfação, muito menos o único meio de atuação política. Para protestar contra um governo, eu poderia partir para o panfletaço, para o discurso em praça público. Evidentemente que o ideal é que a atuação política quotidiana esteja relacionada com as eleições. Mas, das diferentes formas de atuação política, a única que orienta a organização do corpo do Estado é o ato de votar. Por isso falo em forma institucional. Mas eu concordo plenamente com a tua observação: a práxis (conceito, no meu entender, vigoroso e pertinente) política nacional é uma catástrofe (por sinal, não me eximo de responsabilidade).


Sobre meus gostos relativos aos partidos políticos, há dois pontos. 1 – as propostas do PSDB, DEM e PMDB e o tipo de gente que participa desses partidos não me agradam. Podem elogiar a Yeda por ter sanado as finanças do Estado, mas isso se fez a custa de fechamento de laboratórios e bibliotecas nas escolas públicas. 2 – sobre os partidos de esquerda, como o PT e o P-SOL, o problema é outro. Tu conheces muito bem a forma de organização deles: de um lado a base que “panfleteia” e discute sobre a revolução e de outro a cúpula que decide sobre as diretrizes do partido. Os casos mais graves são um bom exemplo: a cisão entre o PT e aquela galera que fundou o P-SOL; o recebimento por parte da Luciana Genro de grana da GERDAU. Há outro aspecto importante e que tu também deves detestar. Uma parte significativa dessa galera de partido se acha a parte mais refinada da intelectualidade, como que verdadeiros homens emancipados responsáveis pela desalienação das massas. Tu sabes do que eu estou falando, né?


Eu não sou contra a participação política em partido. Não sou contra o sistema democrático brasileiro. O que me incomoda é a forma como a engrenagem funciona. A impressão que eu tenho é que a participação no sistema exige a corrupção e o uso da política baixa. Quando falo em política baixa lembro-me de políticos que vão fazer promessas em vilas pobres e de militantes que arregimentam bixos para eleições no DCE. São por esses motivos que prefiro me abster de votar. O voto nulo, nesse sentido, é uma afirmação de que não concordo com isso.


Eu sou a favor, sim, de que as eleições se tornem livres, opcionais. Aí aconteceria quase que o mesmo que normalmente acontece nas eleições do DCE. Como no último ano, bem menos da metade dos estudantes votou (1/4 do total?) e o grupo que saiu vencedor hoje se considera legítimo representante dos estudantes. Essa é a questão: que tipo de governo racional pode se considerar legítimo quando recebeu votos de metade de menos da metade do público votante (quero dizer, menos de um quarto)? Se esse é o caso do DCE e se isso não gera grandes empecilhos a sua atuação, acredito que o mesmo não aconteceria em âmbito federal. Isso, no meu entender, colocaria um pedregulho enorme no sapado da classe política. Seria a "assinatura em baixo" da crise política de que tanto se fala.


Reitero: não sou contra o sistema democrático, apenas acredito que a obrigação da votação é o meio pelo qual o sistema político se legitima. Posso estar severamente enganado, mas eu acho que o voto nulo, enquanto expressão de descontentamento, é um meio de atuação política, sim. Quero dizer, eu tenho os meus porquês, por piores e mal calculados que sejam. E, quando os publico no meu blog, é justamente para isso, para pô-los a prova. Para que as pessoas digam se concordam ou não. Assim sendo, te agradeço a generosidade de duvidar de mim e se pôr a escrever (mas eu sei que tu só faz isso pra agradar teu ego ;).

27.8.10

Voto nulo

Há gente que vive a reclamar da política no País. E, quando chegam as eleições, sempre vota. Essa situação é muito contraditória. Se o voto é o instrumento de legitimação das instituições políticas e se o sujeito considera o Estado corrupto, então, por que vota?

Umas das maiores quase-certezas que tenho é a seguinte: o voto no Brasil é obrigatório porque, se não o fosse, a mor parte da população não iria votar. Assim sendo, acho que a melhor forma para pressionar a corja é assustá-la com um alto nível de votos nulos. Aí, quem sabe, a coisa toda fosse menos escrachada.

22.8.10

Hoje eu tô de bermudinha, sem camisa. De saco cheio de calças e casacos. Por mim, ficava só de cueca. Mas os pudores me impedem. Tomara que não falte muito para a primavera.

14.8.10

Ismos imperiais

Fascismo, comunismo, socialismo, liberalismo e até mesmo o anarquismo são tendências políticas que, apesar de muito diferentes entre si, apresentam uma linha que as une. Todas elas pretendem implementar um sistema único de organização da sociedade. (Se preferirem, talvez o anarquismo não se encaixe neste perfil.) Seus principais intelectuais são vistos como profetas e seus defensores menos inteligentes (e por vezes até os mais inteligentes) agem como verdadeiros apóstolos. O maniqueísmo é um elemento discursivo central: se a minha fé pode garantir o bem-estar da população e o progresso (palavra-chave), o diferente é sempre o outro opressor e ganancioso. A implementação do sistema ideal na sociedade deve ser total - deve compreender a tudo e a todos. Dois bons exemplos, um socialista e outro liberal: as fazendas coletivas stalinistas e a implementação da propriedade privada sobre a terra na Inglaterra e na Índia, levadas a cabo pela Inglaterra. Em sentido inverso, estas duas políticas, opostas por natureza, implementaram de cima para baixo um sistema de organização fundiário que desestruturou as formas tradicionais de acesso e uso da terra. Evidentemente, foram processos muito diferentes, com premissas e resultados igualmente diferentes. Mas a perspectiva é a mesma: a estrutura econômica e social foi reorganizada de acordo com as diretrizes ideológicas de quem detinha o poder. Nesse sentido, parece-me que os ismos só podem ter sucesso quando se sobrepõem aos demais e os aniquilam. Os ismos são expansionistas por natureza e guiados por uma meta imperialista. Dito isto, pergunto: quais as diferenças de formato e de método entre o dce de esquerda e o dce liberal? Ao que me parece, a partir dos fatos de conhecimento comum, se existem, talvez sejam poucas. E insignificantes.